Um texto contra a diversidade gerou revolta entre os funcionários do Google no último final de semana. Publicado em uma rede interna da companhia, o manifesto intitulado “Câmera de Eco Ideológico da Google” bradava que o baixo número de mulheres no mundo da tecnologia não teria como base preconceito e discriminação, mas uma justificativa biológica.
Apelando para uma suposta diferença genética entre homens e mulheres, o engenheiro de software da Google responsável pelo texto afirmava que “nós precisamos parar de assumir que diferenças de gênero implicam em sexismo”. Assim que o texto se tornou viral dentro da empresa, alguns funcionários foram ao Twitter expressar publicamente a sua indignação.
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The author should be fired by now. Otherwise DOL & the EEOC are going to eat Google's lunch. And everybody sues https://t.co/OigUWmcWUW
— Mikki Kendall (@Karnythia) 5 de agosto de 2017
Internal article circulated at work today describing how gender rep gap in SW is due to biological differences btwn men/women.
— Sarah Adams (@sadams007) 4 de agosto de 2017
Apesar de alegar “acreditar firmemente na diversidade racial e de gênero”, o autor do texto se posiciona ainda de forma contrárias às políticas de representatividade aplicadas pela Google. Para ele, a companhia teria criado “uma série de práticas discriminatórias” nesse sentido, como programas educativos dedicados a pessoas de determinada raça ou gênero e contratação de pessoas menos qualificadas apenas para gerar diversidade.
“Essas práticas são baseadas em falsas alegações geradas por nossos preconceitos e podem, de fato, aumentar as tensões de raça e de gênero”, escreve o autor do manifesto. “Nós fomos alertados pelo gestor que o que estávamos fazendo era o correto do ponto de vista moral e econômico, mas, sem evidências, isso é apenas ideologia de esquerda velada que pode causar danos irreparáveis à Google.”
Mesmo em uma espécie de cruzada antifeminista, o autor do texto cita que “o sistema tradicional de gênero não lida bem com a ideia de que homens precisam de suporte”, afirmando ainda que “a expectativa é que homens sejam fortes, não reclamem e lidem por conta própria com os seus próprios problemas”. Em suma, o engenheiro de software da Google se baseia em uma classificação tradicional de gênero baseada na dicotomia homem forte/mulher frágil para sustentar o seu ponto.
Para corrigir tais problemas, o responsável pelo documento traz algumas ideias. As sugestões dadas por ele incluem, por exemplo, desmoralizar a diversidade e também ampliar a diversidade de pontos de vista — “o mais importante tipo de diversidade” em sua opinião — dentro da empresa.
Google responde
A nova vice-presidente para diversidade, integridade e governança da Google, Danielle Brown, publicou um longo comunicado em resposta ao texto divulgado pelo funcionário da empresa. Na mensagem, ela expressa a certeza de que muitos funcionários da empresa também acreditam que o documento fazia “alegações incorretas sobre gênero” e afirma também que a visão apresentada por ele “não é um ponto de vista endossado, promovido ou encorajado” por ela ou pela empresa.
A Google se posicionou de forma contrária às alegações feitas pelo seu funcionário em documento compartilhado no último final de semana em rede interna da empresa
“A diversidade e a inclusão são partes fundamentais de nossos valores e da cultura que continuamos a cultivar”, escreveu a executiva. “Não temos qualquer dúvida de que elas são essenciais ao nosso sucesso como companhia, e continuaremos a lutar por isso, comprometidos com isso no longo prazo”, prosseguiu.
Em relação à diversidade de pontos de vista, Brown afirmou que criar um ambiente diversificado e inclusivo significa também garantir que pessoas com diferentes visões se sintam confortáveis para compartilhar as suas opiniões. Contudo, isso exige também o respeito às leis e às normas da empresa.
“Esse discurso [politicamente divergentes] precisam estar alinhados aos princípios de emprego igualitário encontrados em nosso Código de Conduta e também às políticas e leis antidiscriminação”, escreveu Danielle Brown.