O momento de olhar para as startups não passou

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É muito importante compreender a diferença fundamental entre as palavras “tendência” e “moda”, ainda mais quando analisamos algo aparentemente tão subjetivo quanto inovação. É uma distinção visível se imaginarmos um gráfico: a moda forma uma onda que sobe e alcança um pico, mas logo em seguida desce, geralmente de forma abrupta.

Já a tendência tem um fundamento mais concreto, mantém uma curva ascendente, tem sua curva exponencial, e se estabelece como padrão.

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O mercado de startups representa uma tendência, visto que essas empresas, em uma definição simples, resolvem problemas complexos de maneira mais eficiente, quase sempre baseadas em tecnologia, e assim reinventam mercados e estabelecem uma nova forma de fazer as coisas. E, por isso, devem seguir como um dos grandes protagonistas dos investimentos e fusões e aquisições em 2022 —  em transações envolvendo grandes empresas ou startups em estágio mais avançado, buscando acelerar ainda mais o seu crescimento. Há demanda, esse é o ponto.

O ano passado foi um período de muita agitação que resultou em nada menos do que US$ 9,4 bilhões investidos em startups brasileiras, de acordo com o levantamento Inside Venture Capital, realizado anualmente pelo Distrito. É um recorde em cima de outro recorde, mais que o dobro do valor arrecadado em 2020.

Esse número estrondoso foi distribuído em 779 transações. Os principais segmentos em volume de investimentos foram as fintechs (com US$ 3,7 bilhões), as retailtechs (US$ 1,3 bilhão) e as real estate (US$ 1,07 bilhão). Além disso, também observamos o surgimento da maior quantidade de novos unicórnios, ou seja, startups que alcançaram um valor de mercado de US$ 1 bilhão. Alguns exemplos são a Madeira Madeira, a Hotmart e o C6.

O relatório do Distrito é realizado desde 2011 e, nesse período, o volume de investimentos aumentou mais de 60 vezes. O que aconteceu nos últimos dois anos, contudo, superou as expectativas mais otimistas e transformou o ecossistema de startups. Agora, o mercado está mais maduro. Com esse cenário em mente, podemos começar a esboçar as perspectivas de 2022.

Startups

O primeiro ponto é: a tendência vai continuar enquanto as grandes empresas precisarem de inovação e tecnologias disruptivas para ganhar competitividade no mercado. Não há nada que indique que essa realidade mude tão cedo. Indo além, há também uma novidade muito interessante no mercado, que é o M&A entre startups. Cada vez mais, startups que se encontram em estágios avançados se mostram receptivas a comprar aquelas em estágios iniciais. Portanto, há a abertura de um novo mercado comprador, com muitas possibilidades a serem exploradas.

Outro ponto que colabora com o ecossistema são os eventos de lucro para investidores, que acompanharam o boom de fusões e aquisições em 2021. Dentro desses eventos, que devem seguir recebendo muita atenção, as startups se mostram como um ativo de diversificação de carteiras muito atrativo.

Para não dizer que toda essa visão é otimista demais, acho importante considerar um porém: a taxa Selic. As estimativas são de aumento; a última previsão do BTG Pactual considera a taxa a 12,25% ao final do ano. É uma situação preocupante, visto que já houve um aumento expressivo em 2021, de 2% para 9,25%. Portanto, é provável que exista uma preferência dos investidores por ativos de renda fixa, em vez de renda variável e de alto risco, como é o caso das startups. Isso também pode ocasionar uma redução da euforia que vimos até agora, resultando em cheques mais contidos e negociações mais apuradas.

De qualquer maneira, o palpite é que a busca das grandes empresas e startups em estágios mais avançados por soluções disruptivas e que aceleram seu crescimento supere a desvantagem da Selic. Afinal, o volume de investimentos foi gigante mesmo com a taxa em fraca ascensão no último ano. Ao que tudo indica, as tecnologias e inovações que as startups oferecem fazem com que o risco valha a pena, mesmo em um ano como 2022, que ainda contará com eleições.

Até o momento, vimos que a economia das startups caminhou praticamente descolada da economia geral do Brasil. Os aportes, fusões e aquisições foram expressivos todos os meses, não sabemos se o padrão se manterá, mas o ecossistema de startups segue muito forte em 2022, a despeito de qualquer cenário macro.

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Eduardo Cosomano é fundador da EDB Comunicação, agência especializada em assessoria de imprensa e produção de conteúdo, e coautor do livro Saída de Mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, lançado pela Editora Gente.

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