Há muito tempo, em uma galáxia não tão distante assim... Analistas apontavam uma probabilidade de 40% de que a Apple comprasse a Netflix. Assim, na lata, a companhia do iPhone poderia dar um destino para parte dos USD 252 bilhões que a empresa tem para repatriar.
A compra de uma marca tão amada pelos fãs e seu acervo de séries e filmes originais seria uma jogada de mestre de Tim Cook. Antes mesmo de qualquer aquisição, a Apple já possui seus planos para criação de conteúdo. A briga deve ficar ainda maior, já que nomes como Facebook e Disney ainda planejam trabalhar com a produção de conteúdo próprio ou voltado para streaming.
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Para enteder melhor essa verdadeira guerra do streaming, o The BRIEF conversou com Fernando Elizalde, principal analista de pesquisas do Gartner. Ao que parece o tabuleiro desse conflito fica assim em 2018:
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Não há uma projeção oficial de investimento em conteúdo original para streaming. No entanto, Elizalde indica que é possível fazer observações de acordo com o que essas empresas já declararam. Vamos a elas:
• A Netflix afirma que vai gastar USD 8 bilhões em aquisição de conteúdo - mas nem toda essa grana vai para conteúdo original. A estimativa é a de que pelo menos 35% (USD 2,8 bilhões) desse investimento seja em séries próprias, como Stranger Things, Narcos e outras. A empresa liderada por Reed Hastings já apontou que pretende rechear, pelo menos, 50% de seu acervo com séries e filmes próprios.
•A Amazon gastou USD 4,5 bilhões - também com aquisição de conteúdo em geral. A produção de originais fica com um terço do valor, ou seja, USD 1,5 bilhão. Em 2018, a expectativa dos analistas é a de que essa soma seja elevada.
• O Hulu investiu USD 2,5 bilhões em conteúdo no ano passado e promete repetir a dose em 2018. Um executivo da companhia indicou que a companhia segue a toada da Amazon no gasto com séries e filmes próprios. Ou seja, pela casa dos USD 1 ou USD 1,5 bilhão.
• A Apple também anunciou que vai colocar o "seu USD 1 bilhão" em conteúdo original nesse ano. O mesmo valor que o Facebook pretende tirar do bolso para produção de material próprio, BTW.
Gigantes do entretenimento investem pesado por um lugar no seu sofá
Ou seja, contando apenas essas cinco companhias, podemos apontar para cifras em torno de USD 9,5 bilhões só para produção de filmes e séries originais - sem contar o que vai ser pago em direitos e contratos semelhantes. A conta ainda exclui produtores de conteúdo para streaming locais (como a ICFlix, do Oriente Médio, e a IROKO, da Nigéria), apesar de eles serem representativos em seus mercados.
Algoritmos, distribuição e reconhecimento
Em dezembro, a Netflix lançou seu primeiro blockbuster. Estrelado por Will Smith e dirigido por David Ayer (o mesmo de Esquadrão Suicida), Bright contou com uma boa dose de algoritmos na sua promoção. De acordo com o perfil de cada usuário, a empresa mostrava artes específicas do filme ou até pop-ups durante a navegação para promover a produção.
Com os críticos e público, o filme não emplacou. No entanto, é inegável que a plataforma de streaming tem um controle muito maior sobre sua audiência e de como ela consome suas produções. Aliás, esse é outro ponto. Qual o impacto que esses "filmes de algoritmo" podem ter no que você assiste nas salas de cinema?
Filme "feito por um algoritmo", o primeiro blockbuster da Netflix não emplacou
De acordo com Elizalde, os filmes de plataformas de streaming ainda precisam de reconhecimento. Ou seja, só faz parte do "clubinho" quem tem estreia em circuitos comerciais.
"Por enquanto, as produções da Netflix têm lançamento exclusivo na plataforma de streaming. Isso significa que elas não possuem tanto reconhecimento e o marketing adicional que outros lançamentos originais recebem. Uma estreia no cinemas traz ainda a possibilidade de competir em premiações (Oscar Bafta, Globo de Ouro, Goya e outros festiveiais)", comenta o gerente de pesquisas.
A fórmula parece simples, reconhecimento gera demanda e a demanda faz as pessoas comprarem ingressos - ou assinarem sua plataforma. No campo das séries, a Netflix já tem um histórico de sucesso, com 72 premiações no Emmy. Elizalde conta que a empresa chegou a exibir Fé de Etarras nos cinemas da Espanha, para que o filme competisse no Goya.
Já a Amazon, teve mais sucesso na conquista de prêmios da Academia. Uma exemplo é Manchester à Beira-Mar - indicado a seis categorias no Oscar, o filme levou para casa duas estatuetas respeitáveis: melhor ator (Casey Affleck) e melhor roteiro original. Ainda assim, o impacto de uma premiação como essa ainda é relativo.
Estreias em circuitos comerciais ainda são importantes para criar demanda pelos filmes, no entanto, os custos de distribuição e marketing são muito maiores do que um lançamento em serviço de streaming.
Isso, sem falar em Disney...
Até aqui comentamos sobre Netflix, Amazon, Apple, Hulu... Mas, e a Disney? Contando franquias queridinhas de várias tribos (Marvel, Star Wars) e agora com conteúdo da Fox (Alien, Simpsons) - sem falar dos X-men e outras propriedades da Marvel - a gigante do entretenimento ensaia sua entrada no mercado de streaming.
Marvel é só uma das marcas que a Disney pode trazer para sua plataforma de streaming
A chegada da marca ainda é uma questão de especulação, já que foi anunciada antes da compra da Fox. O catálogo de uma plataforma própria pode ser limitado por conta da especialização de cada um desses estúdios e produtoras. Ou seja, um filme da Disney ou da Pixar nem sempre terá um público semelhante aos longas da Marvel/Star Wars.
Elizalde lembra que a aquisição da Fox pode ser fundamental para a casa do Mickey se dar bem no streaming, já que expande imensamente o vasto catálogo da empresa. Com uma ressalva, a empresa não necessariamente depende do sucesso nessa área.
A posição da Disney é muito diferente, sendo o serviço de transmissão uma outra forma de distribuir seu conteúdo, alcançar audiências e aumentar suas receitas, e não a única fonte de retorno sobre o investimento feito na produção de conteúdo.
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Streaming Wars: Netflix, Apple e Disney prometem uma briga boa em 2018 via The Brief
Fontes