Há mais de 1 ano, o mundo vem sofrendo as graves consequências da pandemia, a qual, ao menos por aqui, ainda não demonstra sinais de que irá arrefecer tão cedo. A crise sanitária e econômica tem atingido em cheio a capacidade hospitalar e as finanças públicas, que sofrem para dar conta do crescente número de casos de infecção e internações.
A situação de caos sem precedentes vivenciada na saúde hoje reflete, em alguma medida, a necessidade de haver vigilância constante e aprimoramento permanente de técnicas, procedimentos e ferramentas que permitam à medicina operar em sua plenitude. Nesse sentido, não restam dúvidas que a tecnologia e a conectividade podem exercer papel fundamental.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
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Em primeiro lugar, as tecnologias digitais são instrumentos vitais para ajudar as pessoas a lidar com pedidos de permanência em casa e requisitos de distanciamento social durante a pandemia. São essenciais para apoiar os sistemas de saúde, não apenas por meio de aplicativos de rastreamento de telemedicina e covid-19, mas também por meio de big data e análises de inteligência artificial para padrões de mobilidade, modelos epidemiológicos e rastreamento de contato.
Por exemplo, a Conexis, entidade que representa as operadoras de Telecom, disponibiliza para Estados e Municípios o Mapa de Calor, que auxilia os entes públicos a monitorar a movimentação e as aglomerações em tempos de lockdown.
Redução de custos
As vantagens são diversas e alcançam também o Tesouro, que certamente recebem alívio devido à economia gerada em diversas dessas modalidades. A chegada do 5G ao nosso país tem, inclusive, o potencial de alavancar todas essas aplicações. É possível estimar uma economia de muitos milhões de reais no custo do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que os atendimentos remotos e a possibilidade de fazer cirurgias complexas a distância permitem o enxugamento de diversos gastos hoje existentes.
O assunto vem caminhando, por razões óbvias, com mais celeridade recentemente. A Prática Global de Desenvolvimento Digital do Banco Mundial identificou mais de 300 iniciativas governamentais e do setor privado em todo o mundo, nas quais a resposta ao novo coronavírus abrange ações em infraestrutura digital e serviços digitais não somente para saúde, mas também para outros setores fundamentais.
Segundo a Deloitte, um dos principais efeitos resultantes da covid-19 é justamente o salto que a telemedicina deu em consultas médicas baseadas em vídeo. A pandemia não só exigiu a eliminação de barreiras regulatórias a essas visitas, mas também ajudou os consumidores, especialmente os com mais de 65 anos, a entender melhor as novas tecnologias e alavancar os aplicativos de videochamada.
A Deloitte estima que a porcentagem de teleconsultas aumentará para 5% globalmente em 2021
Isso significa atingir mais de 400 milhões de atendimentos médicos por vídeo, o que corresponde a cinco vezes o nível de 2019, representando US$ 25 bilhões de valor no mercado de saúde.
Tais números representam que a telemedicina avançou em 5 meses o que estava previsto para evoluir em 5 anos. Para se ter uma ideia, 46% dos americanos agora usam as ferramentas remotas, em relação a 11% no ano passado. Além disso, a prática contribui para equalizar o acesso aos médicos, derrubar barreiras e equilibrar as desigualdades.
Com tantos benefícios evidentes e em vista da urgência que o assunto requer, resta ao Brasil priorizar políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento da tecnologia no setor de saúde e que permitam à população usufruir das melhores soluções disponíveis. Hoje e sempre.
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Marcos Ferrari, colunista mensal no TecMundo, é presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, nova marca do SindiTelebrasil. É doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi diretor de Infraestrutura e Governo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também foi secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento de 2016 a 2018 e secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Além disso, exerceu o papel de presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo.