Já deu para notar que nos últimos anos a oferta de produtos chineses cresceu no Ocidente, especialmente no Brasil, onde há até mesmo sites em português e frete grátis, que é o maior atrativo para a clientela daqui. Isso vem aumentando o volume de encomendas e o uso do serviço postal teoricamente pessoal — mas com fins comerciais — tem causado problemas financeiros e de logística, segundo os Correios, que já até chamam os importadores on-line de “camelôs eletrônicos”.
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Os países que recebem produtos da China subsidiam a distribuição em cada um de seus mercados, diz presidente dos Correios
Estariam nessa definição as pessoas que compram itens abaixo de US$ 100 de sites da China e os revendem por aqui sem pagar impostos. De acordo com o presidente da estatal, Guilherme Campos, esse fluxo de mercadorias pode ser encaixado em uma manobra comercial que custa aos Correios aproximadamente R$ 1 bilhão ao ano.
O presidente dos Correios, Guilherme Campos
Por uma encomenda registrada, utilizada normalmente para vendas, a companhia receberia pelo menos cinco vezes mais para fazer o processamento e a entrega. Dessa forma, cerca de R$ 15 deixam de entrar na conta para cada volume que vem para cá. “Os países que recebem produtos da China subsidiam a distribuição em cada um de seus mercados”, comenta Campos, ao Valor Econômico.
Alto fluxo e falta de registro dificultam a logística
O Brasil recebe atualmente cerca de 300 mil objetos em dias úteis, o que significa um aumento de 200% do volume diário em um período de dois anos. Entre os itens mais importados estão roupas, livros, utensílios domésticos e, principalmente, eletrônicos. Os sites chineses costumam contratar serviços postais mais baratos, chamados de “pequenas encomendas simples”, que vêm sem código de rastreamento.
Além disso, as etiquetas desses produtos vêm fora do padrão internacional, sem CEP do destinatário em código de barras. Assim, não há como monitorar a entrega em tempo real e nem garantir se ela realmente vai chegar até quem encomendou. Segundo Campos, a falta de dados causa um impacto negativo muito grande aos Correios, pois todo o processo manual de triagem é prejudicado e, consequentemente, os prazos também acabam sendo afetados.
China também está na mira dos serviços postais de outros países
Essa “manobra comercial”, de uso dos Correios de forma pessoal mas para fins comerciais, também é utilizada por outros países, porém, a China se destaca devido à intensa e ampla oferta de cacarecos ao público brasileiro. Campos diz que o “aumento desproporcional” de reclamações por demora na entrega pode ser atribuída aos “camelôs eletrônicos” e não exatamente aos consumidores finais.
Esse assunto já vem sendo discutido pelos 192 membros da União Postal Universal, uma agência das Nações Unidas, e em novembro do ano passado 11 congressistas norte-americanos recomendaram ações a respeito, mas até agora isso não deu em nada.
Brasil busca solução com os varejistas orientais
Para amenizar os problemas (e a crise que vivem os Correios), a estatal vem buscando aproximação com os fornecedores chineses, em uma tentativa de convencê-los a enviar detalhes sobre os produtos via dados eletrônicos. Outra solução seria a implementação de um sistema que cobraria o custo de frete no momento da entrega ao comprador — o que comprometeria as ofertas de entrega grátis.
Atualmente, os objetos trazidos do exterior, definidos como “pequenas encomendas simples”, demoram em média 40 dias úteis para serem liberados pela fiscalização. Um consumidor pode esperar, então, até três meses até receber sua encomenda. Com a atual greve, vai demorar mais ainda.
Fontes