Conheça algumas práticas de censura adotadas por países mundo afora. (Fonte da imagem: Reprodução/Drooker)
Os tempos atuais têm sido palco de uma série de fenômenos: horizontes largos são frequentemente inaugurados pela ciência, movimentos sociais reinventam identidades coletivas de minuto em minuto e novas formas de trabalho e de arte fazem também parte de toda esta complexa conjuntura. E falar de internet é inevitável: manter-se atualizado nunca pareceu ser tão importante. Mas o que seria de toda uma geração se a tal “grande rede” fosse censurada?
Refletir de modo consciente sobre liberdade não é tarefa fácil. Falar sobre liberdade na internet é algo ainda mais provocador... Fato é que, por mais truncada que a discussão possa parecer, alguns princípios acerca do assunto podem ser identificados.
Sabemos, por exemplo, que vetar o acesso a sites estrangeiros é um atentado à liberdade em ambiente online. Não poder fazer comentários sobre o que é divulgado por um site ou outro também não é uma prática bem vista pelos olhos dos sempre atentos internautas.
Os "vilões" têm nome
Então teorias (e evidências) sobre conspirações quase utópicas começam logo a pipocar: “Há alguém ou alguma coisa por trás de tudo! Os ‘inimigos da internet’ existem!”. De fato: os inimigos da internet existem. Pelo menos esse tem sido o termo adotado e a afirmação feita pela organização Reporters Without Borders (Repórteres Sem Fronteiras, ou RSF), responsável por conduzir um periódico online internacional e independente que trabalha no mapeamento de práticas entendidas como contrárias ao uso livre da internet.
Seis novos "vilões" entraram para a lista negra. (Fonte da imagem: Reprodução/Forte)
O mais recente relatório publicado pelo órgão lista os países e as organizações que mais praticaram atentados contra a internet mundo afora. Ao todo, 19 países são elencados, sendo que seis deles são “calouros” – ou seja, fizeram sua estreia junto à análise conduzida pela Reporters Without Borders na listagem deste ano. Confira então quais são os países que compõem a nova meia dúzia de “inimigos da internet”; abaixo desta, todos os demais “vilões” são listados.
Rússia
A livre expressão por meio da internet tem sido minada aos poucos em terras russas. Em 2012, o Parlamento do icônico país aprovou sem objeções um projeto que define diretrizes sobre o que pode ou não ser divulgado através da grande rede. É claro que material imoral ou antiético é vetado se veiculado, mas cláusulas vagas ainda integram o corpo da tal lei. Atualmente, as condições de publicação de conteúdo via internet continuam a receber “implementações” – limites constantes têm sido impostos aos internautas russos.
Paquistão
Uma “lista negra opaca” continua sendo escrita pelo órgão responsável por telecomunicações no Paquistão. Isso significa que somente sites que não atentam contra a moral do país podem ser acessados. O YouTube e o Facebook, por exemplo, chegaram a ser bloqueados em terras paquistanesas em decorrência de “blasfêmias contra Maomé”. O Twitter, em 2012, também não escapou da censura: “Isto foi feito sob orientação do Ministério da Tecnologia da Informação. É por causa de conteúdo blasfemo”, disse Mohammed Yassen, presidente da Autoridade de Telecomunicações do Paquistão (PTA) na época.
Estados Unidos
A terra do Tio Sam entrou pela primeira vez na lista negra da RSF. Apesar de pregarem a liberdade de expressão e terem sofrido até censura por parte da China, os EUA espionaram as comunicações de milhões de cidadãos por meio da Agência de Segurança Nacional (NSA). Em 2013, até mesmo o Brasil foi vítima de espionagem (acompanhe um panorama completo sobre este assunto por meio deste link).
Pretexto: proteção a cidadãos. (Fonte da imagem: Reprodução/BirdieGuy)
Reino Unido
Classificado como país “campeão mundial de vigilância”, o Reino Unido revelou ter adotado práticas de perseguição a jornalistas. Ao formar alianças com países como Etiópia e Marrocos, o subterfúgio adotado pela potência europeia foi colocar em prática estratégias de perseguição a terroristas. Vale dizer que até mesmo a pornografia legal é parcialmente bloqueada no país – o que leva parte dos cidadãos a ficar exposta, uma vez que os usuários ficam obrigados a usar companhias alternativas de serviços de internet.
Índia
Conhecida por censurar certos tipos de discursos, a Índia finalmente chega à lista da RSF como um dos inimigos da internet. Nos últimos dois anos, novas leis foram aprovadas no país, limitando ainda mais a exposição de ideias por parte de seus cidadãos. Além disso, a Índia liberou à NSA informações sobre o histórico de comunicação do povo indiano.
Etiópia
O governo da Etiópia entende como criminoso o uso de mensageiros – tais como Skype e Google Talk. Usar serviços VoIP pode resultar ainda em 15 anos de prisão. Recentemente, um cidadão norte-americano de origem etíope foi vítima de vigilância, inclusive (um dos dispositivos do homem foi infectado por um spyware). Por atentar de forma violenta contra a liberdade na internet, a Etiópia foi então o sexto novo país adicionado à lista dos “inimigos da internet”.
Abaixo, o restante dos países que se destacam nas práticas de censura. (Fonte da imagem: Reprodução/Youthvillage)
A lista completa
Os “inimigos da internet” são todos os países que adotam práticas de veto ao livre uso dos serviços oferecidos pela grande rede. Confira a seguir a lista com todos os “acusados” (os seis vilões mencionados acima não serão listados):
Arábia Saudita
Cerca de 400 mil sites foram bloqueados pelas políticas que regulam a internet no país. O YouTube ficou fora do ar em dezembro de 2013 e até mesmo o mensageiro Viber foi cortado na Arábia Saudita.
Cuba
Apesar da chegada do cabo de fibra óptica à ilha, Cuba ainda nega à maioria da população o acesso gratuito à internet.
Irã
Filtros de conteúdo, controle sobre provedores de internet, interceptação de certos serviços comunicacionais, ataques cibernéticos e a prisão de blogueiros e até mesmo internautas “comuns” são práticas frequentes no país.
Bielorrússia
O uso da internet é regulado por grandes corporações (meios tradicionais de comunicação). Há, de fato, um aparelho repressor agindo sobre as terras do país do leste-europeu.
Vietnã
A discussão política online não é tolerada pelas autoridades vietnamitas. Debates sobre questões de governo não podem ser feitos nem mesmo por blogueiros – um sistema jurídico e tecnológico duro age contra a liberdade de expressão política no país.
Sem debates políticos no Vietnã. (Fonte da imagem: Reprodução/Countriesvpn)
Turquemenistão
O acesso à internet é proibido para a maioria da população – quem tem o privilégio de acessar a rede consegue visitar apenas uma lista seleta de endereços da World Wide Web.
Sudão
Práticas de censura elaboradas pelo Serviço de Inteligência e Segurança Nacional (INSS), pela Unidade de Cyber-jihadista e também pela Corporação Nacional de Telecomunicações (NTC) ainda fazem com que somente 17% da população tenha acesso à internet.
Barém
Há veto também ao uso da internet no pequeno estado do Golfo Pérsico. Para promover sua imagem junto a entidades internacionais, o país não permite a veiculação de conteúdo opinativo sobre a situação política do Barém.
Síria
As manifestações de 2011, que exigiam a reforma política no país, foram violentamente barradas por Bashar Al-Assad. Todos os meios de comunicação foram vítima de controle. Há, em suma, um controle sobre a infraestrutura comunicacional do país – o que evita a publicação de conteúdo livre através da internet.
Uzbequistão
O controle sobre a mídia tradicional, que teve início em 2005 devido à repressão em Andijan, agora estende-se vorazmente sobre a internet. Instrumentos administrativos, jurídicos e mecanismos de controle avançados ameaçam o uso dos escassos serviços online.
Informações são todas controladas na China. (Fonte da imagem: Reprodução/Atelier)
China
O discurso usado pelos líderes da repressão ao uso da internet é objetivo, ingênuo e prático: “Precisamos assegurar a estabilidade e harmonia em nosso país”. Como bem se sabe, a internet na China é uma das mais censuradas do mundo, uma vez que pertence a apenas um provedor (detentor do controle de toda a circulação de notícias no país).
Coreia do Norte
Os cidadãos norte-coreanos não têm acesso ao fantástico mundo da web. Por lá, existe o que se chama de “intranet”: uma rede online desenvolvida pela Central de Ciência e Agência de Tecnologia de Informação (CSTIA) que propaga somente a ideologia socialista país adentro.
Emirados Árabes Unidos
A tensão política do país em 2011 motivou o governo dos Emirados a desenvolver um mecanismo de controle de informações. Em 2013, por exemplo, 94 cidadãos foram acusados pelo governo por supostamente fazer parte de um partido filiado à Irmandade Muçulmana. Durante o julgamento, dois internautas foram condenados por twittarem sobre o acontecimento.
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A censura imposta por autoridades à internet é motivada por causas das mais diversas naturezas. Pode-se usar como justificativa ao acesso regulado à grande rede a defesa de um ideal, como o faz a Coreia do Norte. Instaurar a “ditadura do medo”, fenômeno bem conhecido por cidadãos norte-americanos após o ocorrido de 11 de setembro de 2001, é também alimento suficiente a autoridades que têm por objetivo “proteger a integridade de um país contra ataques terroristas”.
Mas é importante dizer: a censura ao livre pensar e falar não é uma prática recente, que ganhou forma somente a partir da popularização da internet. Uma vez que poder, interesses e instituições compõem o cerne de uma sociedade, um mecanismo de controle social naturalmente acaba despontando. Nesse sentido, vale mencionar o documentário "Muito Além do Cidadão Kane", filme realizado por um cineasta britânico em 1993 e censurado no Brasil na época.
Acontece que a globalização nunca foi tão agressiva: frear a “besta” de nome internet é como querer soprar contra tornados. É declarar guerra contra um tipo de superconsciência, criada e reinventada a cada instante por todo usuário capaz de conquistar um "like" no Facebook, de replicar opiniões em artigos publicados em rede, de angariar seguidores e curtidas no Intagram.
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