Há poucas palavras tão presentes no vocabulário do mundo dos negócios atualmente como inovação. A urgência por oferecer soluções novas a problemas antigos tornou-se um predicado de quase toda empresa que busca por visibilidade, valor social e, é claro, condições de atrair clientes, investidores. Porém, o foco em arquitetar soluções cada vez mais sofisticadas, com o auxílio precioso das novas tecnologias, oculta a compreensão de que a inovação, na verdade, pode ser algo simples, prático e descomplicado.
Este é um raciocínio que carrego comigo desde que comecei a me aventurar no noticiário especializado em negócios, tecnologia e inovação, há mais de uma década. Conhecendo e pesquisando a respeito das iniciativas que atingiram algum grau de renovação em seus serviços e atividades, me dei conta de que não são tão somente fatores como a digitalização crescente ou a democratização do acesso à internet que impulsionam a criação de novas soluções.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Fonte: Shutterstock
A inovação é uma ferramenta da criatividade humana que leva seus empreendimentos à frente — e isso desde sempre.
Ariano Suassuna, gênio da nossa literatura, em suas palestras costumava fazer um elogio entusiasmado ao prendedor de roupa. Com seu humor fanfarrão, ele erguia o pequeno objeto, o descrevia e o louvava exatamente por estas duas lascas polidas de madeira unidas por um metal conseguirem conciliar simplicidade e eficiência. Ele fazia isso para ilustrar a criatividade humana, mas acredito que o utensílio doméstico é um exemplo de uma solução engenhosa, criativa e pouco dispendiosa para lidar com uma tarefa corriqueira, mas estressante, como estender roupas no varal.
O prendedor também nos permite ver as múltiplas formas com que lidamos com a tecnologia para resolver problemas. A tecnologia, afinal, não se trata apenas de sistemas complexos, universos feitos a partir de realidade aumentada, drones ou inteligências artificiais, mas de mecanismos diversos utilizados pelas pessoas para seu próprio desenvolvimento.
O ser humano, afinal, só se compreende como tal a partir da sua relação com a tecnologia. Desde o primeiro momento em que fabricamos os primeiros tijolos a partir do barro na construção das primeiras civilizações até quando se tornou possível conectar pessoas por meio do telefone, fazendo o uso de ondas elétricas que se transformam em ondas sonoras.
É natural que quando falamos de inovação o que vem à mente seja o fascínio tecnológico que nos acompanha já há alguns anos. A nova economia, turbinada por uma performatividade algorítmica tão complexa quanto misteriosa, oferece soluções interessantíssimas para nossas demandas atuais, como aplicativos de delivery que coletam informações a respeito da sua localização e preferências e conectam os usuários a determinados restaurantes. Segundo a Pesquisa de Inovação divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020, 33,6% de um universo de 117 mil empresas brasileiras com mais de dez trabalhadores são consideradas inovadoras em algum grau.
Mas reitero que nem toda iniciativa precisa lançar mão de recursos do tipo. Há como inovar dentro de certos limites, mas ainda oferecendo novos olhares para velhas práticas. Elaborar diferentes metodologias de trabalho interno, repensar processos, mudar abordagens, tudo isso serve de exemplo de facetas menos valorizadas, mas ainda assim muito valorosas, da tal inovação. Novas soluções, afinal, vão sempre existir, e não é preciso métodos ambiciosos para isso.
***
Eduardo Cosomano é fundador da EDB Comunicação, agência especializada em assessoria de imprensa e produção de conteúdo, e coautor do livro Saída de Mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, lançado pela Editora Gente.