Você piscou e mais um ano está se acabando. Não é essa a sensação que temos a cada dezembro? É hora de fazer um balanço dos últimos doze meses para traçar um panorama do que virá em 2022. São inúmeras as apostas para o mercado financeiro e de tecnologia, mas aqui citarei três vertentes que devemos ficar de olho: bancos x fintechs, o boom de empresas brasileiras na bolsa americana e a expectativa pelas registradoras de recebíveis.
Bancos e fintechs de igual para igual
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O Banco Central (BC) já reconhece que há fintechs tão grandes quanto bancos tradicionais e sinaliza para uma regulação das startups de finanças, uma iniciativa que vem da demanda por mais aporte para aquelas que se equiparam às instituições clássicas. As novas regras do BC sobre exigência de capital, não só para bancos, mas para fintechs, já estão quase saindo do forno.
Quando falamos em regulação e equiparação, o mercado logo reflete se isso trará algum tipo de freio à competitividade das fintechs. Isso depende de como vemos a concorrência, ávida por inovação em produtos e transações desburocratizadas.
Essa equiparação regulatória acirra ainda mais a corrida dos bancos tradicionais por transformação digital — a própria abertura de capital (IPO) do Nubank, que está cada vez mais próxima, já causou um burburinho entre os gigantes na busca por novos clientes, que estão cada vez mais exigentes e antenados a uma boa experiência de usuário.
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Outro ponto é que a relação dos brasileiros com as fintechs melhorou. É o que aponta o Relatório de Cidadania Financeira do Banco Central, com o aumento do fenômeno que costumamos chamar de bancarização: as pessoas estão se inserindo ao sistema graças ao ambiente digital e vantagens competitivas, como praticidade e menores custos. Essa participação se tornou mais diversificada, incluindo públicos como jovens, idosos e microempreendedores individuais.
Além disso, o crescimento de instituições de pagamento (como fintechs) foi mais acelerado do que o dos bancos. Segundo o relatório, enquanto a quantidade de relacionamentos no sistema bancário cresceu 50% em três anos, nas instituições financeiras foi de quase 180%, saltando de 15 milhões para 60 milhões de clientes — principalmente devido às contas de movimentação. Maurício Moura, diretor do BC responsável pelo levantamento, já declarou: avançamos. Do lado de cá, dobrarei a aposta — avançaremos ainda mais em 2022.
Fonte: Shutterstock
Do Brasil para o mundo
Uma tendência que temos visto para o próximo semestre é a abertura de capital de empresas de tecnologia brasileiras nas bolsas dos Estados Unidos. Stone, PagSeguro e Nubank (com IPO prevista para os próximos dias) já rumaram para a Terra do Tio Sam em busca de visibilidade global e maior liquidez.
Como é de domínio público, nem tudo são flores no mercado. Recentemente, o Nubank amargou uma queda no valor de seus papéis, com uma baixa de 20% no valor esperado para a venda de suas ações na Bolsa de Nova York (NYSE); a Stone também teve uma queda de 5,12% na Nasdaq.
Isso se deve, em parte, à iminência de redução de estímulos monetários por parte do Federal Reserve. Entretanto, o mercado americano segue mais estabelecido, com um ambiente político mais favorável. Mesmo que com riscos, as IPOS devem continuar para gigantes brasileiras de tecnologia em 2022.
Por aqui vai tudo bem, obrigado
Aterrissando novamente em terras tupiniquins, a continuidade da transformação digital a todo vapor e a expectativa de novas medidas do BC tornam o próximo ano promissor. Na Grafeno navegamos neste mar de otimismo e não poderíamos estar mais ansiosos pelas registradoras de recebíveis, um dos muitos frutos da Agenda BC#. É com muito orgulho que estamos fazendo parte desta história.
As registradoras representarão um aumento do volume das operações, assegurando mais garantias para crédito. Inclusive, as pequenas e médias empresas ( PMEs) serão as grandes beneficiárias dessa modalidade regulatória — além de mais crédito, elas poderão fatiar suas agendas e negociar com mais investidores —, mas, no fim do dia, vencemos todos.
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Paulo David é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; e é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer to peer do Brasil, que foi adquirida pela PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou na equipe do Pinheiro Neto Advogados, e na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor-anjo em fintechs no Brasil e na Europa.