A Apple TV+ lançou recentemente a série WeCrashed, que contaa a história real da startup WeWork. Estrelada por Jared Leto como o carismático CEO Adam Neumann, e Anne Hathaway como sua esposa, a série traz uma versão dramática da ruína da empresa, que saiu de um valor de mercado de US$ 47 bilhões para a quase falência em apenas seis semanas, após o anúncio de sua abertura de capital.
O negócio, que já foi tema de podcast e um documentário da Hulu, é um caso inédito sobre o poder da especulação em investimentos de alto risco. Com campanhas sobre mudar o mundo, a empresa unicórnio moveu rios de dinheiro e atraiu olhares de grandes investidores, incluindo Masayoshi Son, CEO da famosa e respeitada SoftBank.
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Para entender melhor a história por trás do crescimento meteórico e ruína da WeWork, confira artigo que o TecMundo preparou relembrando a trajetória da empresa.
O que é a WeWork?
A WeWork foi criada em 2010 por Adam Neumann e Miguel McKelvey como produto de um empreendimento anterior dos dois: a GreenDesk. A empresa ganhou destaque por disponibilizar espaços de coworking para pequenos empreendedores, oferecendo infraestrutura de qualidade e uma cultura que incentivava a convivência em comunidade.
(Fonte: WeWork/Reprodução)Fonte: WeWork
A ideia teve uma ótima recepção e, em poucos anos, a startup já possuía escritórios em mais de 100 países, incluindo o Brasil. Em 2016, a empresa chegou a um valor de US$ 10 bilhões, que seriam duplicados já em julho de 2017, principalmente após os investimentos de Masayoshi Son, que se entusiasmou com a ideia de Neumann e injetou US$ 3 bilhões na empresa.
A The We Company, como passou a se chamar em 2019, incluía outros empreendimentos que compartilhavam dos mesmo princípios de futuro de Neumann. Dentre alguns deles, estavam a WeGrow, escola de nível fundamental que visava trabalhar a autonomia das crianças, e o WeLive, empreendimento que investia no coliving — conceito de apartamentos com áreas de convivência comuns para alugar.
Empresa tecnológica? Não é o que parece...
(Fonte: Tomohiro Ohsumi/Getty Images/Vox/Reprodução)Fonte: Getty Images
Desde o princípio, a WeWork foi descrita como uma empresa tecnológica, mas especialistas discordam desta denominação. A startup utiliza dados para entender as demandas dos clientes e desenvolver ambientes melhores. No entanto, ela nunca se encaixou nos princípios de uma empresa tecnológica, principalmente devido a suas despesas operacionais significativas.
É padrão para startups que primeiro você busque visibilidade para receber investimentos, mirando no crescimento rápido e lucro futuro. Diferentemente de plataformas como Uber e Airbnb, que apenas fazem a conexão entre usuário e prestador de serviço, a WeWork fazia todo o trabalho, além de oferecer regalias aos seus clientes.
O fato de não possuir grande parte dos locais onde seus escritórios estavam localizados fez com que a empresa se comprometesse a longo prazo com aluguéis caros, enquanto oferecia serviços a curto prazo. O correto seria considerar a WeWork como uma empresa do ramo imobiliário e não tecnológico.
Esse erro poderia ter evitado o vexame que a aguardava na primeira tentativa de estreia no mercado de ações, em 2019.
Adam Neumann, o CEO carismático
(Fonte: Eduardo Munoz/REUTERS/Reprodução)Fonte: REUTERS
Adam Neumann foi o principal responsável pela ascensão da WeWork. Seu carisma rendeu US$ 430 milhões em uma rodada de investidores, levando a empresa a US$ 16 bilhões em valor de mercado. Típico palestrante do Vale do Silício, seus discursos motivados e promessas de mudar o mundo levaram milhões de pessoas a seguirem seus ideais e a trabalharem para ele.
No entanto, o polêmico empresário também foi o principal motivo pela ruína da empresa. Com o anúncio de abertura do capital em 2019, os holofotes se concentraram na maneira em como o casal Neumann gerenciava os negócios. Foram relatados o uso de álcool e drogas nos escritórios e viagens caras, além de comportamentos impulsivos — eles poderiam demitir pessoas simplesmente por não gostarem de sua “energia”, segundo os relatos.
Alguns comportamentos ainda sinalizaram que o CEO estaria mais interessado em enriquecer à custa da empresa do que com o futuro do negócio. Um dos principais escândalos foi ele ter registrado a marca “We”, forçando a empresa que comandava a comprá-la por US$ 5,9 milhões após uma mudança de nome — de WeWork para We Company.
IPO e os problemas financeiros
Anúncio da IPO em 2019 (Fonte: ABC News/Reprodução)Fonte: ABC News
Em 9 de janeiro de 2019, a The We Company levantou US$ 1 bilhão em sua rodada de investimentos liderada pelo Softbank, chegando a um valor de mercado de US$ 47 bilhões. Em agosto do mesmo ano, a empresa arquivou os documentos como o primeiro passo para a sua estreia no mercado de ações e o lançamento de sua IPO (oferta pública inicial).
Nesse momento, seus extratos são analisados e fica claro que o crescimento não era compatível com a expectativa de lucro. Na verdade, a empresa gastava muito mais do que lucrava, acumulando dívidas nos últimos três anos e registrando uma perda de US$ 1,6 bilhão somente em 2018.
Com a incerteza sobre sua rentabilidade e notícias escandalosas sobre a gerência, a empresa perdeu credibilidade e precisou reavaliar a estreia no mercado — com seu valor caindo exponencialmente e atingindo a quase falência em apenas seis semanas. Adiada duas vezes, a abertura de capital não aconteceu até que Neumann deixasse o posto de CEO.
Ainda em 2019, a SoftBank injetou mais dinheiro para evitar que a empresa quebrasse e diminuiu parte das operações da startup, cortando gastos e renegociando dívidas. Somente em outubro do ano passado, após 2 anos e sob nova direção, a estreia foi feita com um valor total de US$ 9 bilhões — bem distante dos US$ 47 bilhões que a empresa alcançou em seu ápice de valorização.
Você já assistiu à série da Apple? O que achou da peculiar história real da WeWork? Deixe sua opinião nos comentários!
Matéria publicada originalmente em 22 de janeiro de 2022. Atualizada em 31 de março de 2022.