Os pagamentos no WhatsApp são uma ameaça ao Pix?

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Imagem: Leonidas Santana/Shutterstock

Em maio deste ano, o WhatsApp anunciou o início de um novo serviço de pagamento dentro do próprio aplicativo. Agora os usuários podem transferir dinheiro para seus contatos como quem compartilha uma imagem ou um áudio. A novidade vem cerca de cinco meses após o lançamento do Pix, que também tem como chamariz a praticidade e simplicidade das transferências. O que poderia dar errado?

Apesar de as soluções serem similares, há algumas diferenças importantes no modo como elas podem ser adotadas pelo público. No caso do Pix, temos como avaliar o impacto por meio das estatísticas liberadas pelo Banco Central. Até o final de maio, mais de 250 milhões de chaves haviam sido registradas na plataforma — um número maior que a população brasileira, visto que cada pessoa pode ter até quatro chaves.

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Em compensação, se pensarmos no potencial de uso da nova ferramenta do WhatsApp, os números também são fortes. Segundo uma pesquisa da Opinion Box, divulgada em janeiro de 2021, 98% das pessoas que possuem smartphone têm o app de mensagens instalado, das quais 86% o utilizam diariamente, ou seja, a capacidade de atingir a maioria dos brasileiros é concreta.

O que não quer dizer, é claro, que todos que usam o WhatsApp vão aderir ao sistema de pagamentos. É importante lembrar que a novidade surge em um momento complicado para a imagem da empresa; há poucos meses, muitas discussões sobre a segurança do aplicativo foram levantadas. O que, inclusive, levou muitas pessoas a migrarem para outras alternativas, como o Telegram (que já tem um sistema de pagamentos e vem expandindo as operações recentemente). Para completar, o serviço de pagamentos já havia passado por uma tentativa de lançamento em 2020, mas foi barrado pelo Banco Central para análise. Portanto, é natural que o público se sinta receoso de envolver dinheiro na relação com seu app mensageiro favorito.

Por sua vez, o WhatsApp está deixando claro todo esforço para manter a segurança das transações. Além da criptografia de ponta, a ferramenta exige a criação de senha e pode utilizar biometria. Os pagamentos são processados pelo Facebook Pay, autorizado pelo Banco Central, em que o acesso é limitado e monitorado. As operações são limitadas — até R$ 1 mil por transferência, máximo de 20 transações por dia e de R$ 5 mil ao mês — e a abrangência do sistema está crescendo aos poucos. Dessa forma, é possível acompanhar com mais cuidado a evolução e possíveis falhas.

Com tudo isso em mente, é seguro imaginar que ainda levará um tempo até que os pagamentos via WhatsApp se tornem corriqueiros, mas acredito que é uma forte possibilidade. O que nos leva à pergunta: isso vai ameaçar o Pix?

Considerando o crescimento constante de usuários com chaves cadastradas e a implementação prévia do Pix, com um lançamento bem-estruturado e sem quaisquer transtornos (como foi o caso do WhatsApp), acho improvável que as pessoas o abandonem.

O que eu acredito, mesmo, é que as duas tecnologias vão coexistir.

Talvez as pessoas prefiram utilizar o WhatsApp para pagamentos menores, informais, e o Pix para grandes transações e uso comercial. Talvez os dois sejam usados das duas maneiras, de forma alternada. O ponto é que um não vai ser um obstáculo tão grande assim para o outro.

O que não se pode esquecer é que um lado está mais fragilizado. O WhatsApp tem capacidade de se tornar tão popular quanto o Pix, desde que não enfrente novamente polêmicas sobre segurança e privacidade, e consiga cuidar bem dos imprevistos que vierem a acontecer.

Vale lembrar que nem todos os bancos são parceiros da plataforma e a criação de novas parcerias também vai depender da repercussão. Enquanto isso, o Pix é do próprio Banco Central e contou com o apoio de todas as grandes instituições financeiras para introduzir e explicar seu uso para a população. Nessa corrida, há potencial para ambos, mas o perigo de ficar para trás pode ser maior para o WhatsApp.

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*André Palis, colunista do TecMundo, trabalhava no Google antes de empreender. Fundou a Raccoon em 2013, em São Carlos, importante polo de tecnologia do Estado de São Paulo, e em 8 anos adquiriu a carteira de grandes players do mercado, como Vivara, Natura, Leroy Merlin e Nubank. Em 2013, notou um gap no mercado digital, pediu demissão da Google e, ao lado de Marco Túlio Kehdi, fundou a Raccoon, uma agência full service que atua como parceira estratégica em toda a cadeia digital. Em 2021, a Raccoon passou por um processo de fusão e agora faz parte da holding global S4 Capital.

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