O PIX, sistema de pagamento eletrônico instantâneo, começou a funcionar em 16 de novembro de 2020 no Brasil e é considerado uma revolução no setor bancário. Por outro lado, os bandidos estão se aproveitando da facilidade apresentada pela ferramenta para modificar “crimes tradicionais”.
De acordo com um levantamento divulgado pela Folha de São Paulo na última quarta-feira (25), desde dezembro do ano passado foram registrados 202 sequestros-relâmpagos em que os bandidos utilizaram o PIX para roubar o dinheiro das vítimas. O número foi compilado pela inteligência do governo estadual de São Paulo.
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Com a popularização do sistema de pagamento os casos têm aumentado. Entre dezembro de 2020 e março de 2021 foram registrados 51 boletins de ocorrências narrando crimes do tipo. Entre abril e julho deste ano, o número saltou para 151.
Em maio de 2021, segundo a polícia paulista, quase 30% dos sequestros-relâmpagos foram praticados utilizando o PIX como ferramenta de roubo.
Facilidade para os criminosos
Tarcio Severo, delegado da divisão antissequestro do Departamento de Operações Especiais de Polícia (Dope), explicou para a Folha de São Paulo que mesmo as transações pelo PIX deixando rastros, a polícia tem dificuldade de localizar os assaltantes. Isso acontece porque o dinheiro é enviado para a conta de “laranjas”, que são alertados da transferência e evitam que os bancos sejam avisados e bloqueiem a operação.
“No início, era comum que a vítima fosse abordada, seu cartão, roubado, e os criminosos fizessem compras altas com a pessoa, mas o risco de serem pegos era alto. Depois, a tática usada era obter dinheiro com maquininhas de cartão de crédito e débito. Agora, vemos o PIX, que é uma ferramenta ótima para o mercado, mas, para atividade ilícita, é uma arma”, argumentou o delegado.
O delegado Gilberto Tadeu Barreto relatou que a prática de crimes a partir da tecnologia de pagamentos “virou uma praga”. Conforme o especialista, os casos de estelionato com PIX também aumentaram muito. “Foi um mecanismo que os criminosos aprenderam a usar de uma forma muito rápida”.
O delegado disse que os bancos nem sempre estão devolvendo o dinheiro às vítimas, mesmo com um boletim de ocorrência (BO). Segundo Monteiro, determinadas empresas dizem ao cliente que a “senha é pessoal, de conhecimento restrito e que cabe a ele preservá-la”.
Prevenção
Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e professor da FGV, afirmou à Folha que é possível se proteger utilizando dois smartphones, sendo que um deles ficará em casa e será utilizado para o acesso bancário. Ele mesmo ressaltou, porém, que a tática só funciona para pessoas que conseguiriam arcar com o custo de um aparelho extra.
O analista e também membro do FBSP, Guaracy Mingardi, disse que outra forma de prevenção seria pedir ao banco que envie alerta de transações para algum parente próximo. O especialista ressalta que isso poderia facilitar a busca por ajuda caso o familiar veja alguma transação financeira incomum.
Renato Opice Blum, advogado de direito digital e presidente da Associação Brasileira de Proteção de Dados (ABPDados), sugeriu aos usuários do PIX a utilização de chaves de acesso de e-mail ou as chaves aleatórias, o que pode impedir o beneficiário da transferência de acessar dados pessoais como o CPF e o número do telefone.
Fontes