Será que um dia as impressoras 3D produzirão carnes como essa? (Fonte da imagem: ThinkStock)
Quando comemos um bife, sabemos que a procedência daquele alimento é um animal que, alguns dias atrás, ainda estava vivo. Isso chega a incomodar algumas pessoas a ponto de elas abdicarem dos prazeres da carne. Mas agora vegetarianos do mundo todo já podem comemorar, pois a solução está próxima: máquinas capazes de imprimir bifes para consumo humano.
Com as bioimpressoras que a empresa Modern Meadow pretende disponibilizar no mercado, o alimento seria produzido sem o abate de qualquer animal. Criada pela dupla Gabor e Andras Forgacs, pai e filho, a empresa acabou recebendo, recentemente, o investimento de US$ 350 mil (R$ 714 mil) Peter Thiel, um dos nomes mais proeminentes do Vale do Silício e co-fundador do serviço de pagamento PayPal. Agora, mais detalhes sobre a criação vieram à tona.
Carne sintética seria impressa em moldes de agarose (Fonte da imagem: Reprodução/BBC)
A técnica de produção desse tipo de carne é praticamente a mesma que a de uma impressora 3D comum, com o objeto sendo produzido camada a camada, por meio de um modelo digital. Entretanto, como matéria prima, as bioimpressoras da Modern Meadow usam biotintas, ou seja, soluções que contêm diversos tipos de células.
Além disso, a impressão do tecido animal é feito em meio a moldes de agarose, um dos componentes da solução gelatinosa extraída de algas vermelhas (agar-agar). Alguns dias depois de impresso, o “bife” é retirado desses moldes e levado a um biorreator que estimula o tecido para amadurecer as fibras do músculo.
Depois de impresso, tecido vivo deve passar por um bioreator (Fonte da imagem: BBC)
De acordo com uma entrevista concedida para a BBC, o Prof. Gabor Forgacs afirma que já possui um protótipo desse tipo de impressora 3D, capaz de imprimir tecidos vivos, mas que o resultado ainda não é próprio para o consumo.
Como é produzida a biotinta?
Para produzir esse tipo de carne, os cientistas extraem células-tronco ou células específicas de um animal, por meio de biópsias. No caso das células-tronco, essas podem se multiplicar muitas vezes e também se transformar em um tipo específico de célula, como as musculares. Assim, quando elas atingem uma certa quantidade, são armazenadas em biocartuchos que, em vez de tinta tradicional, possuem um composto feito com milhares de células vivas.
De certa forma, o que a Modern Meadow está fazendo é dar um passo além da medicina regenerativa, algo que o próprio Gabor já foi capaz de realizar em um investimento anterior. Quando ele ajudou a fundar a Organovo, uma empresa pioneira na impressão de estruturas vivas para propósitos médicos, ele foi capaz de produzir vasos sanguíneos completamente funcionais a partir das células de uma pessoa.
(Fonte da imagem: Reprodução/BBC)
Pelo visto, essa é uma das grandes promessas das impressoras 3D, já que outros experimentos semelhantes têm sido desenvolvidos mundo afora. O artigo da BBC conta, por exemplo, que pesquisadores da Universidade da Columbia foram capazes de implantar um dente impresso por uma bioimpressora na mandíbula de um rato. Além disso, cientistas da Carolina do Norte conseguiram imprimir células diretamente no ferimento da pele de camundongos, acelerando, assim, o processo de regeneração.
Por enquanto, a técnica é ainda muito experimental para ser usada por humanos, principalmente se levarmos em conta que a impressão de um bife, por exemplo, é muito mais simples do que a de órgão funcional. E como se não bastasse, o processo todo ainda é muito caro: imprimir um hambúrguer custaria cerca de R$ 646 mil. Pelo bem do orçamento doméstico, no momento, é melhor continuar com os vegetais ou bifes naturais.
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