Talvez controlar pequenas figuras em pixels pela tela da TV tenha surpreendido há algumas décadas, quando surgiram os primeiros arcades e consoles de video game caseiros. Bem, mas o que dizer da possibilidade de controlar um ser humano pelas ruas — da mesma forma que você o faz com Super Mario Bros. ou Sonic the Hedgehog? De fato, o projeto já existe e, a despeito de algumas limitações, realmente funciona.
O intitulado “Cruise Control for Pedestrians” (controle de deslocamento para pedestres) vem sendo desenvolvido por formandos da Universidade de Hannover e tem por objetivo “guiar gentilmente” um indivíduo durante, digamos, um passeio pelo parque. O sistema consiste na aplicação de pequenos pulsos elétricos aos músculos das pernas, de tal forma que seja possível ditar a direção de alguém sem que ela necessariamente tome consciência disso.
Jogue ao celular (sem bater em postes)
Embora aplicações médicas estejam no horizonte de possibilidades dos estudantes alemães, o grupo admite que a ideia surgiu da possibilidade de “jogar com o smartphone sem bater em coisas na vida real” — algo igualmente nobre, possivelmente.
Entretanto, o “controle remoto de seres humanos” também pode ser particularmente útil durante programas de exercícios, conduzindo pessoas em passeios autoguiados pela cidade ou ajudando vítimas de AVC (acidente vascular cerebral) no processo de recuperação. “A ideia é ajudar as pessoas na navegação sem que elas percebam”, afirmou Max Pfeiffer, um dos responsáveis pelo projeto, em entrevista ao site Discovery.
Ele continua: “Você apenas começa a andar, relaxa, e acaba por chegar ao seu destino sem nem mesmo perceber que foi guiado até ali”.
O Cruise Control for Pedestrians determina a aplicação de eletrodos no músculo sartório, o qual é conectado a um equipamento emissor de estímulos elétricos (algo similar aos equipamento sutilizados por fisioterapeutas que atuam na recuperação de atletas lesionados). Por fim, um controle wireless deve ser atado à cintura da pessoa controlada.
Algumas pedras no caminho
A despeito do potencial e da relativa originalidade do Cruise Control for Pedestrians, o projeto ainda tem desafios pela frente no que se refere ao seu funcionamento. “O ponto mais relevante é a falta de uma navegação perfeita”, afirmou Pfeiffer ao referido site. “Você precisa de medidas constantes de onde está.”
“A segunda, é que é preciso calibrá-lo para cada pessoa que for utilizar, já que cada um é diferente”, ele continua. Há também a questão de que é preciso visualizar os obstáculos do caminho — algo que reduz consideravelmente as aplicações do CCP no momento. O estudante lembra ainda que, dos quatro voluntários para os testes iniciais, um não pode ser controlado pelo aparelho, possivelmente por conta da gordura que normalmente reveste os músculos das pernas.
Colaboração com um sistema de detecção
Também a professora de interação entre computadores e seres humanos da Carnegie Mellon University, Roberta Klatzky, afirma que, a despeito do interesse despertado pelo Cruise Control for Pedestrians, ainda há muito trabalho pela frente. Afinal, além de não surtir efeito em alguns usuários, o sistema ainda se mostrou pouco útil em caminhos estreitos — sem contar a necessidade de que o controlador esteja sempre próximo do controlado.
Uma vez contornados os obstáculos, entretanto, “o sistema pode ser utilizado em situações do mundo real, particularmente quando o direcionamento gentil dos passos é necessário”. Em entrevista ao referido site, Klatzky afirmou que, embora não acredite na substituição da guia convencional em casos semelhantes, uma combinação com sistemas de detecção deve potencializar a utilidade do CCP. “Ele poderia ajudar a evitar obstáculos ou a corrigir desvios do seu caminho, sobretudo quando a visão é limitada.”
O Cruise Control for Pedestrians foi apresentado recentemente em uma feira de tecnologia realizada na Coreia do Sul. Ainda não há previsão para aplicações comerciais da tecnologia.
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