O novo capítulo do quadro do TecMundo sobre a história da tecnologia não vai tão fundo no passado, mas nem por isso é menos importante. Desta vez, vamos falar sobre a Netflix!
Muita gente hoje não consegue viver sem o serviço de streaming, cancelou a TV a cabo por causa dela e faz maratonas sem parar de filmes e séries. Mas você sabe como ela começou — e até quem ficou bem perto de comprá-la, mas não conseguiu? A seguir, conheça toda a trajetória do passado e do presente da Netflix.
A dupla dinâmica
A Netflix foi fundada em Scotts Valley, California, no ano de 1997. Os dois responsáveis pelo serviço foram Reed Hastings e Marc Randolph.
Reed Hastings
Hastings nasceu em Boston, tem formação em Matemática e mestrado em inteligência artificial em Stanford. Em 1991, ele ajuda a fundar uma companhia chamada Pure Software, que cria um depurador de sucesso para Unix. Cinco anos depois, a empresa é vendida e Hastings foca em novos projetos.
Marc Randolph
Já Randolph tem especialização em publicidade e vendas. Ele começou trabalhando na MicroWarehouse, que vendia PCs e acessórios por correspondência. Depois, foi para uma startup comprada por Hastings e se tornou vice-presidente de marketing por lá.
Muito antes das maratonas
Reza a lenda que tudo começou quando Hastings ficou inconformado de ter que pagar 40 dólares de multa em uma locadora por devolver um filme atrasado – só que essa história na verdade é falsa. Contudo, situações desse tipo eram bem comuns na época e explicam bem o sucesso da Netflix no futuro, o que será contado direto a seguir.
O primeiro CEO foi Randolph, que queria porque queria um modelo de entregas pela internet e eles pensaram em comercializar fitas VHS, mas isso era caro e frágil.
Eles resolvem então testar o DVD, um formato de mídia em disco que estava começando nos Estados Unidos. O serviço começa a funcionar em abril de 1998 de uma forma peculiar: você acessava o site, encomendava filmes por lá e os DVDs eram entregues em sua casa. Terminou de assistir e acabou o prazo? O funcionário passa de novo na sua porta, pega os filmes e já pode aproveitar e deixar os próximos. O pagamento era feito por título locado.
O modelo de assinatura mensal veio em 1999 e foi ele que deixou a Netflix famosa. Você paga uma taxa fixa, pega e vê quantos filmes quiser e não precisa se preocupar com qualquer outra taxa, tipo o atraso na locadora.
Quase negociada duas vezes
No começo da vida, a Netflix quase foi vendida duas vezes. Em 98, a dupla fundadora se encontrou com o CEO da Amazon, Jeff Bezos, e ouviu uma proposta de compra de 12 milhões de dólares. Ela foi recusada e, hoje, a Amazon é uma das grandes rivais da Netflix no streaming.
A segunda é a mais inacreditável. Em 2000, a Netflix se oferece para ser comprada pela Blockbuster, que era líder absoluta no mercado de videolocadoras. O valor? Cinquenta milhões de dólares, pouco para o serviço de streaming hoje em dia, e uma fortuna que a Blockbuster já não arrecada.
Na época, a rede de vídeo tinha em mente que o mercado online era um nicho e a própria Netflix não estava rendendo tanto dinheiro, então realmente não parecia valer a pena. O problema é que um pouco de visão de mercado talvez levasse a compra a acontecer.
Novos rumos
No mesmo ano, ela muda de logo e adota o formato em fundo vermelho que a gente conhece até hoje. Olha como ele era antes:
E tem mudança também na cadeira de CEO. Randolph sai em 2002 e deixa o cargo com Hastings. Ele já disse em entrevistas que gostava mais da fase startup da empresa e que o colega é o grande responsável pelo sucesso da plataforma. Hoje, Randolph trabalha com investimentos e na formação de novos empreendedores, além de ter cofundado uma empresa de software de análise de dados.
Nesse mesmo ano e agora decidida a ser independente, a Netflix inicia a oferta pública de ações. No ano seguinte e embalada pelos investimentos, ela chega a 1 milhão de assinantes.
Aí a gente viaja um pouco no tempo e vai para 2007, quando o modelo de streaming em vídeo é apresentado. Naquela época, ela também atinge a marca de 1 bilhão de DVDs alugados, mas os discos estavam começando a ficar para trás.
Aí, naquele ano, acontece uma coisa curiosa que pouca gente sabe. A Netflix anuncia um concurso para premiar com 1 milhão de dólares a equipe que desenvolvesse o melhor algoritmo de recomendação de conteúdo para os assinantes.
Os vencedores foram os cientistas da BellKor's Pragmatic Chaos, uma mistura da AT&T com um laboratório da Áustria. O algoritmo deles melhorava o da Netflix em pouco mais de 10%, mas, no fim das contas, nem foi implementado! É que o concurso foi em 2009, a implementação seria muito cara em termos de engenharia e o foco em streaming mudava quase tudo nos estudos.
Domínio global
A Netflix entrou na década seguinte a toda velocidade. Em 2010, ela estreia no primeiro país fora dos Estados Unidos, indo para o Canadá. Hoje em dia, para você ter uma ideia, são mais de 190 países com o serviço disponível. Até hoje é difícil conseguir a aprovação do governo na China, enquanto as regiões de Coreia do Norte, Siria e Crimeia sofrem restrições do próprio governo norte-americano.
Em 2008, um susto: a empresa sofre problemas técnicos no banco de dados e fica três dias sem enviar DVDs para os assinantes. O baque foi grande e os arquivos foram recuperados, mas fizeram a Netflix se espertar. Ela então adota servidores em nuvem e escolhe o Amazon Web Services. A migração completa de todos os dados e processos só termina em 2016.
Separação (e retorno)
Na metade de 2011, a Netflix passa por uma mudança radical que muita gente achava ter sido um erro. Ela se separa de vez do negócio de DVDs e deixa o nome Netflix como algo totalmente online e por streaming. Já o serviço de envio de filmes e agora até games pelo correio passava a se chamar Qwikster, com "w" e "k".
Só que a divisão também significa que as contas seriam separadas e que os assinantes agora precisariam assinar Netflix e Qwikster para ter os serviços que antes eram um só. E, em 2011, muita gente ainda não tinha o hábito de streaming e, talvez, nem mesmo uma boa conexão para fazer isso, preferindo os bons e velhos DVDs. E como tudo ainda pode piorar, os preços aumentaram.
A ideia não durou um mês. O CEO Reed Hastings se desculpou em uma postagem no blog da empresa, mas não adiantou muito e centenas de milhares de norte-americanos cancelaram a assinatura.
A Netflix abandona o nome separado, mas mantém o serviço de entregas em disco no domínio DVD.com e ainda aluga os DVDs para muita gente.
Conteúdo original ou exclusivo
A primeira série de distribuição exclusiva da Netflix é Lillyhammer, que conta a história de um mafioso isolado em uma pequena cidade da Noruega. Já em 2013, estreia "House of Cards", a maior aposta de investimento da Netflix até o momento e o primeiro grande conteúdo original inclusive em produção. Foram 100 milhões de dólares pra duas temporadas de 13 episódios cada.
"House of Cards", o primeiro grande sucesso
Nem precisa falar que deu certo, né? Foi a primeira série feita para o meio online que recebeu indicações nas principais categorias do Emmy, ganhando seis ao todo, além de dois Globos de Ouro.
A Netflix também ficou famosa por salvar séries canceladas e dar uma segunda chance. Isso começou com a quarta temporada de "Arrested Development" e também valeu pra "The Killing", "Três é Demais" e "Gilmore Girls".
"Arrested Development", na quarta temporada
A última grande novidade até agora é um pedido antigo da comunidade. Depois de anos, no fim de 2016 ela finalmente libera o download de conteúdos para serem assistidos offline, primeiro em tablets e smartphones e depois para PCs. Antes disso, ela mudou o sistema de classificação de cinco estrelas para uma nota em positivo ou negativo.
Mas claro que a Netflix já gerou muita polêmica. Para começar, os filmes originais não saem nos cinemas, o que irrita muitas distribuidoras e redes. Essas produções têm sido deixados de lado em várias premiações tradicionais da sétima arte e a estreia em Cannes em 2017 foi com vaias.
Além disso, a Netflix atualmente tem investido muito mais em conteúdo original e sofre para licenciar o catálogo de outras marcas, o que gera muitas críticas dos assinantes e alguns cancelamentos.
Um dos motivos? Ela mesma criou um mercado forte de streaming, e emissoras como Fox e HBO criaram os próprios serviços com conteúdos exclusivos.
A empresa também é uma grande defensora da neutralidade de rede, especialmente nos Estados Unidos. Várias operadoras de lá já foram acusadas de diminuir de propósito a velocidade da conexão de usuários que passam muito tempo no streaming, e leis do tipo são discutidas atualmente no país.
E o Brasil?
A Netflix estreia por aqui em 5 de setembro de 2011. A empresa conquistou o público inclusive com uma ótima atuação nas redes sociais e algumas propagandas incríveis para internet. Fábio Junior, Valesca Popozuda, João Kleber e até a Xuxa já estrelaram comerciais que bombaram.
Lições que aprendemos com o tempo... pic.twitter.com/bTBqLYe2cb
— Netflix (@NetflixBrasil) 16 de junho de 2017
O faturamento em 2015 aqui no país já era de 1,1 bilhão de reais, superando até o de algumas emissoras nacionais da TV aberta. E a empresa atualmente decola também em nível mundial. Foram 2,64 bilhões de receita só nos três primeiros meses de 2017, e ela atualmente acumula nada menos que 94 milhões de assinantes.
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