Ser você mesmo no ambiente de trabalho importa, e isso importa tanto que vem aumentando o número de empresas que adotam políticas inclusivas. Esse movimento permite aos funcionários estabelecerem planos de carreira e liderança com a certeza de que não serão afetados negativamente por conta de identidade de gênero ou orientação sexual, além de poderem exercer todo seu potencial sendo quem são em ambientes psicologicamente seguros.
Para as companhias, cria-se uma estrutura corporativa muito mais saudável e aberta, que não apenas reflete a sociedade que vivemos, como pode também afetar positivamente os indicadores econômicos e de inovação. Nesse sentido, já avançamos muito, porém estamos cientes de que ainda há muitos desafios pela frente.
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Quando falamos sobre a importância do papel das empresas em se comprometerem com o Estado e a sociedade, estamos falando de respeito e promoção dos direitos humanos em promover igualdade de oportunidades e tratamento justo às pessoas, criando ambientes respeitosos e saudáveis. Esses são só alguns exemplos do que as empresas podem e devem fazer. Outros exemplos de ações e compromissos podem ser encontrados no site do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, o qual, a empresa onde eu trabalho, Intel, é signatária desde 2019 e somos fiéis a esses compromissos. Então, já fica o convite para as demais empresas se juntarem a nós nessa importante missão.
No ano passado, os Estados Unidos avançaram muito na questão de responsabilidade social das corporações com um recorde de 206 das maiores corporações participando com subsídios e informações para a decisão da Suprema Corte de garantir a proteção das pessoas LGBTI+ contra discriminação no ambiente de trabalho.
Segundo um levantamento da PwC, que ouviu 1.270 profissionais dos setores público, privado e de organizações não governamentais (ONGs), apenas 30% das lésbicas se sentem confortáveis a assumir a sexualidade no trabalho. Para pessoas trans e travestis, é ainda mais difícil.
A ONG Transgender Europe (TGEU) mostra números alarmantes sobre a população trans e travestis, a começar pela terrível primeira posição que o Brasil ocupa em ser o país que mais mata trans e travestis no mundo, além disso essa população tem expectativa de vida de apenas 35 anos. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), somente cerca de 0,02% de pessoas trans estão na universidade, 72% não têm Ensino Médio e 56% não completam o Ensino Fundamental.
Vale mencionar aqui que a palavra “trans” é utilizada para se referir a uma pessoa que não se identifica com o gênero ao qual foi designada em seu nascimento. Contudo, os termos trans, transgênero e transexual podem ser utilizados tanto para identidades masculinas quanto femininas. Já o termo travesti é utilizado apenas para pessoas trans com identidades femininas.
Existem uma série de iniciativas que buscam combater esse cenário. Por exemplo, neste ano a Intel Brasil e a PrograMaria, organização que tem a missão de empoderar mulheres por meio da tecnologia, criaram uma iniciativa para trazer um pouco de esperança para esse cenário. Intitulada #MaisDiversidadeNaTecnologia, a iniciativa conta com palestras educativas sobre transição de carreira, painéis de diversidade, sessões de mentoria semestrais com líderes da Intel, entre outras atividades que contam ainda com a consultoria da TransEmpregos — maior e mais antigo projeto de empregabilidade de profissionais trans. Caso tenha interesse, você pode encontrar mais informações aqui.
O amadurecimento mais tardio do tema de inclusão de pessoas LGBTI+ no mundo corporativo no Brasil pode estar relacionado às características históricas dessa luta. Há avaliações, como a do Instituto Ethos, de que isso se deve ao foco inicial desse movimento, muito mais voltado à transformação da sociedade como um todo do que às conexões empresariais.
De qualquer forma, o tema hoje está gerando cada vez mais debate e ganhando adesões. É preciso cautela para que as empresas entendam que a inclusão corporativa LGBTI+ exige esforços contínuos e não pode ficar restrita a datas comemorativas, como o Mês do Orgulho em junho. É preciso sensibilizar e educar os funcionários para o tema, colocar esse assunto na pauta das reuniões de negócios, ajudar as pessoas com cartilhas de linguagem inclusiva e piadas inapropriadas, trazer especialistas para falar sobre o assunto, bem como distribuir livros e conhecimento, pois os debates internos precisam estar pautados em muito estudo para que possamos avançar e fazer parte da cultura empresarial e da jornada inclusiva de cada um.
As necessidades desse grupo também precisam ser constantemente debatidas, o que pode se dar por meio da criação de grupos de afinidades. Na Intel, por exemplo, o grupo que debate questões LGBTI+ tem mais de 25 anos. No Brasil, foi criado um comitê de Diversidade e Inclusão, formado por funcionários de diversas áreas, no qual um dos pilares são discutidas questões LGBTI+.
Como acontece em todos os grupos que compõem a diversidade dentro de uma companhia, é preciso consciência de que nada se transforma isoladamente. Buscar parcerias, fóruns especializados, debater o tema com outras empresas e sensibilizar os setores que atuamos faz parte desse esforço. Com esse compromisso, os resultados não tardam a chegar, e a empresa conseguirá reter mais talentos, ganhar em produtividade, criatividade, inovação e aumento de receitas, mas o principal motivo disso é: isso é a coisa certa a se fazer.
A empresa só criará a sua marca no mercado como empresa diversa e inclusiva se ela quiser ser intencional nesse assunto, não apenas porque precisa fazer para não ficar atrás das demais e perder competitividade, mas sim porque percebeu o quanto a inclusão é necessária e faz parte do nosso novo normal.
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Telma Gircis é líder de RH da Intel para América Latina e Canadá.
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