Desde o último dia 7 de setembro, o bitcoin enfrenta uma correção acentuada que pode ameaçar sua forte tendência de alta mensal. Na ocasião, a principal criptomoeda era negociada acima dos US$ 52 mil e chegou a encarar uma queda de quase 19% até os US$ 42,8 mil. Nos dias seguintes, o preço do ativo conseguiu recuperar 14% de seu valor inicial em um movimento que indicava uma retomada positiva, porém, logo despencou em busca do fundo no patamar dos US$ 40 mil. Mas o que causou essa desvalorização?
Antecipação e realização
Antes de tudo, é importante denotar que o bitcoin acompanha o mercado tradicional de ações e que, neste contexto, os meses de setembro e março são os menos favoráveis em uma tendência de alta — de modo geral, considerando os registros históricos. Contudo, o desanimo mensal pode não ter sido o único fator participante neste movimento de queda.
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Considerando que o medo e o otimismo são os predominantes motores nos mercados voláteis, o atual momento de baixa torna-se um pouco menos misterioso. Além da especulação natural, um dos principais fatores para a queda do bitcoin há duas semanas foi a estreia da moeda como curso legal em El Salvador, que gerou bastante ansiedade e culminou no movimento de venda — impulsionado pela liquidação dos derivativos futuros em otimismo.
Porém, a estreia do bitcoin no país da América Central pode não ter sido a única causa do momento ruim. Segundo os sites CNBC e Money Times, os mercados voláteis estão receosos há algum tempo quanto ao posicionamento do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos sobre o reajuste nas taxas de juros e o relatório de inflação do país. Este fator, por si só, pode ter contribuído com o sentimento de queda e de precaução também no bitcoin.
Conforme detalha o gráfico abaixo, o bitcoin e o índice S&P 500 (representante das maiores empresas norte-americanas) podem estar mais correlacionados do que o esperado:
Gráfico mostra a possível correlação entre o bitcoin e o S&P 500 — em laranja e cinza, respectivamente. (Fonte: Trading View, Wind_surfer/Reprodução)Fonte: Trading View, Wind_surfer
Enquanto a taxa de inflação norte-americana foi anunciada no último dia 12 de setembro, registrando 0,1% abaixo dos esperados 5,4%, o mercado se antecipou e iniciou uma discreta correção ainda no dia 3 de setembro. O movimento perdurou por pelo menos mais 10 dias e levou a uma queda efetiva de 2,2% no índice S&P 500.
Agora, o mercado parece repetir o mesmo movimento de antecipação, já que nesta semana o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos se reunirá para discutir possíveis reajustes nas taxas de juros nacionais e a suspensão dos programas de auxílio emergencial em razão da covid-19. O sentimento de queda já reflete, nesta segunda-feira (20), a uma retração de 5% do topo histórico do S&P 500 — algo que não ocorre desde outubro do ano passado.
Crise na China: o caso Evergrande
Para agravar a situação, um novo fator ganhou os holofotes nos últimos dias. O caso trata-se da gigante chinesa Evergrande, que despontou no mercado atuando no ramo de incorporação imobiliária. Ao longo dos últimos anos, a empresa acumulou dívidas ao efetuar empréstimos para expandir sua capacidade de produção e, por consequência, seu crescimento e lucro — algo também comum para suas concorrentes.
Apesar de ter funcionado, a decisão culminou no débito estimado em US$ 300 bilhões. O problema poderia ter sido resolvido através do próprio modelo de negócios da Evergrande, porém, uma série de novas regulamentações impostas pelo governo chinês no final do ano passado delimitou um teto máximo para o endividamento de empresas no país, desfalcando a estratégia da empresa.
Evergrande ameaça economia chinesa. (Fonte: Seu Dinheiro/Reprodução)Fonte: Seu Dinheiro
Agora, caso a Evergrande falhe em quitar suas dívidas (seja com o auxílio do governo ou não), uma reação em cadeia pode ocorrer na China. Como a maior parte dos ativos da empresa trata-se de imóveis, estes serão vendidos por um preço menor do que o exigido em sua construção, resultando em uma desvalorização geral do mercado imobiliário — como em 2008, nos EUA.
E como isso afeta o bitcoin?
Naturalmente, o sentimento predominante de apreensão leva à busca por liquidez nos ativos, incluindo o bitcoin — embora este seja entendido por entusiastas como uma reserva de valor contra crises. Todavia, parte dos especialistas entendem que a criptomoeda ainda deve encontrar os US$ 100 mil neste ano, caso o mercado siga otimista.
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