A história da tecnologia volta a falar de uma empresas atual, forte no mercado e que a gente tava devendo por aqui depois de muitos pedidos. É a Acer, presente em vários setores e tem bastante força inclusive aqui no Brasil.
Para saber como ela começou, cresceu e chegou até aqui, primeiro dá aquele joinha no vídeo e aproveite para se inscrever no canal do TecMundo se ainda não for um inscrito. Pronto? Então conheça agora a história da Acer.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
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Começo modesto
A trajetória da empresa começa em 1976 com a fundação da Multitech, uma pequena marca focada em comércio e design de produto em Taiwan. No começo, era só o cofundador Stan Shih, a esposa Carolyn Yeh, alguns amigos investidores, dez funcionários e só 25 mil dólares. O Stan já era experiente, ajudou na produção da primeira calculadora de mesa do país e a primeira caneta com relógio embutido do mundo em empregos anteriores. Só que ele percebeu que o setor iria bombar na região, e resolveu tocar o próprio empreendimento.
Depois de um início como apenas uma agente taiwanesa pra empresas dos EUA, ela começa a fabricar os próprios produtos e vê que aí é que pode dar certo. O Micro-Professor 1, de 1981, foi um dispositivo de baixo custo usado pra ensinar processamento e montagem, sendo mais usado em treinamentos. Ele é um dos modelos de computador com venda de maior duração, sendo comercializado em versões alternativas até hoje por outras marcas que compraram os direitos da máquina. A primeira fábrica própria também abre em 81.
Nos dois anos seguintes, ela lança o Microprofessor II e III, clones parcialmente compatíveis com o Apple II, com algumas diferenças pra operar melhor no mercado chinês. O II tinha um design diferenciado, com um miniteclado já embutido, enquanto III era mais convencional.
O Microprofessor II.
A partir de 1983, a Multitech toma um caminho que a gente já viu bastante aqui na série: ela vira uma fabricante de PCs que na verdade são clones de baixo custo dos modelos da IBM. Só que isso não era tão comum lá do outro lado do emundo, e a empresa se consolida no setor.
A mudança
Em 1987, vem a mudança de nome pra Acer, que é como todo mundo conhece hoje a companhia. Um ano depois, ela faz a oferta pública de ações e daí pra frente é só crescimento. Ela vira a primeira empresa taiwanesa a fabricar memórias DRAM, além de ser pioneira em chips, telas de plasma e dispositivos portáteis por lá.
Os anos 90 servem pra Acer encher o carrinho com divisões de computadores de empresas que não se deram bem no setor. Além de englobar concorrentes, essa estratégia é boa por absorver também patentes e fábricas. Foi assim em 1990 com a Altos Computer Corporation. Em 93 com a divisão de PCs da falida Commodore, aquela da linha Amiga e do Commodore 64. E em 97, absorvendo o negócio de notebooks da gigante Texas Instruments, levando linhas que ela levou pra frente sob o nome Acer, como Extensa e TravelMate.
Já em 1998, ela fornece o primeiro sistema de TI e gerenciamento para um evento esportivo internacional, na décima terceira edição dos Jogos Asiáticos em Bangkok. A empresa vai aparecer bastante nos próximos anos como patrocinadora e apoiadora de competições.
Dividir para conquistar
Também em 98, a Acer se reorganiza em cinco setores pra segmentar os negócios. Nascem aí o grupo de serviços internacionais, o de serviços de TI, de semicondutores, o de produtos de informação e o de periféricos. Esse de periféricos começa a ganhar vida própria, mas aí a empresa ficaria dispersa demais e perderia o foco.
Pra manter PCs como mercado principal, esse segmento portátil vai se transformar em uma fabricante própria, a BenQ. Ela se deu bem em vários mercados sozinha e a Acer deixou de ser parte da administração dela em 2006. A marca vive até hoje com destaque em áreas como a de monitores.
Tonelada de lançamentos
Em 99, sai o primeiro modelo da série mais famosa da Acer, substituindo a antiga AcerPower. É o notebook Aspire 1151, e ele dita o que vai ser essa família: laptops, desktops ou tudo em um pro mercado consumidor, de modelos totalmente casuais até de melhor desempenho. São dezenas de linhas diferentes e claro que não dá pra citar tudo aqui, então conta pra gente qual é o seu modelo favorito nos comentários.
Em 2000, outra separação. Até esse ano, ela tinha uma divisão que fabricava e criava produtos pra outras empresas, pra serem lançados com outros nomes. Só que isso podia causar conflito com os produtos da própria Acer, e essa divisão terceirizada se separa pra virar a Wistron. Já em 2001, ela finaliza as mudanças com uma nova logo, bem parecida com a que conhecemos hoje, mas com um tom mais escuro de verde. A que a gente conhece hoje nasceu em 2011.
É mais ou menos nesse período do começo dos anos 2000 que a empresa mais expande internacionalmente, depois de estudar muito os mercados, focando em distribuição enxuta e marketing direcionado.
Pulando pra 2005, vem uma mudança administrativa radical. JT Wang assume como CEO e presidente, depois de mais de duas décadas trabalhando na empresa. Ele é responsável tanto pelo período de auge quanto pela futura queda, mas a gente está se adiantando.
Em 2006, a Acer vira patrocinadora da Ferrari, depois de três anos como parceira da escuderia. Isso resulta inclusive em produtos especiais da linha Acer Ferrari, incluindo 9 laptops, três monitores LCD e dois smartphones. O Acer Liquid E Ferrari Special Edition foi um sonho de consumo pros fã da montadora. Antes da italiana, a Acer também já tinha patrocinado a Honda na Fórmula 1, em 2000, e o time de futebol Inter de Milão em 2003.
Aí em 2007 ela volta a estourar o limite do cartão com mais aquisições. A compra é a da Gateway, na época uma das maiores empresas de eletrônicos dos Estados Unidos. Junto com ela, vem uma série de marcas, incluindo a linha eMachines de computadores pessoais. Nessa época, ela se torna a vice líder em notebooks e terceira em PCs em todo o mundo.
Já em 2008, ela usa a preferência de compra que a Gateway tinha pra adquirir 75% da Packard Bell, uma empresa dos Estados Unidos famosa por rádios, TVs e PCs que migrou pra Europa. A última compra desse período foi a da E-ten, uma fabricante taiwanesa de dispositivos móveis.
O glorioso 2008
E agora a gente vai parar um pouco nesse ano de 2008, porque tem muita novidade. Pra começar, sai a linha Gemstone de computadores, começando com a série Blue com destaque pra tela LCD Full HD, leitor de BluRay, e som Dolby Surround pra jogos, trabalho e multimídia.
A segunda novidade foi a família Acer Aspire One, que iniciava a marca em uma moda da época: os netbooks, aqueles laptops pequenininhos com foco em seres leves e baratos. Essa série, que começou com processadores Intel Atom e chegou a adotar chips da AMD mais tarde, vai durar alguns anos muito bem e dar dor de cabeça pra marca mais pra frente.
Mas o destaque mesmo é a entrada dela no mercado gamer com uma família que virou quase uma submarca, a Predator. Os primeiros modelos eram desktops que ainda tinham Aspire no nome, apostavam no visual bem diferentão e colorido e com várias opções de configurações.
A linha cresceu muito e agora engloba também notebooks, monitores, projetores, fones de ouvido e outros acessórios focados em alto desempenho, e mais recentemente também em eSports. Várias linhas foram originadas daí, como Triton, Helios e Orion, e já tivemos até um tablet gamer, o Predator 8.
A onda mobile
Em 2009 tem mais lançamentos e crescimento. O primeiro smartphone da marca com Android é o Liquid A1, que também foi o primeiro com o sistema da Google a usar um processador Snapdragon, da Qualcomm, hoje líder de mercado. No ano seguinte, ela ainda lançou os celulares de alto desempenho com foco em design Liquid.
Vieram os modelos Liquid E, Liquid Metal, Liquid Z3, beTouch E110 e Iconia Smart, entre muitos outros. Ela nunca focou tanto em smartphones no ocidente, mas foi pelo menos presente durante esses anos. E tem ainda a família Veriton de desktops, mais voltada pra uso corporativo.
Outro destaque do período foi o Aspire D250, um netbook com dual boot entre Windows Xp e Android, algo inédito no mercado. E depois da moda dos netbooks, vieram os tablets! Em 2010, ela inaugura outra família, a Iconia, pra concorrer com os iPads e que inclui também aqueles híbridos 2 em 1 entre tablet e notebook, com um tecladinho removível.
Agora vamos pra 2011. Nesse ano tem o Allegro, primeiro smartphone da empresa com Windows Phone. Já o Acer Iconia Tab A500 de 2011 foi o primeiro tablet Android a alcançar 1 milhão de unidades vendidas, com chip NVIDIA dual-core, tela de 10,1 polegadas e corpo de alumínio.
O ano marca ainda o primeiro ultrabook dela, o Aspire S3, compacto e leve, mas com aquele preço nada camarada da categoria.
Ele foi seguido do S5, ultrabook mais fino do mundo na época. Falando ainda em 2011, a Acer compra uma empresa de computação em nuvem, a iGware, pra entrar nesse setor de serviços. E ainda é uma das primeiras fabricantes ao lado da Samsung a lançar um Chromebook em parceria com a Google.
Crescer muito não é bom
Os anos seguintes são de crescimento acelerado, mas desordenado. Ela apostou muito em netbooks e perdeu um pouco o rumo em outras categorias, e essas decisões junto com a forte concorrência fez a Acer acumular trimestres de resultados no vermelho. Com o CEO e o presidente pedindo demissão, o jeito foi chamar a única pessoa que seria capaz de colocar a empresa de volta nos trilhos: quem começou ela décadas atrás. O cofundador Stan Shih volta nove anos depois de se aposentar, virando presidente interino e diretor do conselho por um ano, até uma nova calmaria.
Stan Shih.
Nos anos seguintes, a Acer volta a focar em produtos em que ela está mais acostumada, como PCs. Ela ainda cresce bastante em monitores e projetores, virando a terceira maior nesse setor, e até investe em wearables, como o Liquid Leap, de 2014.
Algumas linhas recentes incluem a Swift de laptops finos a partir de 2016 que dura até hoje e os laptops Spin, que tem a dobradiça mais móvel e permitem que você mova a tela em vários ângulos. Em games fora da Predator, tem os computadores e monitores da família Nitro.
O Jibo.
A marca atualmente está em diversos segmentos. Tem monitores, desktops, notebooks, projetores, smartphones, tablets e muito mais. A partir de 2016, ela entra até no mundo dos assistentes pessoais com o robozinho Jibo, e mais recentemente no campo da realidade mista em parceria com a Microsoft, apresentando o headset Windows Mixed Reality.
E no Brasil?
A Acer chegou ao país em 1992, em uma aliança com a distribuidora ACBr. Cinco anos depois, ela compra essa parceira e cria a Acer do Brasil, mas encontra dificuldades em ser líder em PCs no país, apesar de ter conquistado o primeiro lugar em quase todos os nossos vizinhos sul-americanos.
Ela foca no mercado corporativo e deixa o país entre o fim da década de 90 e começo dos anos 2000 por motivos operacionais.
Aí a Acer cai em um limbo aqui no mercado nacional. Ela sobrevive com distribuidores regionais, comercializando notebooks e netbooks importados ou vindos de comerciantes do Paraguai, que traziam os aparelhos com um preço reduzido, mas não de forma oficial e sem garantia ou assistência. Só que por outro lado, isso acabou ajudando a marca por garantir a presença dela no mercado, fazer o consumidor conhecer a empresa e manter até uma base fiel de consumidores.
O retorno da Acer pra não sair mais do Brasil veio em 2009, quando ela retomou a fabricação de produtos no país em parceria de distribuição com a Ingram Micro. Ela aproveitou o bom momento da economia e a alta quantidade de modelos de notebooks e tudo em um no mercado, e se consolidou. Em 2010 e 2011, ela já virou líder em notebooks no país, e lança até hoje seus principais lançamentos aqui no país.
...
Essa é a história da Acer, uma empresa de tecnologia bem variada, com presença forte no mercado e um catálogo gigante. Como sempre, a gente não consegue citar tudo o que ela lançou, então ajuda a gente nos comentários. Se você quiser ver a história de uma empresa, produto ou serviço contada aqui no TecMundo, é só deixar um comentário.
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