Quando a nossa equipe do iCities esteve em Lisboa, em 2019, encontrou uma verdadeira “ocupação” das ruas da capital portuguesa pelas bicicletas elétricas da Jump, marca da Uber que foi comprada pela Lime no último mês de julho. Mas não fazíamos ideia do alcance que o modal das chamadas e-bikes iria atingir neste ano – com algumas aquisições e operações sendo antecipadas ao cronograma inicial de 2021.
Como parte das estratégias de minimização dos impactos causados pela pandemia no setor de caronas por aplicativos, a própria Uber tem diversificado seu portfólio de serviços, que começou com o Uber Eats (hoje entregam produtos de farmácias, lojas de conveniência e até pet shops, além do delivery de comidas e bebidas) e já inclui as bicicletas e patinetes elétricos.
Uma das facilidades da Jump era justamente essa: o aplicativo era o mesmo da Uber, sem necessidade de baixar outra plataforma, cadastrar novamente os dados de cobranças ou conferir as tarifas. Estava tudo interligado, de forma prática e segura. Para turistas, principalmente, acaba sendo um diferencial e tanto.
Bike elétrica da Jump era integrada diretamente ao app da Uber (Divulgação/Uber)
Em entrevista recente ao NeoFeed, a diretora-geral da operação brasileira da Uber, Claudia Woods, confirmou que alguns planos inicialmente previstos para o início de 2021 já estão ganhando as ruas no segundo semestre deste ano.
“A Uber sempre trabalhou com o conceito de plataforma e em ser o sistema operacional das cidades. A necessidade que as pessoas têm de que as coisas venham até elas mudou da água para o vinho na pandemia”, afirmou a diretora, enfatizando que o serviço de caronas chegou a cair 80% em algumas cidades do Brasil devido ao isolamento social.
Supermercados, ônibus e metrô
Outras áreas de atuação da Uber podem surpreender o leitor, como o setor de entregas de supermercados: comprada no ano passado, a startup chilena Cornershop foi integrada ao app principal da companhia. Com operação em 11 cidades brasileiras, possui parcerias com grandes nomes do varejo como Carrefour, Big e Sam’s Club.
O mais curioso, porém, é a operação da Uber com o transporte público em algumas cidades norte-americanas. Isso se dá por meio de consultas que informam os trajetos de ônibus e de metrô, e também com pagamento das passagens através do aplicativo da Uber. Em outros casos, sua tecnologia pode ser usada pela cidade para gerenciar a malha pública, dentro da ótica de smart cities de compartilhamento de dados.
E-bikes de entregas
O iFood, por sua vez, inaugurou em São Paulo no começo de outubro, em parceria com a Tembici, o projeto iFood Pedal, voltado para entregadores com uso de bikes elétricas exclusivas. Foram criados ainda o espaço Ponto de Apoio iFood Pedal, no bairro Pinheiros, e o curso digital Pedal Responsa, com conteúdo formativo e de conscientização criado pelo Instituto Aromeiazero, organização sem fins lucrativos que tem como mote o uso social das bicicletas.
Uma das novidades do projeto é a disponibilidade das e-bikes com pedal assistido: o motor é acionado quando a bicicleta é pedalada, sem acelerador, tornando a bicicleta mais leve. Com velocidade limitada a 25 km/h, a bateria possui autonomia de 60 km. O projeto começou em caráter piloto, com avaliação de possíveis melhorias e novas soluções, e conta com poucos entregadores por enquanto.
A meta do iFood Pedal é alcançar até 500 bicicletas nas ruas de São Paulo até o final do ano.
As e-bikes são mais um modal elétrico que traz as vantagens sustentáveis que temos abordado quando falamos de estratégias de smart cities aplicadas à mobilidade urbana. As inovações e investimentos no segmento vão depender também da adesão dos usuários (entregadores) e consumidores, em busca de novas formas de se locomover pelas cidades.
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*Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre cidades inteligentes com a chancela da FIRA Barcelona.