O aumento da frota de veículos eletrificados, estimado em 126 mil unidades circulando pelo Brasil no final de 2022 segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), fez crescer uma dúvida. Onde os proprietários de carros 100% elétricos ou híbridos plug-in (PHEV) vão recarregar seus modelos fora do eixo urbano das metrópoles?
O 2º Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica, preparado pela Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), mostra que o Brasil ruma em direção ao mix de tecnologias para a descarbonização e digitalização dos transportes. O trabalho, brilhantemente elaborado pela equipe da PNME, mostra a projeção do crescimento da frota de veículos elétricos à bateria. Até 2030, segundo o estudo, os licenciamentos desses modelos devem figurar entre 6,5% e 15% da frota nacional.
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Esse levantamento mostra ainda que, em 2030, de acordo com projeções, podemos ter uma frota de cerca de 200 mil carros 100% elétricos que dependerão de uma boa infraestrutura de pontos de recarga distribuída pelas cidades e rodovias. Com relação aos veículos híbridos plug-in, que também devem ser carregados, os número projetados são ainda maiores: a frota projetada é de mais de 1 milhão de unidades.
Os carros elétricos precisam de uma melhor infraestrutura para ser maioria no Brasil.
O excelente estudo do 2º Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica ainda analisa a questão dos pontos de recarga com acesso público, fato extremamente importante para o crescimento e desenvolvimento desse tipo de veículo. A expectativa é ter mais de 100 mil pontos de recarga nesse modelo de acesso público.
Mesmo com baterias cada vez mais eficientes, tanto na recarga rápida, como na autonomia ampliada, nada disso funcionará bem se não tivermos estradas “eletrificadas”, com diversos pontos de carregamentos, principalmente de recarga rápida. Nesse cenário de transformação, as regiões Sul e Sudeste saíram na frente, com diversos pontos de recarga rápida instalados em rodovias.
Isso se deve, em parte, ao trabalho desenvolvido ao longo dos últimos 4 anos, com projetos da Chamada Estratégica n.º 22 da ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Além disso, fabricantes de veículos elétricos investiram em redes de recarga próprias (Audi, Nissan, Porsche e Volvo), ao longo de 2022.
Mas qual é a importância de oferecer aos proprietários de modelos elétricos uma recarga mais rápida? Primeiro é preciso evidenciar o aumento da capacidade das baterias embarcadas nos carros, que aumentaram significativamente nos novos lançamentos, superiores a 60 kWh. Considerando que as primeiras estações de carregamento instaladas no Brasil são de 50 kW, os tempos de recarga demandam cerca de duas horas (dependendo das características do veículo.
Já nos carregadores de 150 kW, considerados de recarga ultrarápida, os tempos diminuem para aproximadamente 40 minutos para ter a carga completa, também dependendo das características de cada veículo, pois nem todos admitem altos níveis de potência de recarga.
Em Portugal, os novos postos de carregamento para carros elétricos rápidos e ultrarrápidos cresceram 134% em 2022. Mais de 60% desses pontos estão instalados em estabelecimentos, centros comerciais e autoestradas. Segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), os veículos 100% elétricos representaram 11,4% do total de vendas no país.
A evolução do mercado de elétricos exigirá a criação de uma infraestrutura de recarga para a circulação e autonomia dos veículos eletrificados.
Assim como em diversos lugares do mundo, o Brasil também registrou um aumento nas vendas de veículos elétricos. Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos, o país registrou uma alta de 43% nas vendas. Segundo um estudo elaborado pela Boston Consulting Group, empresa de consultoria global, em 2030, a frota de veículos 100% elétricos ou híbridos plug-in (PHEV) vai aumentar 160 vezes, saltando de pouco mais de 31 mil modelos para 507 mil.
Ainda de acordo com o levantamento da consultoria, será necessário um investimento de R$14 bi no mercado de infraestrutura de carregamento para mobilidade elétrica até 2035. Porém, ainda precisamos de mais incentivos por parte do poder público.
Para se ter uma ideia, estimativas de associados do Grupo de Infraestrutura da ABVE, existem atualmente 3 mil eletropostos públicos e semipúblicos. Ou seja, há, aproximadamente, 0,24 postos para cada dez veículos elétricos. A entidade estima que o número ideal giraria em torno de três pontos de recarga para cada dez modelos no país.
Independentemente do percentual de crescimento, a evolução do mercado de elétricos exigirá a criação de uma infraestrutura de recarga para esses modelos, para atender aos usuários tradicionais, motoristas de aplicativo ou de frotas de caminhões, vans e ônibus. Por esse motivo, os carregadores com potência superior a 150 kW, considerados ultrarrápidos, são fundamentais e vão transformar a experiência da recarga em uma rotina mais simplificada.
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