O mundo dos computadores esconde muitos mistérios. Um dos maiores deles talvez diga respeito à memória RAM. Será que a quantidade é diretamente proporcional ao desempenho do sistema? O que é mais importante: muita memória mais lenta ou pouca memória mais rápida? A verdade é que, como quase tudo relacionado a computadores, depende.
Depende de qual é o objetivo principal do computador. Você vai utilizar a máquina primariamente para trabalhar, navegar na internet ou para jogar? Os games são pesados ou simples joguinhos de navegador? Os aplicativos de escritório são editores de texto e planilha ou edição de vídeo e imagens? Tudo isso precisa ser levado em conta antes de escolher os componentes.
(Fonte da imagem: Divulgação/Corsair)
Neste artigo, vamos nos focar em máquinas direcionadas para os games mais pesados e mostrar alguns testes que dizem se a quantidade de memória é mais relevante que a velocidade dela, quanta memória os jogos efetivamente aproveitam e qual é o mínimo e o máximo necessário para que seja possível se divertir e não se preocupar com engasgos durante as partidas.
Limite de memória do sistema operacional
Muita gente ainda não sabe disso, mas sistemas operacionais de 32-bits podem alocar apenas 4 GB de memória RAM física. E isso não fica restrito apenas à memória principal do computador, também inclui aquela encontrada nas placas de vídeo (memória virtual não conta). Desses 4 GB, o sistema pode alocar 2 GB de espaço de endereçamento virtual para cada processo em execução, até atingir o limite.
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia)
Em sistemas operacionais de 64-bits, a coisa muda de figura: o limite máximo total de memória que o sistema pode alocar é 8 TB. Outra vantagem é que os aplicativos desenvolvidos em 32-bits podem alocar até 4 GB de endereçamento virtual, ou seja, mesmo os processos desenvolvidos em 32-bits podem se beneficiar do novo sistema.
A velocidade da memória é mais importante que a quantidade?
Mas e quanto à velocidade da memória, ela tem uma influência direta no desempenho? Se for a memória RAM do computador, muito pouco. A velocidade e a latência dos chips de memória só vão trazer alguma diferença real em resoluções altíssimas, e mesmo assim ela não será tão perceptível.
Veja os testes realizados pelo Tom´s Hardware: a velocidade da memória mostra que não é um papel fundamental na hora de garantir alguns quadros por segundo a mais.
(Fonte da imagem: Reprodução/Tom´s Hardware)
Como pudemos perceber, a memória pode ser mais rápida — e consequentemente mais cara —, e o resultado prático não muda muito de um caso para outro.
O preço por um pente de memória mais rápido pode não compensar muito no final das contas. Veja: enquanto 8 GB DDR3-2133 custam em média R$ 330*, podemos encontrar 8 GB de memória DDR3-1600 por aproximadamente R$ 260*. Um custo cerca de 20% maior por um desempenho que fica na casa dos 3% superior — e em apenas alguns aplicativos e condições específicas.
É claro que isso é apenas uma estimativa. A rigor, se você puder optar por uma memória mais rápida, melhor. Mas é bom saber que esse não vai ser o fator determinante na hora de conseguir uma taxa de quadros por segundo mais alta.
*Valores consultados no dia 8/2/2013 aqui.
Quantidade de memória
O senso comum diz o seguinte: quanto mais memória no computador, melhor. Entretanto, a realidade é pouco diferente disso. Imagine que a memória RAM de um PC é como se fosse uma fábrica. Os processos em execução são como se fossem os funcionários, e a memória virtual é o depósito.
A lógica é simples: se a fábrica é pequena, os trabalhadores precisam ir até o depósito buscar a matéria-prima, desenvolver os produtos e depois carregar tudo novamente para o depósito. Com o aumento dessa fábrica (mais RAM), é possível armazenar a matéria prima e os produtos finalizados no mesmo local, aumentando muito a produtividade.
(Fonte da imagem: Divulgação/Kingston)
O problema é que aumentar exageradamente essa fábrica não faria muita diferença, pois a maior parte do espaço ficaria vazia e subutilizada. O mesmo acontece com a memória RAM. É importante ter uma boa quantidade dela no computador, mas, para os jogos, existe um limite.
Um computador com pouca memória exige que parte dos processos seja enviada para a memória virtual, que nada mais é do que um espaço reservado no HD da máquina para permitir que aplicativos mais sedentos por RAM possam ser executados. Antes de essa ferramenta ser implementada nos sistemas operacionais, muitos programas deixavam de funcionar.
Embora esse seja um recurso inteligente e útil para o funcionamento da máquina, a memória virtual pode causar engasgos e travamentos dentro dos games, simplesmente pelo fato de um HD ser muito mais lento que a memória RAM.
Descobrindo quanta memória os games utilizam
Nós executamos alguns testes rodando diversos jogos em uma máquina configurada com 2, 4 e 8 GB de memória. Quanto os aplicativos passaram a utilizar em cada configuração? Houve um aumento no desempenho dos aplicativos?
Veja a máquina utilizada durante os testes:
- Processador: Intel Core i5-3450;
- Placa-mãe: ASUS P8B75-M LE;
- Placa de Vídeo: MSI GeForce GTX 670;
- HD: Western Digital 500 GB 7.200 RPM;
- Sistema operacional: Windows 7 Professional.
O sistema operacional foi instalado na máquina apenas para a realização dos testes. Para evitar conflitos com outros aplicativos que possam influenciar nos resultados, não instalamos antivírus no computador.
O hardware da máquina é suficiente para rodar todos os títulos testados com todos os detalhes configurados para a máxima qualidade. O único item alterado entre as análises foi a quantidade de memória instalada na máquina. Para verificar a utilização de recursos do sistema, utilizamos o próprio monitor de recursos do Windows.
Veja os resultados:
*Os números estão expressos em megabytes.
Como pudemos perceber, a quantidade de memória utilizada pelos aplicativos mudou muito pouco de uma configuração para outra. Esses números representam uma média entre a utilização máxima e a mínima da memória disponível no computador, então é normal que os aplicativos utilizem mais ou menos RAM durante momentos específicos.
Mas e como foi jogar em cada uma das configurações?
- 2 GB RAM: tudo demora muito para carregar. Alguns jogos funcionaram perfeitamente nessa configuração, outros nem tanto. Jogar RAGE, por exemplo, pode ser um imenso sacrifício. O recurso “Megatextura” utilizado pela engine do game precisa ler os dados da memória constantemente, forçando o sistema a depender muito da memória virtual;
- 4 GB RAM: todos os games rodaram perfeitamente. Não houve problemas na hora de carregar os jogos ou durante as partidas. Na hora de fechar os aplicativos e retornar ao sistema operacional, também não enfrentamos dificuldades;
- 8 GB RAM: o desempenho em todos os títulos foi exatamente o mesmo que tivemos com a configuração anterior. A impressão foi de que nada na máquina foi alterado, pelo menos durante as partidas.
Mas por que os games não utilizam o excedente de memória disponível na máquina para carregar mais texturas, dados e outros elementos dos games? Primeiro, é preciso lembrar que as texturas e outros elementos gráficos ficam armazenados na memória da placa de vídeo, que trabalha em conjunto com a RAM principal do sistema.
Segundo, porque simplesmente os jogos não precisam de mais memória. Se ele está rodando liso e sem engasgos utilizando apenas 1 GB do sistema, tudo bem. Isso acontece em alguns casos porque muitos desses títulos são desenvolvidos com os consoles em mente. Como esses equipamentos possuem menos recursos, o código dos jogos é programado para trabalhar dessa maneira.
Nós já vimos que a maioria dos aplicativos ainda é desenvolvida em 32-bits. Contudo, o sistema operacional pode alocar até 4 GB de memória para cada um deles, e os testes demonstraram que eles simplesmente não precisam de tudo isso para funcionar adequadamente.
(Fonte da imagem: Divulgação/GeiL)
Casos mais específicos como RAGE, por exemplo, aparecem nos testes utilizando quase a mesma quantidade de memória em todas as configurações, mas engasga com apenas 2 GB instalados. Isso acontece porque, quando há mais memória disponível, o sistema coloca mais arquivos em cache, o que agiliza o carregamento dos dados.
Como os aplicativos ainda precisam dividir os recursos da máquina com o sistema operacional, é preciso ter certa folga para evitar os engasgos relacionados com o uso da memória virtual. Por isso, os games travam com apenas 2 GB e rodam tranquilamente com 4 GB para cima.
Quanta memória eu preciso para jogar?
Para jogar os games atuais sem precisar se preocupar com engasgos e travamentos durante as partidas, 4 GB RAM se mostram suficientes. No entanto, é interessante colocar 8 GB na sua máquina pensando no futuro, mas você não vai notar de imediato diferença no desempenho dos títulos. Sendo assim, você terá algum espaço de sobra para os aplicativos e o sistema operacional trabalharem com folga por um bom tempo. Além disso, é possível alternar entre as tarefas rapidamente com essa configuração.
(Fonte da imagem: Reprodução/Baixaki Jogos)
Instalar 16 GB ou até 32 GB RAM em máquinas dedicadas aos games, por enquanto, não mostra resultados que justifiquem o investimento. Além de não garantir nenhum desempenho a mais, a memória ociosa vai servir apenas para gastar energia e gerar mais calor dentro do gabinete.
Entretanto, se você costuma parar no meio das partidas, alternar entre tarefas e manter outros aplicativos trabalhando no fundo enquanto se diverte, a quantidade de memória necessária para o seu sistema funcionar sem problemas somente você poderá definir.
Não tem outro jeito: para garantir que os games fiquem mais rápidos, é preciso pensar no processador e na placa de vídeo. A memória só vai dar mais espaço para que eles possam trabalhar.
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