Do Japão para o mundo: a história da Toshiba [vídeo]

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Quando alguém fala em Toshiba, o que vem na sua cabeça provavelmente são ótimas memórias de eletrônicos. A empresa é mesmo muito querida aqui no Brasil até hoje — e é sobre ela que a gente vai falar aqui na série da história da tecnologia.

Você vai conhecer a origem super antiga dela do outro lado do mundo, a consolidação como uma gigante, a explosão no Brasil em uma parceria que durou décadas com a Semp, os erros feios de negócios e a situação atual. Está pronto? Então vamos direto para a história da Toshiba.

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Uma união de gênios

A Toshiba é uma das empresas de origem mais antiga que a gente já falou por aqui. O começo dela é a fusão de duas empresas. A Tanaka Seisakusho, ou Tanaka Trabalhos de Engenharia foi fundada em 1875 por Tanaka Hisashige, um dos inventores mais importantes do país. Tanaka é considerado o gênio das maravilhas mecânicas e o Thomas Edison do Japão, não é pouca coisa. Ele começou a carreira fazendo bonecas karakuri, mas inventou também um relógio super complexo e até modelos de navios de guerra.

Uma foto de Tanaka Hisashige.Tanaka Hisashige

A companhia foi a primeira a fazer um telégrafo no país e foi uma das grandes responsáveis por ajudar o Japão a se modernizar na Restauração Meiji, uma das revoluções políticas mais importantes do país e derrubou o governo em forma de xogunato. Ela mudou o nome de Tanaka para Shibaura pouco depois da morte do seu fundador.

Já a Tokyo Denki, ou Tokyo Eletricidade, foi fundada por Miyoshi Shoichi e Ichisuke Fujioka em 1890 como Hakunetsusha. Ela começou vendendo lâmpadas elétricas de filamentos de bambu, as primeiras fabricadas no país, além de criar a lâmpada elétrica de duplo filamento.

Lâmpadas antigas.Algumas lâmpadas antigas da Tokyo Denki.

Depois de um terremoto em 1923 que deixou muitos danos e até causou a morte de vários funcionários, a companhia muda o foco e passa a fornecer também equipamentos médicos e de transporte.

Reconstruindo o Japão

Na década de 1930, o governo japonês proíbe a fabricação de bens para casa, para economizar metais e outras matérias-primas e direcionar tudo ao setor militar. Foram tempos difíceis e as duas companhias começam então a colaborar, já que as duas faziam parte de um conglomerado bancário chamado Mitsui, um dos maiores do Japão.

Em 1939, elas as duas resolvem fazer uma fusão para virar uma marca independente. Nasce a Tokyo Shibaura Denki, a Toshiba.

Com a Segunda Guerra Mundial acontecendo, a recém criada Toshiba é chamada para ajudar a fabricar produtos como rádios, suprimentos militares e geradores. Só depois, nos anos 50, que ela volta para produtos pro consumidor que ela fazia antes. Como a gente contou na história da Sony, o Japão se reconstruiu e fez as marcas crescerem.

Um tanque de guerra na fábrica

Aliás, uma das marcas que fez a fusão foi a primeira a lançar máquina de lavar, refrigeradora, panelas elétrica de arroz, processador de palavras e fornos de micro-ondas do Japão.

Voos mais altos

Nos anos 60, ela continua com obras e equipamentos diferenciados. Em 63, ela constrói uma turbina para geradores de energia nuclear e um dos sistemas de monitoramento dos trens bala no país. O primeiro Video Phone a cores, lançado em 1970, também é da Toshiba.

Nos anos 80, sai o primeiro sistema de ressonância magnética do Japão, o primeiro ar-condicionado caseiro fabricado no país e também o primeiro laptop vendido comercialmente, o T1100, em 1985. Ela também lança a primeira lâmpada fluorescente com o bulbo em forma de esfera, a Neo Ball. E foi só um ano antes, em 84, que a Tokyo Shibaura Denki vira Toshiba e ganha a logo vermelha tradicional. Antes, a abreviação já era usada no Ocidente.

A logomarca da ToshibaA logo usada em um elevador.

Nos anos 90, a Toshiba passa a lidar mais com o setor de memórias e transistores. Ela também entrou em um consórcio com a Warner para lançar um disco chamado Super Density, ou SD, e rivalizou com o grupo formado por Sony e Phillips, do Multimedia Compact Disc, o MMCD.

No fim, para evitar a briga que rolou na geração de antes entre VHS e Betamax, os dois lados se juntaram no Digital Video Disc, o nosso bom e velho DVD. O primeiro player desse disco no mundo, o SD-3000, adivinha: é da Toshiba.

Um computador antigo.O SD da Toshiba não vingou, mas ajudou a formar o DVD.

Ela aí começa a se dividir e criar subempresas dentro de si mesma para gerenciar cada parte dos negócios, tipo equipamentos médicos, infraestrutura e transporte, dispositivos e por aí vai.

Em dezembro de 2004, ela encerrou a fabricação da lendárias TVs de tubo e, em 2006, dos modelos de plasma

Ela mantém uma parceria com a fabricante Orion Electric para continuar lançando eletrônicos. No lugar, ela foca no LED e na linha REGZA.

E aí vem uma compara atrás da outra. Em 2000, ela transforma a SanDisk em subsidiária para fabricar semicondutores e cartões de memória, especialmente para câmeras. Em 2009, ela compara a divisão de discos rígidos da Fujitsu, além de adquirir a companhia de energia Landis+Gyr em 2011. Em 2012, foi a vez de adquirir a divisão de terminais de ponto de venda para o varejo da IBM.

Um notebook da Toshiba.

Entre as últimas boas notícias da marca, em 2014 ela lança o Chromebook 2 em parceria com a Google e o tablet DynaPad em 2016. No ano anterior, anuncia uma memória flash em 3D com 48 camadas para gravar mais dados em menos espaço, e que agora em 2017 tá ainda melhor. Ela ainda lança a primeira TV 3D do mercado que não precisa de óculos especiais.

A Toshiba hoje

Nos últimos anos, a Toshiba abandonou várias das divisões de fabricação de aparelhos e foca em três grandes negócios. O primeiro é o de semicondutores, especialmente memória Flash com chips em smartphones, SSDs e cartões de memória. Ela chegou a ser vice-líder nesse mercado. O segundo é maquinário industrial e o terceiro é o segmento de energia.

Mas a situação atual da Toshiba não é nada boa faz tempo. E ela começou com um erro feio da empresa ao investir em energia nuclear. Em 2006, ela comprou a companhia de energia por 5,4 bilhões de dólares.

Uma usina nuclear.Uma das usinas da Westinghouse em construção nos EUA

Essa é uma das maiores donas de reatores nucleares dos Estados Unidos e, na época, a expectativa é que esse mercado disparasse. O preço foi considerado alto, mas a Toshiba apostou tudo e até comprou empresas menores no setor.

Mas o acidente na usina de Fukushima e a concorrência de energias alternativas mais baratas, como o gás natural, enfraqueceu muito esse mercado. Só no ano fiscal de 2016, as perdas nesse setor foram de 8,4 bilhões, bem mais do que ela pagou pela empresa inteira!

Fica ainda pior

O pedido de falência veio em maio de 2017. Usinas que ficaram com obras pela metade, atrasadas em anos e já bem acima do orçamento serão finalizadas graças a pagamentos parcelados dessas dívidas.
A Toshiba ainda se envolveu em um escândalo fiscal que sujou a imagem da marca e foi descoberto em abril de 2015.

Nos seis anos anteriores, ela teria inflado os lucros em mais de 1 bilhão de dólares e falado que tinha superado as metas, quando na verdade estava longe de conseguir. As ações despencaram e o CEO Hisao Tanaka pediu para sair.

Chips de computador.

A saída que a empresa encontrou para aliviar os problemas foi vender um dos seus bens mais preciosos. A divisão de chips foi vendida por 18 bilhões de dólares para um grupo de empresas chefiado pela japonesa Bain Capital e que inclui a Apple e a Kingston. Um ano antes, a SanDisk foi vendida para Western Digital. Agora em novembro, foi a vez da área de TVs ir para a Hisense.

A clássica Semp Toshiba

Mas vamos falar de Brasil! A empresa japonesa veio para cá em 1968 em Contagem, Minas Gerais, para fabricar transformadores e atuar mais para área de fornecimento de aparelhos para companhias de energia elétrica. E em 1977 ela estabelece um casamento que você conhece muito bem, fazendo uma parceria com uma fabricante brasileira e criando a Semp Toshiba.

A marca nacional Semp, Sociedade Eletromercantil Paulista, merece uma história separada, mas a gente já adianta que ela existe desde 1942 sob a fundação de Affonso Brandão Hennel. A marca lançou antes dessa parceria clássicos como o rádio PT 76, apelidado de capelinha, e o primeiro televisor fabricado no Brasil, em 51.

Um rádio antigo.O famoso rádio capelinha.

A Semp Toshiba sempre se destacou no mercado de TVs, e trouxe várias novidades pro país. Elas incluem a TV com olho mágico, que regula a qualidade da imagem de acordo com a iluminação do cômodo; a TV com tela widescreen, a TV Multimídia, que servia também de monitor; a TV combinada com videocassete; a Tv portátil de 10 polegadas e também modelos de telas grandes que ainda não existiam no Brasil. O primeiro videocassete de 4 cabeças também foi dela.

Em 72 e 74, saem as primeiras TVs a cores do Brasil, com 20 e 14 polegadas. Quem viveu essa época de ouro da Semp Toshiba lembra muito bem dos comerciais clássicos da TV quebrada com até 50 meses de garantia e do slogan “os nossos japoneses são mais criativos que os outros” e também do controle Lumina, aquele que brilha no escuro.

Um controle remoto de TV.

A Semp Toshiba foi reconhecida por anos como uma das maiores empresas de eletro-eletrônicos do país. Fora o segmento de TVs, ela fabricava DVDs, rádio-gravadores, home theaters, telefones sem fio, DVDs e muito mais. A partir de 96, ela lançou notebooks, tablets como o MyPad, celulares e outros aparelhos sob o selo STI, que é Semp Toshiba Info, até alguns anos atrás.

Mas o mercado tava difícil e, em 2013, o Afonso Hennel sai da aposentadoria aos 83 anos para colocar a marca de volta nos trilhos. A parceria com a Semp foi desfeita em 2016 depois de 40 anos, especialmente após o fim da divisão de TVs da empresa japonesa, um ano antes.

Afonso Hennel rodeado de TVs.Afonso Hennel ainda longe de se aposentar.

A Semp então encontrou um novo relacionamento estável com a gigante chinesa TCL, e já no mesmo ano começou a lançar modelos sob a nova marca.

...

E essa é a história da Toshiba, uma empresa que tem uma história longa e incrível para contar, tanto no Japão quanto no Brasil. Infelizmente, a situação atual dela não é das melhores, mas o que permanece é todo o legado dela para história da tecnologia.

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