A resposta é fácil e bem direta: não. Bancos são tipo plástico. Estão fora de moda, mas não vivemos sem eles e demoram bastante tempo para desaparecerem mesmo depois de não serem mais utilizados.
Muitos me perguntam se as fintechs vão substituir os bancos e se eu imagino um futuro sem os grandes bancos. Primeiro, acho importante deixar claro que tenho bastante convicção de que o caminho do digital, do mundo sem portas giratórias, sem filas e sem agências, é sem volta.
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E quem ajudou a criar esse mundo, sem dúvida nenhuma, foram as fintechs. Sem elas, os bancos provavelmente continuariam fazendo o que fazem há centenas de anos: ganhando dinheiro para os acionistas.
Com a chegada dos players digitais, mais rápidos e eficientes, os bancos precisaram se adaptar (e rápido) para não perder mais mercado e tiveram de direcionar recursos que iriam aos acionistas (lucro) para o que os clientes sempre quiseram: melhoria dos serviços, desenvolvimento de produtos mais baratos e eficientes, bem como investir em um atendimento mais digno e melhor.
Além disso, é sempre importante ter em vista que toda a transformação que aconteceu no Brasil foi e é parte de um fenômeno global sem precedentes em que a tecnologia transformou, em poucos anos, o mercado financeiro em diversos lugares do mundo. Tudo aconteceu muito rápido, sem um fator motivador único e ao mesmo tempo.
Assim, verdade seja dita: os bancos conseguiram se adaptar razoavelmente bem e em uma velocidade impressionante a tudo isso. Quem, como eu, disse em 2017 que transatlântico não dava cavalo de pau, queimou a língua.
Mas é fato, público e notório que os bancos estão em um dos momentos mais delicados da história. Em abril deste ano, Jamie Dimon, o CEO do JP Morgan, disse em sua carta anual que: (i) as fintechs são uma tremenda e real ameaça para os bancos (ii); as fintechs vieram para ficar; e (iii) as fintechs fizeram um grande trabalho desenvolvendo produtos fáceis de usar, intuitivos, inteligentes e mais velozes para os clientes. E, por conta disso, os bancos estão desempenhando um papel cada vez menor na sociedade.
Desse modo, acredito que ameaça não significa, necessariamente, extinção, e as fintechs não são o cometa que veio para extinguir os grandes bancos. Isso porque é inegável que estes têm elementos e características que são muito difíceis de se conseguir: marca sólida, brutais ganhos de escala, lucros gigantescos e relacionamento de longo prazo com enorme quantidade de pessoas. Essas características perduram por anos e são espetaculares vantagens competitivas que nenhum novo destaque consegue superar facilmente.
Dessa forma, acredito muito em uma transformação do mercado e, com certeza, alguns bancos ficaram para trás, assim como diversas fintechs também irão sucumbir. Não sei se o laranja, o vermelho, o roxo ou o amarelo. Se o nacional ou o estrangeiro. Se o privado ou o público. Se o tradicional ou a fintech. Mas ainda veremos muita gente ficando pelo caminho.
E isso é excelente para o consumidor. Independente de quem forem os ganhadores, o aumento da competição traz inovação e melhora geral do sistema. A começar pela experiência do usuário e pelo atendimento. Hoje, é inegavelmente mais fácil pagar um boleto, solicitar um empréstimo – mesmo os mais sofisticados, como empréstimo com garantia de imóvel –, obter um serviço e realizar uma transferência.
Em seguida, pela redução dos custos. Pagar menos por uma mensalidade ou determinado serviço, obter uma taxa menor e conseguir melhor rentabilidade pelo seu dinheiro. Depois, pelo surgimento de novos produtos e funcionalidades, como o Pix, haverão parcerias entre bancos, empresas de tecnologia, fintechs e novas modalidades de instituição financeira, como a Sociedade Entre Pessoas e a Sociedade de Crédito Direto.
O mercado está evoluindo e, se eu tiver de apostar, diria que os bancos ainda vão existir por muitos e muitos anos. Agora, qual é o tamanho e o papel que eles vão desempenhar na sociedade? Essa é uma pergunta difícil de responder. Se eu tivesse que respondê-la com base na minha experiência de cliente, diria que bem menor do que é desempenhado por eles hoje.
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Paulo David, colunista do TecMundo, é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer to peer do Brasil, que foi adquirida pela PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou na equipe do Pinheiro Neto Advogados e na da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor anjo em fintechs no Brasil e na Europa.