Em 1996, o desenvolvedor Mattias Ettrich estava insatisfeito com a situação dos ambientes gráficos disponíveis para Unix e resolveu anunciar ao mundo que estava começando um novo projeto. A mensagem, enviada para um grupo da Usenet, explicava as motivações para que um projeto como o KDE fosse implementado e também convocava programadores interessados em participar.
Uma das críticas de Mattias aos desktops da época é a de que não havia uma padronização entre o ambiente gráfico e as aplicações usadas nele. Cada programa usava uma interface diferente e, muitas vezes, um ícone ou uma entrada no menu era só um atalho para executar um emulador de terminal com o editor de textos vi, por exemplo.
Ettrich achava que um ambiente gráfico deveria oferecer uma solução completa para o usuário: uma interface padronizada e com aplicativos desenvolvidos especialmente para ela, com padrões de desenvolvimento, documentação e até um conjunto próprio de ícones e jogos.
A primeira versão estável do K Desktop Environment foi lançada em julho de 1998, e apresentava uma interface mais parecida com a que os usuários já encontravam no Windows ou no Mac OS. De lá para cá, mais de dez anos de desenvolvimento se passaram e muita coisa melhorou.
Em 10 de agosto desse ano foi lançado o KDE 4.5, e os números chegam a impressionar. Foram mais de 16 mil bugs corrigidos desde a última versão (4.4, lançada em fevereiro de 2010). Dessas correções, a mais rápida foi efetuada em apenas 46 segundos após a abertura do ticket no sistema de acompanhamento de bugs.
Embora o foco dessa nova versão seja a resolução de problemas e o aumento da estabilidade e do desempenho do ambiente gráfico, podemos destacar diversas modificações e até mesmo algumas novidades, que provavelmente agradarão à maioria dos usuários.
Konqueror com Webkit
Esta é uma das mudanças que demonstra como o modelo de desenvolvimento do software livre pode ser flexível.
O KHTML é um engine de renderização introduzido na versão 2 do ambiente gráfico KDE. Basicamente, esse engine é o responsável por renderizar o código das páginas HTML no Konqueror, o navegador web nativo do KDE.
Mais tarde, em 2002, a Apple adotou o KHTML e transformou-o no Webkit, que se tornou o engine de renderização do Safari,o navegador padrão do Mac OS X. Agora, nessa nova versão do KDE, os usuários podem optar pelo uso do Webkit no Konqueror, beneficiando-se assim das melhorias implementadas pela Apple.
Porém, o KHTML não está parado. Ele continua a ser desenvolvido e está ganhando o suporte para XPath, uma linguagem de consulta que trabalha com documentos XML.
Plasma
O Plasma é um projeto lançado em 2005 e com o objetivo de revitalizar a Área de trabalho do KDE. Além de integrar aplicações e fornecer um framework que torna mais fácil a criação de widgets para o desktop, o Plasma também torna os componentes do ambiente gráfico mais consistentes, tanto visualmente quando em termos de usabilidade.
Apesar dos milhares de bugs corrigidos, essa nova versão do Plasma também apresenta alguns refinamentos que tornam o seu uso mais agradável. Um avanço grande foi feito no sistema de notificações do KDE, por exemplo, que agora está visualmente mais limpo e menos intrusivo.
O KWin, componente de gerenciamento de janelas do Plasma, também ganhou efeitos novos e um aumento no desempenho. Adicionar ou remover desktops também ficou mais fácil, e agora pode ser feito através do applet Pager ou do efeito de Desktop Grid.
As Activities também foram reestruturadas, e a Zooming User interface (ZUI) foi substituída por um “gerenciador de activities”. Pense nas activities como aplicações que você gostaria de ter sempre às mãos para realizar alguma tarefa.
Um exemplo muito bacana foi dado pelo desenvolvedor e porta-voz do KDE, Sebastian Kugler, durante uma entrevista: imagine um jornalista trabalhando em diversas matérias ao mesmo tempo. O desktop poderia conter anotações e imagens para cada um desses artigos e ele poderia usar um “desktop” para cada artigo. Assim, quando ele mudar de artigo, ele mudará também as activities (anotações e imagens) relacionadas ao texto.
A ideia é que essa função semântica do desktop, fornecida pelo projeto Nepomuk, seja ampliada a cada nova versão do KDE. Como as activities são armazenadas semanticamente, elas poderão compartilhar essas informações de contexto com qualquer aplicação, e embora essas funções ainda não estejam completamente implementadas, a base delas já foi adicionada ao KDE 4.5.
Os netbooks também ganharam uma nova versão do Plasma, com melhorias no visual e no desempenho, além de uma abrangência internacional maior, com suporte agora para os calendários japonês, taiwanês e tailandês. E por falar em calendário, agora os feriados locais ficam destacados, de acordo com a região que você configurou nas preferências do sistema.
Os jogos não ficaram de fora
Os jogos do KDE também ganharam melhorias e novidades. Uma boa notícia é o Kajongg, um jogo novo, desenvolvido totalmente em Python. Nesse jogo, quatro jogadores podem disputar uma partida de Mahjong, o famoso jogo de origem chinesa.
O Konquest também ganhou suporte para criação e personalização de níveis, enquanto o quebra-cabeça Palapeli se beneficia de uma configuração mais fácil. O KGoldRunner agora tem novos níveis, e o Kigo, versão de Go para KDE, teve sua integração com os arquivos do tipo Smart Game Format (SGF) aperfeiçoada.
E não para por aqui!
Entre os softwares educacionais, a principal modificação está no Parley, um programa que ajuda o usuário na memorização de vocabulário: agora ele possui uma nova interface de treino e pode trabalhar com conjugação de verbos.
Já o Marble, uma espécie de globo terrestre virtual do KDE, permite que você trace rotas e faça o download dos mapas. Assim você não precisa se preocupar com conexão à internet antes de cair na estrada!
O KInfoCenter está mais estável e passou por pequenas reformas na interface. Além disso, o novo KDataSharedCache fornece um mecanismo de cache para aplicações, aumentando o desempenho de softwares que usam os mesmos ícones, por exemplo.
O Gwenview não perde mais as informações EXIF das imagens editadas. O visualizador de imagens também ganhou melhorias na interface e no desempenho.
Para terminar, o Phonon, API multimídia do KDE, agora pode trabalhar em conjunto com o Pulse Audio, um servidor de som frequentemente usado no Linux e que permite, entre outras coisas, controlar de maneira independente o volume das aplicações.
Experimente o KDE 4.5!
Quem quiser testar o KDE 4.5 ou atualizar o sistema para esta versão, deve procurar os pacotes binários disponíveis para a sua distribuição Linux. Já existem pacotes para Kubuntu, Mandriva Linux, OpenSuSE, Linux Mint e outras. Os mais corajosos também podem baixar o código-fonte e compilar.
Além disso, há também uma versão Live do OpenSUSE com os pacotes do novo KDE. Com esse CD você não precisa particionar o disco rígido nem instalar o Linux no seu computador. É só baixar e gravar a imagem ISO do KDE Four Live e então reiniciar o computador pelo CD. Quem preferir também pode usar a mesma imagem em uma máquina virtual, através do VirtualBox.
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