Encerrar o ciclo profissional em uma empresa pode não ser uma tarefa tão fácil quanto parece. Para evitar o estresse e outras dificuldades envolvidas nesta decisão, uma startup japonesa cuida de todo o processo, inclusive ficando responsável pelo pedido de demissão em nome do trabalhador.
Cobrando 20 mil ienes, o equivalente a cerca de R$ 700 pela cotação do dia, a Exit cuida de todas as etapas de saída de um trabalho, das mais burocráticas à conversa direta com o chefe, na qual o contratado anuncia a sua saída. O serviço pode parecer inusitado, mas faz sentido diante da rígida cultura do Japão em relação ao trabalho.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Como explicou o cofundador da startup, Toshiyuki Niino, em entrevista à Al Jazeera na quarta-feira (7), as demissões no país podem incluir um processo complicado. “Quando você tenta se demitir, eles fazem com que você se sinta envergonhado e culpado por ter deixado o emprego”, disse, referindo-se aos contratantes.
Os empregadores japoneses costumam ser rígidos até na hora da demissão.Fonte: Getty Images/Reprodução
O próprio Niino afirma ter passado por momentos assim ao longo da carreira, o que o motivou a desenvolver o negócio em 2017, para ajudar as pessoas que querem sair de um emprego mas têm medo de pedir demissão. Ele afirma receber cerca de 10 mil consultas a cada ano, a maioria feita por homens na faixa dos 20 anos.
Evitando constrangimentos
Muito difundido entre os japoneses, o conceito de trabalhar até a morte, também chamado de “karoshi”, tem no sucesso um compromisso de longo prazo, de acordo com o líder da startup. Por conta desta cultura, desistir de um emprego pode ser visto por muitos como um pecado.
Dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão indicam que o tempo médio de permanência em um emprego no país era de 12,4 anos em 2019. O número é superior ao de outras nações, sugerindo uma maior dificuldade dos nativos para trocar de trabalho, mesmo não gostando dele.
O serviço oferecido pela startup é para quem não quer confrontar o chefe na hora da saída.Fonte: Getty Images/Reprodução
Os riscos associados ao karoshi podem colocar vidas em risco. Uma pesquisa feita antes da pandemia apontou que 20% dos japoneses trabalhavam tanto que poderiam morrer de fadiga, levando as autoridades a implementar mudanças para controlar o trabalho em excesso.
Alguns dos clientes da Exit chegaram a ter pensamentos suicidas enquanto estavam em seus empregos, como disse Niino. Mas para ele, essa cultura de trabalho ainda deve demorar pelo menos 100 anos para ser modificada.
Enquanto isso, a startup continua a ajudar nos pedidos de demissões. Segundo o empresário, a principal vantagem do serviço é a possibilidade de ser honesto com o chefe, algo que nem sempre os funcionários têm coragem de fazer.
Fontes