Tradicionalmente, um bom amplificador de guitarra pesa vários quilos e é iluminado por uma porção de válvulas — já que, diferentemente dos rádios e TVs, em música elas ainda são um emblema de qualidade. Além disso, como qualquer músico razoavelmente profissional deve saber, não é algo fácil extrair um som minimamente decente de um equipamento valvulado em volumes baixos.
Para questões de estudo, isso deixaria apenas uma possibilidade: adquirir um amplificador valvulado de menor potência (o que ainda pode ser bem caro), ou se conformar com um equipamento pequeno e de qualidade duvidosa. Bem, foi justamente pensando nessa necessidade que a Yamaha lançou os amplificadores THR5 e THR10 — US$ 199,99 (cerca de R$ 400) e US$ 299,99 (aproximadamente R$ 600), respectivamente, mais taxas de importação, é claro.
Trata-se, conforme apregoa o fabricante, da sua “terceira opção ideal” de amplificação. Ao fundir diversas funções em um único amplificador digital de pequeno porte, a Yamaha pretende que o THR seja ao mesmo tempo portátil e suficiente para a maior parte das questões que não envolvam ensaios e shows.
(Fonte da imagem: Yamaha)
Além de emular vários amplificadores tradicionais do mercado, como Marshall e Mesa/Boogie, o aparelho ainda traz uma prática entrada auxiliar, na qual se pode plugar, sem complicações, qualquer MP3 player razoável. Isso fará com que o THR amplifique, simultaneamente, o som da sua guitarra/baixo/teclado e de alguma música ou backing track para improvisos.
Mas trata-se também de uma boa opção para gravações rápidas e de boa qualidade. Além das regulagens-padrão, há ainda um editor exclusivo, facilmente baixado e instalado em qualquer computador minimamente decente. É possível que existam ainda mais possibilidades? Vale a pena considerar alguns detalhes.
THR 5 ou THR 10?
É verdade que o THR 10 possui um irmão menor. Entretanto, é bom não se deixar confundir pelo nome: o THR 5 também possui 10 watts de potência — 5 para cada alto-falante. A diferença aqui aparece nas funções.
Enquanto o THR 5 traz apenas uma única possibilidade de equalização — convenientemente chamada de “tone” (tom), assim como ocorre na maioria dos pedais de distorção/overdrive —, a sua versão maior é capaz de regular, independentemente, graves, médios e agudos da sua saída.
(Fonte da imagem: Yamaha)
A versão maior do THR tem também três possibilidades de entrada adicionais: em “Bass” você pode plugar um bom contrabaixo (embora as 3 polegadas do falante representem uma restrição óbvia); “Acoustic”, como o nome indica, é perfeito para um violão elétrico; e “Flat” pode ser utilizado para teclados, por exemplo.
Por fim, o THR 10 se diferencia ainda por trazer cinco locais de memórias para configurações de usuário (nos quais você pode registrar suas melhores regulagens) e também volumes independentes para a saída do instrumento e da entrada auxiliar. Desnecessário dizer: o tamanho relativamente pequeno do THR 5 não deixa de ser algo atraente.
Aprovado
“Jam session” portátil
Eis um dos maiores atrativos do THR — algo capaz de colocá-lo isoladamente, entre inúmeras opções atualmente disponíveis no mercado, como o amplificador de estudo por excelência. Através da entrada auxiliar do aparelho, você pode tanto ligar o seu iPod quanto um computador, a fim de mandar uma bela base de solos (backing track) diretamente para os falantes do sistema.
É bem verdade que rolar som de guitarra e música em um mesmo amplificador não é algo tão novo. Entretanto, além da óbvia versatilidade de poder plugar diretamente o seu MP3 player, há ainda um knob de volume independente para o canal (apenas no THR 10, entretanto), perfeito para deixar os volumes da guitarra e da sua “base” na proporção que mais lhe parecer agradável.
Mas há algo igualmente impressionante aqui: mesmo saindo dos mesmos falantes, o som da guitarra e do canal auxiliar não “embolam”... De jeito nenhum! Guardadas as devidas proporções, a impressão que se tem é que o conjunto que brota pelos pequenos falantes sai diretamente de um álbum pronto e devidamente mixado.
Fender, Vox, Marshall e Mesa/Boogie ao alcance de um knob
As luzes alaranjadas não representam a única forma com que a Yamaha pretende “enganá-lo” em relação à natureza do processamento do THR 10. Na verdade, mesmo em baixos volumes, o pequeno amplificador parece empacotado com alguns bons pares de válvulas. Essa impressão é garantida por algo denominado “Virtual Circuit Modeling” (algo como “modelagem virtual de circuito”).
No que diz respeito ao conceito, não há nada aqui realmente diferente de outras tecnologias digitais. Ao alternar entre os cinco canais do THR 10, você terá acesso a simulações bastante convincentes de alguns dos timbres mais celebrados da história da guitarra. Quer dizer, basta girar o knob para passar do crunch vigoroso de um Vox ou de um Marshall para o som estalado de um Fender antigo.
Caso a sua praia seja o shred (milhares de notas por segundo), o canal “Modern” traz ainda uma bela simulação do drive e da compressão de um bom Mesa/Boogie — sem qualquer necessidade de um pedal de overdrive para “empurrar”. É só mandar ver nos arpejos e tappings.
Digital “quente”
Embora seja completamente digital — o que se poderia chamar de “pedaleira com falantes”, distinta, portanto, de um amplificador transistorizado —, a tecnologia de propriedade da Yamaha é capaz de registrar com impressionante precisão todas as suas palhetadas.
Diferentemente de outras tecnologias de modelagem atualmente disponíveis no mercado, o som do THR não dá a impressão de algo “sintético”. Cada palhetada é registrada de forma precisa, mesmo com quantias absurdas de ganho e drive. É claro que, dado o tamanho dos alto-falantes, é natural que uma quantia apreciável de médios e agudos seja a primeira frequência a atingir os seus ouvidos — embora a adição de baixos (apenas no THR 10) consiga alterar consideravelmente essa impressão.
Nada de som “embolado”
Mesmo com alguns dos melhores amplificadores valvulados do mercado, é comum, às vezes, experimentar certa falta de definição, principalmente em fraseados mais rápidos. Esse cenário intensifica-se ainda quando o captador utilizado é aquele mais próximo do braço da guitarra.
Nada contra o bom e velho timbre “cachorro de açougueiro”, é claro. Entretanto, é interessante notar que, com uma boa regulagem, o THR consegue fazer com que você ouça cada nota de forma bem definida — sem “embolar”, como dizem. E o melhor: sem precisar de uma muralha de Marshalls Plexi atrás de você (Malmsteen... Alguém?).
Qualidade mesmo em volumes baixos
Um dos maiores inconvenientes dos amplificadores valvulados pode ser rapidamente resumido pelo termo “sweet spot”. Trata-se do volume mínimo necessário para que aquele seu belo pinheiro com aparência de TV antiga “desabroche”, a fim de mostrar do que é capaz. De acordo com os puristas, nenhum som transistorizado ou digital é capaz de recriar fielmente o efeito. Mas o THR certamente chega perto.
Embora ainda necessite de um mínimo de volume para “abrir” o seu som, o amplificador funciona perfeitamente em volumes relativamente baixos, perfeitos para sessões de estudo, e para não torná-lo persona non grata entre familiares ou vizinhos. E o melhor: com um som muito mais dinâmico e “natural” do que aquele tipicamente obtido em pequenos amplificadores transistorizados de proposta semelhante.
Editor exclusivo
O THR pode ser tão complexo quanto você quiser. Quer dizer, caso a sua ideia seja simplesmente plugar a guitarra e sair “fritando”, sem problemas: escolha o seu canal, acrescente alguns efeitos (reverb, delay, phaser, chorus, tremolo e efeitos de ambiência), e é só mandar um belo e sonoro bend.
Entretanto, o pequeno amplificador certamente vai além do sonho de versatilidade de uma estrela do rock da década de 1970. Basta plugar o seu computador pessoal na entrada USB 2.0 do aparelho e instalar o editor exclusivo do THR.
Além de ganhar duas funcionalidades/efeitos adicionais (compressor e cortador de ruídos), o programa ainda traz 50 presets criados pela Yamaha (você também pode criar os seus próprios, para compartilhar em ambiente online) e simulação de cabines (emulando números e diâmetros diferentes de falantes, como 2x12, 4x12 etc.).
Monitor substituto e dock de iPad
Por meio da sua entrada USB 2.0, o THR torna-se facilmente uma interface de áudio e monitor estéreo. Ao utilizar um bom programa de gravações — como o Cubase, já incluso —, o que você tem é uma das plataformas de gravação mais práticas da atualidade. Há ainda a possibilidade de gravar com sinais “wet” e “dry” (sem equalização ou efeitos adicionais), certamente uma boa possibilidade para exportar e alterar posteriormente o material gravado.
Além disso, é bem provável que o THR acabe simplesmente aposentando o seu velho dock de iPad. Isso porque os falantes do pequeno amplificador realmente fazem um belo trabalho como sistema de amplificação mais, digamos, genérico — perfeito para assistir a um filme no seu player portátil, por exemplo.
Amplificador movido a pilhas?
Isso certamente deve soar como heresia aos ouvidos sensíveis dos guitarristas mais tradicionalistas. Mas sim, o THR funciona movido a pilhas sim... E muito bem, na verdade. Ao alocar oito pilhas AA, você terá a oportunidade perfeita para fazer alguns trocados no metrô mais próximo — e sem quaisquer perdas significativas de som.
Afinador embutido
A Yamaha não apenas pretende que o THR seja a sua escolha para amplificação de estudo. Na verdade, a ideia é que você simplesmente não precise carregar mais nada na hora de estudar. Dessa forma, além de várias funcionalidades vanguardistas, o pequeno amplificador também inclui um afinador embutido, e com uma precisão bastante razoável. Ok, não se trata de nada realmente inovador... Mas certamente é uma boa cereja para o bolo.
Diretamente da primeira metade do século XX...
O visual do THR com certeza é um luxo à parte. Afinal, se é para cobrir todas as suas necessidades de estudo, por que não fazê-lo com estilo? Dessa forma, a Yamaha moldou o seu pequeno amplificador em uma estética que poderia, perfeitamente, ter saído da cabeça de algum designer de rádios da primeira metade do século passado. A tonalidade bege confere ainda um quê de exclusividade ao conceito estético do aparelho.
Reprovado
Por que não "madeira"?
Embora o design do THR seja atraente na maior parte dos seus detalhes, é impossível deixar de questionar a escolha da Yamaha em utilizar partes plásticas na confecção. Isso dá às laterais e à parte traseira do aparelho um inegável ar de “coisa barata”, algo que seria plenamente evitado utilizando madeiras (ou algum material sintético que se pareça, para ser ecologicamente correto), por exemplo — muito mais de acordo com o conceito estético geral, sem dúvida.
Vale a pena?
Sem qualquer exagero, o Yamaha THR inaugura um novo conceito em amplificação de estudo. Além do pouco peso e das dimensões mínimas, o aparelho concentra uma série de funcionalidades interessantes para guitarristas profissionais e amadores atrás de som de qualidade em baixos volumes — eliminando a necessidade de se levar para cima e para baixo um pesado, caro e barulhento amplificador valvulado.
De fato, só a entrada auxiliar com volume independente (exceto no THR 5) já seria suficiente para justificar a aquisição. Afinal, a ideia de levar uma jam session para qualquer lugar (bastando plugar um singelo MP3 player) não poderia ser mais oportuna — sobretudo se considerada a qualidade excepcional do resultado, que em momento algum “embola” o som das “bases” ao da guitarra.
Ademais, o sistema exclusivo de modelagem digital da Yamaha garante algumas das melhores simulações de amplificadores consagrados (entre Vox, Marshall, Fender e Mesa/Boogie) atualmente disponíveis no mercado — ganhando ainda o acréscimo de novos efeitos e facilidades de gravação em uma simples conexão USB. Enfim, é só plugar e mandar ver no rock ‘n’ roll.
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