A rápida ascensão da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho vem associada a uma onda de euforia. Quando olhamos para o seu impacto desigual em termos de gênero, a preocupação prevalece: as mulheres estão mais vulneráveis do que os homens.
A recente pesquisa da McKinsey trouxe um vislumbre do que podemos esperar do futuro tecnológico. As tendências do mercado de trabalho nos EUA até o final de 2030 apontam que as mulheres têm 1,5 vezes mais chances de precisar mudar de ocupação do que os homens nesse período.
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Em outras palavras, a automação parece ir contra os princípios de igualdade de representação e participação entre homens e mulheres. Mas qual é a razão disso? Como a presença da IA pode prejudicar a luta pela paridade de gênero? Esse é o tema do nosso artigo de hoje, confira!
Automatização e desigualdade de gênero na IA
A automatização alimentada pela IA muitas vezes reflete e amplifica desigualdades de gênero preexistentes. Em diversos setores, funções historicamente associadas a mulheres correm o risco de serem substituídas por sistemas automatizados.
Profissões ligadas a tarefas rotineiras e administrativas, como atendimento ao cliente e processamento de dados, são exemplos claros. À medida que essas funções são automatizadas, mulheres podem enfrentar uma maior redução de oportunidades de trabalho.
Serviços de atendimento ao cliente, alimentação, vendas e suporte de escritório são as áreas mais afetadas pela automação.Fonte: GettyImages
"Quando falamos de mães, a situação se torna ainda mais alarmante. A maternidade pode torná-las ainda mais vulneráveis a serem excluídas de oportunidades de promoção, sujeitas a cortes salariais ou a perda de vagas, sob o viés de que 'seriam menos comprometidas ou produtivas', ressalta Li Saito, head de projetos na B2Mamy, uma socialtech focada em mulheres.
Viés nos algoritmos e discriminação de gênero
Os algoritmos de IA são treinados com base em dados históricos, refletindo assim os preconceitos existentes na sociedade. Se essas informações contêm viés de gênero, os algoritmos podem perpetuar e até ampliar essa desigualdade.
Como isso se traduz no mundo offline? Um cenário em que mulheres podem sair em desvantagem por decisões automatizadas em áreas como recrutamento, promoções e avaliações de desempenho – que tradicionalmente privilegiam os homens.
Falta de representatividade na criação de tecnologia
A sub-representação de mulheres na criação e desenvolvimento de tecnologia, incluindo a IA, é outro fator importante nessa análise do mercado de trabalho.
A ausência de perspectivas femininas no design dessas ferramentas pode resultar em soluções que não levam adequadamente em consideração as experiências e os desafios específicos enfrentados por esse grupo da sociedade.
Portanto, as inovações tecnológicas podem perpetuar padrões que fortalece a desigualdade de gênero em vez de combatê-la.
Políticas públicas e privadas devem ter um olhar atento à questão de gênero no mercado de trabalho.Fonte: GettyImages
Saito afirma que é preciso incentivar mulheres a ingressarem nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que oferecem boas oportunidades de emprego.
"Além disso, programas que facilitem a conexão entre mulheres profissionais e forneçam orientação e apoio para suas carreiras são passos importantes para reduzir a desigualdade de oportunidades", complementa a especialista.
Impacto nos setores tradicionalmente femininos
Setores em que as mulheres são maioria, como educação e cuidados de saúde, também estão sujeitos a transformações significativas com a ascensão da IA.
Embora a automação prometa eficiência, ela também pode criar lacunas nas áreas onde as habilidades humanas são fundamentais.
As mudanças na dinâmica desses setores pode afetar desproporcionalmente as mulheres, que compõem a maioria da força de trabalho nesses campos.
- Fique por dentro: 3 mitos sobre mulheres na área da tecnologia
Desafios para conciliar trabalho e vida pessoal
A conciliação entre responsabilidades da vida profissional e pessoal é mais uma barreira conhecida pelas mulheres que, sem o apoio de políticas inclusivas, crescerá em tempos de IA e eficiência acelerada.
Segundo a pesquisa feita pelo PNAD Contínua do IBGE, 8,5 milhões de mulheres saíram da força de trabalho durante a pandemia no Brasil. Enquanto 26% afirmaram não poder trabalhar devido aos cuidados da casa, filhos e outros parentes, menos de 2% dos homens declararam a mesma dificuldade.
O relatório "Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia", feito em parceira entre as entidades "Gênero e Número" e "Sempre Viva Organização Feminista" detalha esse cenário. O impacto da pandemia ressaltou as desigualdades raciais e de renda entre as mulheres rurais e urbanas.
"A baixa proporção de mulheres ofertando sua mão de obra é mais do que uma questão social, é também um problema econômico, pois podem representar talentos em potencial fora da força de trabalho", diz Janaína Feijó, pesquisadora da área de economia aplicada do FGV IBRE.
Apenas 36,6% do topo da distribuição de rendimentos por hora trabalhada no Brasil são mulheres.Fonte: PNAD Contínua/Janaína Feijó/Bianca Seabra
O papel crucial da conscientização e adaptação
Enquanto a IA transforma o cenário profissional, torna-se urgente abordar e mitigar seus impactos desiguais nos gêneros. A conscientização sobre essas disparidades é o primeiro passo!
As empresas e os desenvolvedores de tecnologia têm a responsabilidade de garantir a representatividade e equidade na criação e implementação de soluções baseadas em IA.
Este é um chamado para a adaptação, garantindo que a revolução da IA seja uma força para a igualdade de gênero, não mais um muro que nos separa de sermos uma sociedade com oportunidades iguais, independente de cor, gênero, raça e etnia.
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