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Nos últimos anos, a indústria da música tem travado uma batalha que parece perdida contra a pirataria. Basta ser anunciada uma nova forma de proteger a propriedade intelectual de artistas para que, logo em seguida, seja anunciado um método de compartilhar conteúdo pela internet que passe por cima da novidade. Em um mundo cada vez mais dominado por sites de relacionamento, a ideia de pagar por música parece cada vez mais absurda para uma geração que cresce cercada de sites como o YouTube e programas P2P.
Porém, a queda constante nas vendas de CDs e DVDs não significa um desinteresse do público por artistas e faixas novas, muito pelo contrário. Porém, para manter-se nos topos das paradas e conservar uma legião de fãs, não basta mais simplesmente escrever e lançar um bom álbum.
Tanto novos artistas quanto aqueles que estão há anos na estrada estão aprendendo que a interação com o público é cada vez mais importante para sobreviver no mundo da música. Porém, esse público não se contenta somente em ver sua banda favorita – pelo dinheiro que pagam, exigem um grande espetáculo cheio de efeitos especiais e que forneça uma experiência totalmente única.
Em um mundo em que televisores de alta definição e sistemas home theater se tornam cada vez mais baratos, não é tarefa fácil convencer o público a trocar o conforto de uma gravação em DVD pela experiência real. Assim, cada vez mais artistas e festivais investem em grandes estruturas de palco, efeitos especiais e novidades tecnológicas para atrair audiência – mesmo que isso signifique perder dinheiro na montagem dos equipamentos, compensado pela venda de merchandising e produtos exclusivos.
Neste artigo, apresentamos algumas das tecnologias utilizadas para tornar cada show uma experiência única – e, quem sabe, convencer o espectador a comprar o DVD da turnê e uma camiseta. Confira agora as principais tecnologias utilizadas por alguns dos artistas mais famosos do mundo, e não deixe de registrar sua opinião em nossa seção de comentários.
Observação perfeita de qualquer lugar
Quem vai a qualquer tipo de show já deve estar preparado para, no mínimo, ter que aprender a dividir um espaço limitado com milhares de pessoas que desejam a melhor visão possível do palco. Afinal, o principal objetivo de ir a um concerto é ficar próximo a artistas dos quais se aprecia o trabalho.
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Porém, quem não gosta de recorrer à falta de educação ou a utilização de binóculos não precisa mais se preocupar em deixar de assistir o que está acontecendo no palco. Atualmente, qualquer banda de nível internacional ou grande festival conta com telões espalhados em locais estratégicos, permitindo que todo o público possa ficar de olho em detalhes mínimos do que acontece no palco.
Exemplo do uso desta tecnologia é o Metallica, que na recente World Magnetic Tour possuía uma estrutura de palco equipada com três telões LED de alta definição. Dois deles, medindo 8mx6m ficavam na lateral do palco, enquanto uma tela gigante com 20mx8m ficava ao fundo, exibindo imagens ao vivo da banda.
Visão 360°
Quando se trata de estrutura de palco, poucas bandas conseguem ser mais inovadoras ou impressionar mais que o U2. Em 1992, a Zoo TV Tour foi a grande responsável por popularizar os telões presentes em qualquer grande festival atual. Dispondo de diversas telas mostrando efeitos especiais, símbolos da cultura pop e frases de vídeo, a turnê ficou marcada como uma das mais caras da história, com severas restrições quanto ao transporte do equipamento que acabaram por diminuir os locais que alcançou. Porém, tudo isso foi compensado pelo grande lucro que a banda obteve e um grande salto de popularidade em nível mundial.
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Quase 20 anos depois, o U2 parece ter pretensões semelhantes com a 360° Tour. Utilizando uma estrutura de quatro pernas que lembra uma aranha gigante, a banda traz o palco para o centro de grandes estádios, concentrando o sistema de som e telas LED em uma estrutura cilíndrica impressionante. Ao redor dessa estrutura localizam-se uma série de rampas que permitem que os membros da banda circulem e interajam com o público.
A parte do palco que se destaca é a tela de vídeo capaz de sofrer uma série de transformações que acompanham as diferentes músicas e momentos do show. Compostos por mais de um milhão de peças, os telões contam com 500 mil pixels, 320 mil prendedores, 150 mil peças usinadas e 30 mil cabos, e são capazes de alterar sua distância em relação à banda e formação – o resultado é único, e até mesmo difícil de descrever em sua grandiosidade.
Um verdadeiro espetáculo visual
A utilização de fogos e outros truques visuais não é nenhuma novidade, afinal esses foram alguns dos primeiros recursos utilizados para elevar concertos à categoria de eventos imperdíveis. Porém, estas tecnologias não ficaram paradas no tempo e estão cada vez mais sofisticadas e unificadas com outros elementos do show.
Uma das bandas pioneiras em oferecer verdadeiros espetáculos para seus fãs, o KISS abusa de fogos de artifício e recursos visuais em seus shows – incluindo o enorme letreiro com o nome da banda que enfeita o fundo do palco. Combinando esses elementos com cabos de aço que dão a impressão de que os membros da banda estão voando em determinados momentos, maquiagens características e um som único, o resultado é um espetáculo que chama a atenção pela teatralidade.
Outras bandas, como o Metallica, utilizam fogos de artifícios junto a efeitos de iluminação para simular uma verdadeira guerra no palco, enquanto outras utilizam as possibilidades das telas LED para simular efeitos de chuva no palco. E claro, há aquelas que insistem em tecnologias tradicionais, como o Iron Maiden.
Embora utilizem as últimas novidades em matéria de som e montagem de palco, os ingleses são tradicionais quanto ao uso de telas em LED e tecnologias interativas. O destaque de seus shows vai mesmo para as aparições do monstro Eddie, animatrônico que invade o palco em momentos-chave do espetáculo e interage com os membros da banda.
A tecnologia invade os palcos
Além de trazer uma experiência mais surpreendente para quem assiste, os avanços tecnológicos também trazem mais comodidade para os músicos – com resultados que quase sempre se refletem em ganhos para o público. Exemplo máximo disso é a programação de efeitos especiais e equalização do som, processos que se tornam cada vez mais simples com o equipamento correto.
Enquanto antes os técnicos de som e luz tinham que se preocupar em ajustar novamente dados toda vez que chegavam a um novo local, hoje todas as informações ficam guardadas em notebooks de fácil transporte. Através destes aparelhos, é possível programar toda a iluminação de um espetáculo de forma fácil, com direito a mudanças no setlist e reprogramações em tempo real.
Utilizando aparelhos chamados spectrum analysers (analisadores de espectro), um técnico de som consegue medir a capacidade acústica de uma casa de shows. Junto a softwares especializados, em poucos minutos é possível configurar as caixas de som espalhadas pelo local para proporcionar a melhor experiência possível, tanto para quem está próximo ao palco quanto para quem assiste ao espetáculo a 50 metros de distância.
Cantores? Para que?
Embora já estejamos acostumados a artistas que simplesmente dublam suas músicas no palco, se preocupando mais com coreografias e figurinos, os japoneses deram um passo além nesse sentido: dispensaram totalmente os cantores. Apesar de ser acompanhada por uma banda real, Hatsune Miku é uma cantora popular que simplesmente não existe.
Utilizando uma tecnologia desenvolvida pela Crypton Future Media, a cantora é na verdade uma boneca holográfica 3D extremamente realista que pula e interage com a plateia como uma cantora real. O sucesso obtido até agora foi tanto que já rendeu uma verdadeira coleção de Blu-rays e DVDs.
Embora seja difícil pensar em artistas reais sendo substituídos pela tecnologia, fica a impressão de que esse pode ser o fim de artistas pop que se baseiam simplesmente na imagem para sobreviver – afinal, Hatsune Miku nunca envelhece, tampouco se envolve em escândalos ou desafina no palco.
Interação: a palavra-chave para o futuro
A possibilidade de enviar mensagens de texto, exibidas no telão de grandes eventos, já deixou de ser novidade há tempos e dificilmente consegue impressionar. Assim, artistas têm que bolar novos meios do público se sentir de alguma forma participante do espetáculo, mesmo que de forma mínima.
Artistas como o Bon Jovi apostam em uma união entre internet e shows para possibilitar essa interação. Através do site oficial da banda, fãs podem enviar vídeos próprios dublando a música Livin’ On a Prayer – uma votação popular define os melhores, que são exibidos em telões enquanto a banda toca o sucesso ao vivo.
Em um futuro próximo, smartphones podem ser utilizados como forma de disponibilizar milhares de câmeras adicionais para um show. Através de conexões Wi-Fi e câmeras portáteis de alta qualidade, qualquer espectador poderá compartilhar o conteúdo de suas filmagens com outras pessoas em tempo real, estejam elas presentes no mesmo local ou em casa, assistindo o show ao vivo através de streaming.
Tornar a experiência de cada pessoa do público algo único e permitir que ele se sinta parte do que acontece no palco é uma das formas mais seguras para garantir o sucesso e longevidade de uma banda. Afinal, quem vai a um show e fica com a sensação de que teria uma experiência melhor em casa, dificilmente vai se arriscar a pagar novamente por um ingresso, por mais que goste do trabalho de um artista.
Nos próximos anos, tudo indica que os shows devem seguir a tendência de incorporar cada vez mais tecnologia, trazendo ao público uma experiência impossível de se obter em casa assistindo a um DVD. Embora nada garanta que isso vá recuperar os lucros perdidos pelas gravadoras nos últimos anos, um fato é inegável: no final, quem sai ganhando com tudo isso é o fã de música, que pode acompanhar cada vez mais artistas e tem a garantia de que o preço do ingresso valerá a pena.
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