Por Gustavo Blasco.
Na era da inovação tecnológica acelerada, empreendedores são constantemente bombardeados com as "últimas e melhores" soluções prometendo revolucionar indústrias e gerar lucros exponenciais. Contudo, o Efeito Lindy, um conceito frequentemente esquecido, oferece uma perspectiva contraintuitiva que pode ajudar empreendedores a fazer escolhas mais informadas.
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O que é o Efeito Lindy?
O Efeito Lindy é uma heurística que se originou no mundo do entretenimento, em uma casa de espetáculos de Nova York, onde notou-se que a expectativa de quantos anos mais um comediante continuaria se apresentando no local, proporcionalmente ao número de anos que já havia se apresentado lá.
Esse princípio foi popularizado por Nassim Nicholas Taleb, autor de livros como "A Lógica do Cisne Negro" e "Antifrágil". A “lei” sugere que a expectativa de vida de uma tecnologia é proporcional à sua atual longevidade. De forma simplória, se T representa a idade de uma tecnologia, então sua expectativa de vida futura é também T.
E(T futuro) = T atual
Por exemplo, os livros, uma "tecnologia" de compartilhamento de informações com milênios de idade, provavelmente persistirão por milênios adicionais.
Como o Efeito Lindy pode ajudar empreendedores?
A partir do Efeito Lindy, propõem-se duas diretrizes, para empreendedores, considerando a adoção de novas tecnologias:
1. A nova tecnologia deve ser vista como um meio, não um fim. Ela deve facilitar processos ou funções que têm resistido ao teste do tempo;
2. O entusiasmo com uma nova tecnologia, embora possa parecer contraintuitivo, é muito mais justificado, se ela aprimora significativamente uma função existente há muito tempo, do que se ela cria algo totalmente novo.
Considere o exemplo da Internet. Seu valor não advém de ser uma novidade, mas de amplificar a comunicação e a troca de informações – processos que são fundamentais para a humanidade há milênios.
No livro Sapien – uma breve história da Humanidade, por exemplo, o autor Yuval Noah Harari argumenta que, até mesmo o hábito da troca de informações através da fofoca, foi fundamental para a construção de laços sociais, normas culturais e da reputação dos membros da comunidade, processos fundamentais para nos tornarmos o que somos enquanto espécie.
Tokenização e Efeito Lindy.
Enquanto novas tecnologias podem parecer atraentes e promissoras, é essencial que empreendedores avaliem sua utilidade e eficácia por meio da lente do Efeito Lindy.
A adesão cega à inovação pode ser arriscada, pois tecnologias que se propõe a fazer algo totalmente novo provavelmente não darão certo e serão descontinuadas, independente de quanto dinheiro tenha sido investido, para seu desenvolvimento.
Com receio de perder a mais nova oportunidade, de ficar para trás dos concorrentes, muitos empreendedores acabam seguindo a manada, entrando em modismos e desperdiçando tempo, energia e dinheiro com tecnologias disruptivas das quais ninguém se lembrará depois de poucos anos.
A virtude geralmente está no meio termo de modo que, em contraste, a busca por tecnologias que amplificam e aprimoram funções testadas pelo tempo oferece um caminho mais seguro e racional.
- Veja também: Tokenização: por que isso importa agora?
Afinal, qual a relação da tokenização com o Efeito Linfy?
Aplicando isso à tecnologia da tokenização, fica bastante claro porque, após a euforia vivida com o blockchain e o universo dos tokens de ativos fungíveis e não fungíveis, coisas inusitadas como tokens de desenhos de macacos, de vídeos e fotos que já estavam amplamente disponíveis ao público, entre outras maluquices, desapareceram.
Afinal, por que raios desenhos de macacos pelos quais ninguém em sã consciência pagaria um real, passariam a ter valor só porque agora poderiam ser transacionados em NFTs?
Por outro lado, a aplicação da tokenização nos mercados de securitização, dívida, ações e imobiliário, continua em franca expansão, pois são indústrias trilionárias, que existem há séculos; milênios no caso de imóveis e dívida.
De modo que qualquer tecnologia que permita significativa redução nos custos de transação destes, incluindo severa diminuição no tempo necessário para negociá-los, será extremamente valorizada e amplamente adotada. Tão simples quanto isso.
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Gustavo Blasco é fundador e CEO do Grupo GCB, holding das fintechs Adiante e PeerBR, e da GCB Investimentos. O executivo é economista, formado pelo Mackenzie e detém as certificações: Certificado Nacional de Profissionais de Investimento (CNPI) e o Certificado de Gestor Anbima (CGA).
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