A história do Windows Phone, do início à queda [vídeo]

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A gente já contou por aqui a história da Microsoft e do Windows, mas quem é fã sabe (e cobrou) que ficou faltando uma coisa. Pois é, até aqui a gente deixou o Windows Phone meio de lado, mas chegou a hora do sistema operacional móvel ganhar espaço aqui na série de História da Tecnologia.

A seguir, você vai conhecer a origem ainda fora dos celulares, o auge antes de Android e iOS, a queda por uma série de motivos diferentes e a esquisita situação atual em que ele se encontra.

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O começo de tudo

Bem antes de Android, iOS e Windows Phone pensarem em existir, a Microsoft tinha projetos pros dispositivos móveis da época. A primeira tentativa foi o Windows CE, de 1996, e essa sigla não significa nada oficialmente, mas era chamada de Compact Edition. O sistema tinha um kernel diferente do Windows padrão e a Microsoft licenciou o produto pra fabricantes interessadas em usar essa versão.

Um assistente pessoal.

A primeira build se chamou Pegasus ou Handheld PC 1.0 e serviu de base de várias atualizações futuras. Mas o foco não era em celulares, mas sim em PDAs, os assistentes pessoais, que tinham na Palm a principal referência.

O primeiro sistema que realmente foi comercializado apareceu em 2000 e se chamava PocketPC 2000. Os aplicativos eram os clássicos de PDAs, como agenda de contatos e compromissos, mas ele também já tinha versões mobile e bem limitadas do Office, do Windows Media Player e do Internet Explorer.

Um PDA.

O visual lembrava bastante o dos Windows pra desktop dos anos 90. Entre os principais dispositivos que rodavam ele estava a linha iPAQ de assistentes pessoais lançada pela Compaq, e depois continuada pela HP.

Tomando forma

O sucessor é o Pocket PC 2002, que na verdade é de outubro de 2001. A interface foi bem melhorada, cores eram mais vivas e ícones facilmente reconhecidos. Estreias incluem o MSN Messenger e recursos de internet, VPN e terminais remotos, além da sincronização com a novidade Windows XP.

Um sistema operacional móvel.

Essa atualização foi usada pela primeira vez em smartphones, que tavam engatinhando. E, se a gente parar pra pensar, os telefones inteligentes são mesmo um filho entre PDAs e celulares. Os principais modelos da época que rodaram o PC Pocket 2002 eram o Toshiba e570, o E-200 Cassiopeia, da Casio, o iPAQ H3700 e o HP Jornada 565.

Dois anos depois, a Microsoft só aumenta a confusão e troca de novo o nome do sistema. A nova versão se chama Windows Mobile 2003 e herda a mania dos Windows de separar as versões em muitos nomes. Teve a Premium Edition, Professional Edition, para Smartphone e para PocketPCs — uma ideia ruim, mas que espalhou o Windows Mobile em vários mercados. O suporte pra Bluetooth estreou, junto com músicas em MIDI pra jogos e toques de chamada.

O Dell Axim X30.O Dell Axim X30.

Um ano depois veio o Windows Mobile 2003 SE, Second Edition, com várias novidades apesar do nome não indicar. Veio o suporte pra telas VGA, a possibilidade trocar entre visualização em retrato e paisagem, um Menu Iniciar com apps organizados pela sua ordem de preferência e conectividade sem fio padrão WPA. O Dell Axim x30 foi o aparelho de estreia.

A era dos smartphones

Na versão seguinte, a Microsoft mantém o nome, mas muda como nomeia as versões. Pulamos pro Windows Mobile 5, de 2005. A versão foi elogiada por melhorias em sincronia de dados, bateria e armazenamento com memória flash. Ela trouxe complementos como o Office Mobile, um identificador de chamada por foto, suporte padrão a teclados e notificações Push. A Palm era grande na época e o dispositivo da moda com o sistema era o Treo 750v.

Um PDA.O Palm Treo com uma versão atualizada do Windows Mobile.

O Windows Mobile 6 é bem mais estável que a anterior, ampliou o desempenho e traz um visual ligado ao Windows Vista. O Office Mobile com suporte a novos formatos a criptografia do cartão SD são as principais novidades.

Não mudou muito, mas a ideia era essa: o foco estava em oferecer pequenas adições pra tentar ganhar o mercado corporativo, que era domínio da BlackBerry. As versões eram Classic, Standard e Professional, e o touchscreen começava a tomar o mercado.

O HTC Touch era a grande sensação do período não só pela ausência de teclado físico, mas por saber diferenciar toque de dedos com os da caneta Stylus. Ela foi sucedida pelo Windows Mobile 6.1, de 2008, que trouxe uma novidade mais radical no design. A tela inicial foi alterada, recebendo listas horizontais de ícones que são ampliados quando selecionados. Mensagens SMS eram lidas em forma de tópico e o Internet Explorer mobile, embora nunca tenha sido o favorito dos fãs, continuava recebendo atualizações.

O aparelho que mais marcou esse período é nada menos que o Sony Ericsson Xperia X1. Pois é, antes da Sony se separar da Ericsson e migrar pro Android, ela deu uma chance pra Microsoft. 

Três smartphones.O Xperia X1 ainda vinha com Windows Phone.

E essa passagem do 6 pro 7 foi difícil de acontecer. Depois da 6.1, vem o Windows Mobile 6.5. Essa nova atualização intermediária saiu em 2009 foi meio que um tampão, já que a ideia era pular direto pro próximo número.

Ainda assim, ela trouxe adições, como a loja mobile Windows Marketplace, uma interface levemente aprimorada, a tela Today com alguns recursos principais pra você começar o dia, uma tela de bloqueio personalizada e um esquema hexagonal de organizar os ícones que era um pouco desorganizada.

Uma captura de tela.

A Samsung ainda experimentava com sistemas e lançou o Omnia 2 pra essa versão. Só que essa confusão de sistemas operacionais já tinha data para acabar.

Duas pedras no caminho

Já a tal build Windows Mobile 7, de codinome Photon, estava em desenvolvimento desde lá por 2005 e seguia as anteriores: uma mudança aqui e ali, mas nada muito revolucionário. O resultado? Ela foi descartada em definitivo por dois motivos: Android e iPhone. Para começar, em 2007, a Apple apresenta o iPhone e muda completamente o mercado de telefonia.

Em entrevista ao jornal USA Today, o CEO da Microsoft na época, o loucaço Steve Ballmer, desdenhou do aparelho e duvidou que ele fosse ganhar uma fatia tão grande de mercado.

Nem precisa dizer que ele errou feio, e que o surgimento do Android no ano seguinte só deixaria a concorrência ainda mais pesada. O executivo Terry Myerson foi então encarregado de correr atrás e desenvolver a nova a família Windows Phone.

Terry Myerson.Terry Myerson teve a tarefa de reorganizar a casa depois de Android e iOS.

O Windows Phone 7 foi a resposta, apresentado durante a MWC 2010 em Barcelona depois de ser feito do zero. Ele trouxe grandes novidades começando pela interface Metro, que trazia as live tiles. Esses são aqueles quadros ou retângulos coloridos e interativos que substituem ícones e mostram mais conteúdo que o normal, além de serem totalmente personalizáveis.

Essa versão trouxe a divisão de conteúdos por Hubs, concentrando várias informações numa só tela. Uma delas era a de Pessoas, que une seus contatos telefônicos e de redes sociais e junta as formas de comunicação como uma única agenda. A busca ficou a cargo do Bing e havia suporte pra multitoques.

A parte de PocketPCs, já estava praticamente morta nessa época, foi definitivamente enterrada como sugere o novo nome.

A pressa no desenvolvimento ainda fez com que ele não fosse retrocompatível com apps do Windows Mobile. Os aparelhos de estreia dessa novidade incluíram o Samsung Omnia 7, o LG Optimus 7, os HTC 7 Trophy, Mozart e HD7, além do Dell Venue Pro. O lançamento foi em outubro de 2010.

O sistema seria bem sucedido, mas nem por isso a Microsoft deixou de escorregar em alguns projetos. Erros clássicos no mobile incluem o Zune, um player de mp3 lançado inicialmente em 2006 com uma interface bem bolada, mas que nem arranhou o reinado do iPod. E tem o fracasso absoluto Kin, de 2010, um smartphone voltado pra jovens descolados que consumiam redes sociais.

Dois celulares.Os dois fracassos da linha Kin lado a lado.

O celular era tão ruim, mas tão ruim, e vendeu tão pouco que teve as vendas encerradas em dois meses. Tava claro que era melhor a Microsoft licenciar o sistema ou apostar em alguma marca de confiança. E ela fez as duas coisas.

O casamento com a Nokia

Em 2011, a ainda lendária mas já em crise Nokia abandona o sistema operacional Symbian, que também já tinha sido líder e agora caía no esquecimento, e vira parceira da Microsoft. O CEO da finlandesa, Stephen Elop, e o da norte-americana, Steve Ballmer, anunciaram juntos o início dessa grande amizade. Os modelos Lumia 710 e Lumia 800 foram os primeiros da família baseados no Windows Phone 7, e meses depois foram seguidos pelo Lumia 900.

Duas pessoas se cumprimentandoElop e Ballmer selando o acordo que duraria anos.

Um ano depois, veio a atualização conhecida como Mango, que é também chamada de Windows Phone 7.5 e colocou dezenas de pequenas melhorias na navegação. A Tango e a 7.8 também saíram com o tempo, mas sem tanto destaque. Em 2 de setembro de 2013, a união com a Nokia vira definitiva e a Microsoft compra a divisão mobile da finlandesa, incluindo os direitos da linha Lumia, plural da palavra em finlandês Lumi, que é neve.

Agora vai?

O Windows Phone 8, de 2012, deveria finalmente começar a unificar a experiência mobile com desktop, sendo baseado no kernel do Windows NT pela primeira vez. Tiles com tamanho personalizável, suporte pra telas HD, o Internet Explorer 10, suporte pra processadores multicore e NFC são as principais novidades. A versão foi bastante elogiada no geral. Só que a adoção continuava tímida: a Microsoft tinha em 2013 3,2% do mercado, segundo a IDC. Isso era o suficiente só pra passar a Blackberry, mas longe de sonhar com o segundo lugar.

Uma captura de tela.As live tiles.

O Windows Phone 8.1 estreou a assistente pessoal Cortana, a Central de Ações pra exibir notificações, um economizador de bateria e melhorias no elogiado teclado WordFlow. Ele é considerado a versão definitiva por muita gente, e a demora em atingir esse ponto é uma das maiores reclamações de investidores, usuários e da indústria em geral.

Uma mão digitando.O elogiado WordFlow.

A partir daí, as críticas ao Windows Phone não paravam, e várias delas eram bem argumentadas. A loja era muito inferior em comparação com App Store e Google Play e atualizações em vários aplicativos demoravam muito mais pra chegar por lá. Nos últimos anos, o sistema até foi ignorado, como no caso do fenômeno Pokémon GO.

Os últimos suspiros

Mas o Windows Phone então não tinha nada de bom? Peraí, não dá pra exagerar pra nenhum dos dois lados. Ele trouxe alguns recursos bem interessantes e que ainda tão na memória de quem teve ou ainda tem um smartphone com a plataforma.

Dá pra destacar o teclado WordFlow, usado pra bater recordes de digitação em celular; o app Lumia Camera, que agora voltou nos Androids da Nokia; o preço bem acessível pra que iria comprar o primeiro telefone moderno e as próprias live tiles que eram um diferencial em relação aos concorrentes.

Uma montagem.

A última versão dessa história é também a última mudança de nome. A nova versão vira Windows 10 Mobile, e a ideia aqui é unificar o ecossistema Microsoft com a Universal Windows Platform, que permite o desenvolvimento único de apps pra todos os aparelhos, incluindo até Xbox.

Assim como no Windows normal, a versão mobile teve atualizações grandes com nomes parecidos. A última foi a Creators Update, que incluiu leitor de ebooks no navegador Edge. Só que apenas 11 modelos foram habilitados pra atualização.

Dois smartphones

Os últimos aparelhos da família foram o 950 e 950 XL, de dezembro de 2015. A dupla tinha especificações bem interessantes e acompanhava a tecnologia Continuum, que transformava o smartphone em um mini PC se conectado a periféricos. Os dois modelos foram muito especulados por aqui, mas não chegaram no Brasil. A desculpa oficial da Microsoft foi a crise econômica daquele período, mas a gente sabe que o problema era bem maior que isso.

Paixão nacional

O Brasil teve aparelhos com PocketPC e Windows Mobile vendidos em baixa escala, mas existiam. Com Windows Phone, o primeiro foi o HTC Ultimate. Ele saiu em outubro de 2011, custava 1.800 reais e tinha tela de 4,7 polegadas.

Dois smartphones.O HTC Ultimate.

Entre os destaques, tem muitos Lumia e não dá pra citar tudo, mas vamos falar de alguns. Tem o Lumia 520, que foi aparelho de entrada por um bom tempo; o Lumia 720, considerado o melhor custo benefício, e o elogiado Lumia 925 com display AMOLED. Não dá pra esquecer ainda do Lumia 1020, com uma câmera definitiva pra smartphones na época, e o top de linha Lumia 1520, com tela de 6 polegadas. Por fora, estão concorrentes como o HTC One M8.

Um smartphone.O Lumia 1020 e a peculiar câmera traseira.

Em 2014, o Windows Phone era o sistema operacional móvel que mais crescia em vendas, apesar de nunca conseguir a liderança do mercado. Em abril de 2015, o Brasil era o segundo maior mercado de Windows Phone no mundo. Já no começo de 2017, ele só tinha 0,1% do mercado. Uma comunidade fiel, mas que tava no limite da paciência.

Que fim levou?

E, afinal, qual a situação atual do Windows Phone? Dá pra resumir em... nada boa. Se antes ele tinha poucos aplicativos, agora tem ainda menos, porque várias desenvolvedoras descontinuaram ou pararam de atualizar os serviços por lá. Alcatel, Lenovo, Huawei, ZTE e Blu tentaram enveredar pelos caminhos do Windows Phone, mas nenhuma foi tão longe.

Um smartphone.O HP Elite X3.

Com a própria Microsoft largando mão, só algumas fabricantes da resistência tentaram lançar produtos com Windows Phone. O mais recente foi o Wileyfox Pro, de setembro de 2017, e esses últimos incluem o Acer Liquid M330, o Panasonic Toughpad FZ-F1, o HP Elite X3, o VAIO Phone Biz, o Alcatel Idol 4S, o Blu Win HD, o HTC One M8 e outros de marcas menores.

Em outubro de 2017, o executivo Joe Belfiore postou no Twitter talvez a última pá de terra no sistema. Ele disse que hardwares e funções não são mais o foco e que a base de usuários é baixa demais pra atrair investidores e criadores, mas que a Microsoft ainda apoia a plataforma.

Existem rumores a respeito do lançamento de um Surface Phone, um celular revolucionário em produtividade, mas isso não se concretizou até agora e parece cada ano menos provável. A gestão de Satya Nadella na Microsoft enterrou os planos da empresa em hardware mobile, ao menos por enquanto, e tem focado com sucesso em serviços na nuvem e programas pra outros sistemas. Com o mercado já bem dividido entre Android e iOS e com a experiência recente, dá pra prever que a Microsoft só entra de novo nessa briga se tiver certeza.

...

E essa é a história do Windows Phone, uma trajetória que não tem um final feliz, mas é uma história bacana e que com certeza rende boas memórias da comunidade que foi fã dessa família. Se você quiser ver a história de uma empresa, produto ou serviço aqui na série de História da Tecnologia, é só deixar a sua sugestão nos comentários.

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