Após o afastamento de Serge Hascoet e mais dois executivos, ações da Ubisoft caíram 8% na manhã da última segunda-feira (13). Importantes funcionários da companhia foram alvo de acusações de assédios moral e sexual, além de comportamentos inapropriados para o ambiente de trabalho.
A notícia veiculada pelo jornal francês Liberatión movimentou a empresa como nunca antes. Nela, foi publicado que dois funcionários — o Chief Creative Officer (COO) Serge Hascoet e o diretor dos estúdios canadenses Yannis Mallat — foram afastados da companhia pela prática de "conduta inadequada e comportamento inapropriado para o ambiente de trabalho". Logo em seguida, Cécile Cornet, chefe global de recursos humanos da Ubisoft, deixou o cargo.
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O afastamento aconteceu na véspera do primeiro grande evento online da companhia, o Ubisoft Forward, e um dia após a publicação da notícia no Liberatión. Em nota divulgada à imprensa, o CEO e cofundador Yves Guillemot reiterou que a empresa luta para garantir um “ambiente de trabalho seguro e inclusivo para seus funcionários” e caracteriza os eventos como inaceitáveis, afirmando que ferem os valores adotados pela Ubisoft. Interinamente, Guillemot assume o cargo de Hascoet.
O Ubisoft Forward, evento do fim de semana, não amenizou o impacto das denúncias.Fonte: Ubisoft/Divulgação
Segundo o membro da equipe de RH ouvido pelo jornal, diversos casos de assédio foram devidamente denunciados, mas a equipe de recursos humanos estaria os ocultando. Hascoet seria “valorizado por sua toxicidade, misoginia, homofobia, e seu estilo de gerenciamento que esmaga os outros, além de seu comportamento libidinoso”.
Atenção: o seguinte trecho contém descrições de alguns casos de assédio sexual e moral cometidos pelos ex-funcionários da Ubisoft. Tentamos tornar o assunto mais acessível atenuando as falas e citações. Ainda assim, esteja ciente que a seção pode causar desconforto. Se não estiver disposto, pule para o próximo intertítulo.
Meses sob observação
A investigação pelas ações de Serge Hascoêt começou há meses, motivada pela reportagem de 3 de julho de 2020 do Kotaku sobre a renúncia de Maxime Berland, cofundador do estúdio Ubisoft Toronto. A notícia informa que, em 2014, Berland teria apertado o pescoço de uma mulher e colega de trabalho durante uma confraternização da Ubisoft — ação acompanhada por “piadas” de cunho sexual direcionadas a outras mulheres, incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas para embebedar as colegas e coerção para conseguir relações sexuais.
Franquia Assassin's Creed, Tom Clancy's The Division e Ghost Recon são algumas das criações de Serge Hascoet.Fonte: Ubisoft/Divulgação
As acusações contra o ex-funcionário movimentaram uma investigação interna que alcançou insultos graves de Hascoet contra uma vice-presidente não identificada que, supostamente, “atrapalhava sua criatividade”. Além disso, o executivo é acusado de internamente “drogar funcionários, incluindo em partes mais altas da hierarquia”, forçar diretores criativos da empresa a consumirem bebidas alcoólicas, bloquear uma mulher em um elevador e colocar-se na frente dela enquanto fazia gemidos.
O impacto no mercado
A empresa sofreu com reflexos da movimentação no corpo da equipe. Na manhã de segunda-feira (13), ações da Ubisoft caíram em 8% na Bolsa de Valores. Não é o pior cenário para a companhia, que já enfrentou quedas mais bruscas em outros períodos, mas é a prova de que a fiscalização contra esses abusos deve ser levada a sério.
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