Uma das piores coisas que acontecem com uma pessoa acometida por uma cegueira temporária (além do fato de não conseguir enxergar, obviamente) é o tédio que se instala durante sua recuperação, já que não consegue realizar muitas de suas atividades normais. Uma possível solução para esse problema, BlindSide é um jogo de video game que, na verdade, não tem nada de vídeo – é um thriller guiado pelo áudio completamente sem gráficos.
Com um cenário de fantasia de horror, o jogo te coloca na pele de um professor assistente Case, que acorda ao lado de sua namorada Dawn após o que aparenta ser uma queda de luz no seu apartamento. Na realidade, os dois – e o resto da população mundial – tornaram-se repentinamente cegos. Para piorar, monstros devoradores de gente que fazem sons assustadores estão agora vagando pela cidade.
Como Case é um novo cego, um dos objetivos do game passa justamente a ser ensinar a navegar por ambientes usando apenas pistas sonoras, tantos as vindas do próprio personagem (que descreve os ambientes que conhecia e grita quando bate em objetos) e outras mais sutis vindas dos cenários, como torneiras gotejantes e a forma como os sons se propagam em ambientes específicos.
Cegueira do bem
Feito para divertir tanto a jogadores com deficiências visuais quanto àqueles que enxergam com clareza, o jogo sonoro traz uma acomodação aos usuários com deficiências que é algo incomum na indústria de games. A Able Gamers Foundation, uma entidade voltada para esse tipo de jogador, estima que há mais de 33 milhões de gamers com alguma condição especial.
O jogo está disponível para Mac e PC, nos quais se joga usando as setas, e para iPhones e iPads, que usam seus sensores de movimento para replicar no game a direção para a qual você está virado no mundo real. Os criadores Aaron Rasmussen e Michael Astolfi usaram aproximadamente mil efeitos sonoros e trechos de diálogo para construir o mundo de BlindSide.
Curiosamente, o jogo é o resultado de um acidente sofrido por Rasmussen durante uma aula de química, envolvendo fósforo vermelho e clorato de potássio. “Eu acordei quando passou o efeito das drogas da sala de emergência do hospital e tudo estava preto”, disse. Suas córneas, danificadas pela explosão, acabaram se regenerando. “Toda essa experiência me fez valorizar mais minha visão, de forma a me fazer tratá-la com mais cuidado”, acrescentou.
Novas águas
Desde seu lançamento no ano passado, BlindSide já foi baixado milhares de vezes para iOS e PCs e ganhou um prêmio de inovação no festival Games for Change, que reconhece jogos que tenham impacto social. Astolfi e Rasmussen ajudaram o Instituto de Pesquisa dos Olhos a criar um app de assistência usando a tecnologia do jogo, e uma jovem chegou a perguntar aos criadores sobre como criar seus próprios games em áudio.
“Há jogadores por aí que estão ansiosos por conteúdo mais acessível, e muito pouco disso vem dos publicadores estabelecidos”, disse Astolfi. “Mas com o contínuo crescimento do movimento de jogos indie, acho que vamos ver cada vez mais jogos feitos especificamente para esse público”, acrescentou.
Ainda assim, boa parte do sucesso de BlindSide pode estar atado ao fato de que ele não parece ter sido feito para gamers com deficiência. “Nosso feedback favorito sobre o game na verdade foi um comentário negativo. Era uma análise com três estrelas de um jogador que enxerga e disse que achou o jogo assustador demais”, concluiu o criador.
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