Quem não estava muito desligado das notícias do mundo durante a virada de ano que aconteceu nos últimos pode ter ficado um pouco receoso com as trocas de “carinho” bastante infantis – mas perigosas – entre dois chefes de nações do planeta: Donald Trump e Kim Jong-un. Após uma troca de mensagens entre os dois com ameaças que, caso se concretizem, podem destruir a vida na terra, o líder supremo da Coreia do Norte fez outras revelações que dizem respeito ao relacionamento com a Coreia do Sul, cortado há cerca de meio século.
Na realidade, trata-se da reabertura de uma linha telefônica entre os dois países que faz parte de um processo que Kim Jong-un chamou de “solução pacífica” para o conflito entre os países. O líder também afirmou que “as conversas devem começar assim que possível”, mas a primeira ligação entre as duas Coreias já aconteceu hoje mesmo (03).
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"O líder norte-coreano Kim Jong Un apenas afirmou que o 'Botão Nuclear está em sua mesa em todos os momentos'. Alguém de seu regime abatido e faminto, por favor, informe-o de que eu também tenho um botão nuclear, mas é muito maior e mais poderoso do que o dele, e meu botão funciona!"
Mas... por que?
Ninguém – além do próprio Kim e seus camaradas mais próximos – sabe exatamente quais são as intenções por trás dessa ação, que é vista, obviamente, com desconfiança pelo Ocidente. Se por um lado essa aproximação tem um lado muito positivo (sobre o qual vamos tratar mais à frente), a retomada de contato entre os dois países pode ter como objetivo abalar a relação entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos, inimigos declarados irredutíveis dos norte-coreanos.
A linha telefônica reativada pelo governo norte-coreano liga duas construções que ficam a apenas 100 metros uma da outra, na região desmilitarizada da fronteira entre os dois países
A vantagem é que essas conversas entre as duas Coreias podem dar um clima mais pacífico para a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, que vão acontecer entre 9 e 25 de fevereiro desse ano no condado sul-coreano de PyeongChang.
A linha telefônica reativada pelo governo norte-coreano liga duas construções que ficam a apenas 100 metros uma da outra, na região desmilitarizada da fronteira entre os dois países, em uma vila chamada Panmunjon. Desde 2016 não havia uma conversa por meio desse canal: o lado sul havia fechado um complexo que empregava funcionários dos dois países em retaliação aos testes nucleares da Coreia do Norte e a comunicação parou, mesmo com os sulistas ligando duas vezes por dia para tentar retomar o contato – o norte nunca mais havia atendido.
Fronteira entre Coreia do Sul (abaixo) e Coreia do Norte (acima). No centro, as estruturas onde se encontram as estações telefônicas que conectam os países
Telefone que parou no tempo
O terminal telefônico do lado sul não é segredo para ninguém: diversas fotos mostram como o dispositivo funciona, apesar de ninguém saber qual hardware é usado no lado norte. Nada aprece muito moderno – é uma simples linha telefônica direta que só pode ligar de um lado para o outro. Porém, para iniciar a comunicação, os sul-coreanos usam o fone verde e para receber as chamadas da Coreia do Norte, usam o fone vermelho.
No centro da estação telefônica encontra-se uma tela que parece ser de um computador rodando Windows XP
Dois relógios marcam a hora em cada um dos países. Uma curiosidade interessante é que a Coreia do Norte está meia hora atrás da Coreia do Sul mesmo com os dois países praticamente alinhados dentro do mesmo paralelo. Esse fuso horário é usado apenas pelos norte-coreanos e nenhum outro país do mundo se encontra na mesma hora que eles.
No centro da estação telefônica encontra-se uma tela que parece ser de um computador rodando Windows XP – pelo que podemos apurar apenas pelo fundo de tela. Também é possível ver algumas conexões USB, drives de DVD e outros botões e marcações menos esclarecedoras.
Estação telefônica no lado sul
Guerra ou paz?
Não ficou muito claro e nem são unânimes as opiniões sobre o que isso tudo significa. Será que Kim Jong-un está usando isso como uma distração para algo maior? Ou está tentando interferir com a diplomacia entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos às vésperas de um evento de porte internacional e que muito envolve o mundo ocidental?
Talvez seja apenas o retorno de um contato com seu vizinho do Sul e uma tentativa de fato de uma solução pacífica de problemas que afetam muita gente na fronteira entre os dois países, que é mais movimentada do que se imagina. Seja como for, o jeito é torcer para que tudo não passe apenas de suspeitas infundadas e que possamos estar todos vivos para ver as duas Coreias conversando de fato pacificamente algum dia.