O mais novo capítulo da série de história da tecnologia fala sobre uma marca chinesa que, assim como as outras conterrâneas, chegou devagar e sem alarde, mas está bombando em vários mercados há algum tempo.
Você agora deve conhecê-la muito bem por ser a atual dona da Motorola, mas ela é bem mais antiga no mercado. É claro que estamos falando da Lenovo, que conquistou uma boa reputação nos últimos anos, especialmente no setor de PCs. Fique ligado no vídeo abaixo para saber mais sobre a trajetória dessa marca.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Tentativa e erro
A Lenovo foi fundada em Pequim no ano de 1984 por Liu Chuanzhi, que era membro da Academia de Ciências da China. Ele tinha apenas dez colegas engenheiros como primeiros funcionários. E o nome era o menos criativo possível: New Technology Developer.
Quatro anos depois, ela muda de denominação quando vira um conglomerado e se torna a Legend. E ela começou só errando: o primeiro negócio da empresa foi importar televisores para a China, mas isso não deu certo. Ela também tentou fabricar um relógio digital e... falhou de novo.
Liu Chuanzhi, o fundador e primeiro CEO da Lenovo
De acordo com o fundador, o principal motivo para isso foi que a equipe era toda formada por cientistas. Ninguém ali tinha visão de negócios ou entendia de marketing, e o grupo achava que o simples fato de um produto ser bom já era o suficiente para estourar em vendas. Mas não é bem assim que funciona, certo?
O primeiro sucesso da Lenovo só veio em 1988. Ela lançou uma placa de circuito que permitia a digitação de caracteres chineses em PCs da IBM — e guarde a sigla dessa gigante, pois essas marcas vão se cruzar no futuro. No final da década, ela finalmente lançou um produto de fabricação própria, o Legend PC. Ela também abriu uma subsidiária em Hong Kong para começar uma divisão internacional.
O Legend PC, primeiro sucesso de hardware da marca.
Antes disso, a Lenovo era bem simples, mas queria passar a imagem de poderosa. Para economizar, os funcionários iam a pé para o trabalho, mas antes de reuniões pegavam táxi uma quadra antes para fingir que tavam chegando em um carro. Eles ainda alugavam salas em hotéis para fechar negócios, mas o quarto mesmo era super simples.
Luz no fim do túnel
Depois de tanta insistência, as coisas começaram a dar certo. A Lenovo foi a primeira marca chinesa a lançar um computador com o clássico processador Pentium original, o 586. Ela também entrou no mercado de servidores.
Em 1994, ela faz a oferta pública de ações e arrecada o equivalente a 30 milhões de dólares. Em cinco anos, vira a líder do mercado da região da Ásia e do Pacífico em computadores.
A logo da Lenovo antes da internacionalização e mudança de nome.
Vale lembrar que a Lenovo surgiu em uma geração intermediária de empresas chinesas de tecnologia, bem antes da Xiaomi. A China ainda era bastante controlada pelo Estado, mas já tinha aberto o comércio e incentivava alguns investimentos globais. A gente falou um pouco disso na história da Huawei, que já foi contada aqui na série.
Pequenas revoluções
Em 1999, saiu o primeiro mini-laptop da indústria, quando os notebooks ainda eram verdadeiros "trambolhos". Ele pesava apenas 1,3 kg, tinha as entradas tradicionais para cabos e periféricos e um teclado 5% menor que o normal. A Lenovo também revolucionou a internet na China ao popularizar o acesso no páis: nesse mesmo ano, ela lançou o Internet PC, que tinha a incrível função de se conectar com a rede em um só clique.
Em 2002, veio a mudança definitiva de nome para ganhar o mercado mundial. Lenovo traz o "Le", de Legend, e a palavra em latim "Novo", que a gente conhece muito bem no português. Em chinês, o nome original é Liánxiang, que significa "pensamento conectado".
Um pedaço do DeepComp 1800 armazenado
Esse também foi o ano em que ela apresentou o the DeepComp 1800, na época o maior supercomputador da China. Ele tinha 20 gabinetes, 512 cores e mil gigaflops de desempenho.
O sonho de ser a IBM vira realidade
Aí veio a grande revolução na empresa. Em 2004, a Lenovo comprou a divisão de computadores pessoais, tablets e notebooks ThinkPad de ninguém menos que a IBM, a primeira a lançar um computador pessoal no mercado. Eu sei que eu prometo muitas histórias por aqui, mas é sério: a gente vai contar a trajetória da IBM no futuro.
Yang Yuanqing, atual CEO da Lenovo
Mas teve má notícia nesse ano também. Depois de estar no cargo desde 2001, o CEO Yuanqing Yang sai da cadeira de chefia para só voltar de forma triunfal em 2009. Nesse meio tempo, dois ex-executivos da IBM comandaram a empresa, Bill Amelio e Stephen Ward, mas isso não deu tão certo assim.
Os notebooks e tablets de sucesso
A Lenovo tentou tirar um pouco a imagem de ser uma marca chinesa por dois motivos. O primeiro foi o preconceito de muita gente com produtos daquele país; o segundo foi porque marcas chinesas costumam fazer muito mais sucesso e atraem mais investidores só de lá, mas a Lenovo queria também se fortalecer no resto do planeta.
E um jeito que ela encontrou para isso foi com a elogiada série de notebooks IdeaPad. Ela começou em 2008 e existe até hoje sob a família Yoga. Um dos modelos de destaque é o IdeaPad Yoga 13, que tem aquele design clássico com dobradiças especiais, permitindo virar até que ele se torne em uma espécie de tablet.
O "clássico moderno" Yoga 13
Outro destaque é o ThinkPad X300, de 2008. Ele é um modelo de notebook mais voltado para quem precisa de um aparelho para trabalhar, mas sem abandonar um visual fino e leve. Originalmente com Windows 8, o tablet ThinkPad 10 também foi bastante elogiado.
O ThinkPad X300
Além da ThinkPad, a Lenovo apostou no nome em outras famílias: a ThinkCentre, de desktops voltados para o mercado corporativo; a ThinkServer, de servidores baseados em tecnologia da IBM; e a ThinkStation, de workstations de alto desempenho.
E os smartphones?
Em 2008, a Lenovo vendeu a própria divisão mobile para focar em PC e outros mercados. Porém, parece que ela se arrependeu, porque a comprou de volta um ano depois. O primeiro smartphone mesmo foi o LePhone, que chegou em 2010 à China e foi lançado em outros países com o nome de IdeaPhone. Ele tem tela de 3,7 polegadas e uma skin customizada do Android.
O LePhone
A empresa tem linhas de celulares bem icônicas e não dá para citar tudo aqui. As mais famosas são a Vibe, claro, além da K e da Z, que veio da compra da chinesa ZUK. No caso do Brasil, a família Vibe só chegou no final de 2015, com o modelo A7010.
O primeiro smartphone da Lenovo no Brasil
Outra boa aposta foi o Phab 2, primeiro smartphone do projeto Tango da Google de realidade aumentada. Ele é caro e não foi feito para vender milhões de cópias, mas é um bom passo para começar. E tem o Folio, um conceito de tablet dobrável apresentado agora em 2017 e que parece incrível.
Aumentando o catálogo
Entre 2011 e 2012, a Lenovo encheu o carrinho de compras. As aquisições incluem: a NEC, uma das maiores empresas de tecnologia do Japão; a Medion, que era forte na Alemanha; e a EMC, que tem negócios de servidores e armazenamento na nuvem na China. Houve ainda a compra da brasileira CCE, na época por 300 milhões de reais.
A brazuca CCE foi uma das marcas compradas pela Lenovo
Dá para perceber a estratégia da Lenovo? Antes de entrar de vez em um mercado que ela não conhece tão bem, ela compra uma empresa daquele país para já se acostumar com aquela indústria e começar a inserir a marca aos poucos.
Se deu certo? Em 2013, ela se tornou a marca número um de PCs em todo o mundo e a terceira em smartphones. Ela também apostou de forma mais leve em áreas de Smart TVs e wearables.
Hello, Moto!
Em 2014, mais uma bomba! A Lenovo comprou a Motorola Mobility da Google por quase 3 bilhões de dólares. Isso incluía as linhas Moto X, Moto G e Moto Maxx, além de royalties para uso das patentes e direitos para os futuros lançamentos.
Muita gente não curtiu a aquisição da Motorola pela Lenovo e achou que os produtos caíram bastante de qualidade depois disso. A empresa também começou a lançar mais linhas e modelos, e há quem pense que isso tirou um pouco a força da marca.
A verdade, entretanto, é que a Google não tinha muito mais o que fazer com a linha Moto, ainda mais porque estava começando a focar nos modelos Nexus e, posteriormente, Pixel
A história ainda reservou uma rápida polêmica sobre a aquisição: a de que a Lenovo aposentaria a marca Moto e focaria somente na própria, mas a recepção disso foi tão negativa que ela voltou atrás. Vale lembrar que a gente já contou a história da Motorola por aqui, dê uma conferida.
Um peixe grande
E tem mais polêmica? Tem mais polêmica! Em 2015, foi descoberta a presença de um adware bem incômodo nos computadores da marca: o Superfish, que mostrava propagandas indesejadas e tinha brechas de segurança para futuras invasões. A empresa se desculpou e parou de enviar PCs com esse problema, enquanto a Microsoft removeu o software.
E o logo mudou nesse ano. Ele deixa de ser em minúsculo e itálico para ficar mais simples, com as únicas diferenças na letra "e", em um ângulo diferente e com um fundo retangular que pode assumir várias cores.
...
E essa é a história da Lenovo, uma marca poderosa que demorou para se firmar, mas veio com tudo da China e hoje é líder ou uma das maiores do mercado de smartphones, notebooks, tablets, híbridos e outros formatos de PCs.
Se você quiser ver a história de outras empresas contadas aqui no TecMundo, é só deixar a sugestão nos comentários. Confira abaixo as que já apareceram neste quadro:
- A história do iPod
- A história da Nokia
- A história da Motorola
- A história da Samsung
- A história do mouse
- A história da Sony
- A história da BlackBerry
- A história da Yahoo!
- A história da Xiaomi
- A história da LG
- A história da Microsoft
- A história da Dell
- A história da Netflix
- A história do YouTube
- A história da Positivo
- A história da Huawei
- A história da Amazon
- A história da HP
Fontes
Categorias