No artigo “Vício e Dependência de computador e internet” você soube o que caracteriza uma pessoa que se tornou viciada em internet e, de modo geral, o que caracteriza uma dependência por si só. Porém, agora chegou a hora de saber quais são e como funcionam os tratamentos para esse vício.
Recentemente, o hospital londrino Capio Nightingale começou a oferecer sessões - individuais ou grupais - para jovens diagnosticados com dependência de ficar sempre usando o computador. Para tanto, dez questões são feitas aos jovens, para as quais a resposta é “sim” ou “não”.
1. Você permanece online mais tempo do que pretende, com cada vez mais frequência?
2. Ignora ou evita outros trabalhos ou atividades para poder gastar mais tempo online?
3. Constantemente verifica mensagens ou emails antes de fazer algo que você precisa fazer, mesmo que isso atrase uma refeição?
4. Você fica irritado quando alguém o incomoda enquanto está fazendo algo online ou no telefone?
5. Prefere gastar seu tempo online com outras pessoas - ou através de mensagens de texto via celular - do que conversar pessoalmente?
6. Quando está offline, você pensa muito em voltar para o computador?
7. Discute ou é criticado por amigos, namorada(o) ou família sobre o tempo que você passa online?
8. Você fica eufórico pensando em quando será a próxima vez que estará online, ou mesmo, fica pensando sobre o que fará quando se conectar?
9. Você prefere atividades em frente ao computador a sair de casa e fazer qualquer outra coisa?
10. Você esconde dos outros - ou fica na defensiva quando alguém quer saber - aquilo que você faz na internet?
A quantas dessas perguntas você respondeu “sim” e a quantas respondeu “não”?
Aqui vai uma boa, ou má, notícia: se cinco ou mais respostas foram “sim”, você provavelmente precisa procurar ajuda de um especialista, pois há grandes chances de estar com algum tipo de dependência com a internet!
Sintomas relacionados ao vício
Aquilo mencionado nas perguntas envolve todos os sintomas. Mas, em resumo, eles envolvem: perder a noção do tempo online; não conseguir se concentrar em outras tarefas; isolamento da família e amigos; sentir culpa quando usa a internet; sofrer de ansiedade; ficar deprimido; ter outros vícios; não conhecer gente fora da internet; ser adolescente; atualmente ser menos ativo socialmente do que costumava ser.
Quais os tipos de tratamento?
A maioria dos tratamentos envolve afastar o usuário da vida online por meio de atividades com outras pessoas. Algo que também funciona é ficar tão cheio de atividades fora de casa que não sobra tempo para o computador. Outras alternativas são: parar de usar um serviço específico (por exemplo, o Orkut); colar bilhetes pela casa para lembrar de sair da internet; criar uma lista das tarefas cotidianas e cumpri-la; procurar ajuda médica.
A opinião de quem estuda o assunto
O Portal Baixaki conversou sobre o assunto com Aline Michelin Bonafini, psicóloga clínica, e Pablo de Assis, pesquisador vinculado ao Núcleo de Estudos do Desenvolvimento Humano da Universidade Federal do Paraná.
A dependência de internet, segundo Pablo de Assis, se trataria como qualquer outra. Só para isso existem várias terapias, umas mais direcionadas e focadas, tratando especificamente o comportamento de uso da internet, criando novos hábitos, etc.
Aline Michelin Bonafini entende que o tipo de tratamento para quem está viciado em internet e que tem apresentado resultados diferenciados é a terapia de abordagem cognitivo-comportamental. Ela pode ser utilizada tanto no tratamento de adolescentes, quanto de adultos. O objeto de estudo da Terapia Cognito-Comportamental (como o próprio nome diz) é o comportamento.
Essa terapia entende que pensamento pode gerar comportamento. E esses pensamentos (chamados pensamentos automáticos) ocorrem devido a uma crença central. A partir do momento que essa crença é identificada, você pode trabalhar estratégias para modificá-la. Dessa forma, modificará os pensamentos e, consequentemente, o comportamento.
No Brasil, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo é uma das instituições que já trata do problema. Conforme a página da instituição diz, não somente a internet, mas também video games são motivo de vício de muitas pessoas.
“Não tenho coragem de conversar pessoalmente”
No caso da internet, a psicóloga explica que o comportamento-problema seria o vício (perda de autonomia na realização de atividades diárias, devido ao fato de não conseguir "desconectar-se"). Esse comportamento é gerado por um pensamento, como "só consigo estabelecer contatos sociais pela internet, pois se as pessoas me conhecerem pessoalmente não vão gostar de mim".
Esse pensamento revela uma crença central, no caso, uma crença de desvalor (baixa autoestima). A partir do momento que essa crença é identificada, trabalham-se estratégias para modificá-la: identificação das qualidades da pessoa, treino para ela reconhecer essas qualidades e aproximar-se de pessoas "reais". Tudo isso é feito passo a passo, uma técnica chamada de "aproximações sucessivas". Primeiro ela treina o comportamento no consultório, durante a terapia, depois ela o leva para a sua "vida real".
Por que viciamos?
Pablo de Assis afirma que a pessoa precisa reencontrar algo perdido consigo mesma e o vício é um caminho que ela encontra. Isso é válido para qualquer vício. Então, se simplesmente retirarmos retirar-se o comportamento, você tira o caminho que a pessoa tinha encontrado para se encontrar ou se curar.
O ideal é que a pessoa procure um psicoterapeuta e procurar se conhecer melhor, conhecer seus limites, fraquezas, forças, desejos... Assim, ela não precisa se perder em um vício qualquer. O pesquisador explica que existem riscos associados ao tratamento de vícios: quando se trata simplesmente o ato compulsivo ou o comportamento adicto, a pessoa corre o risco de encontrar outro vício para compensar.
Ou seja, se simplesmente a pessoa for proibida de usar o computador ou de acessar a internet de usar qualquer equipamento tecnológico, essa pessoa pode, dependendo do grau de dependência, procurar outros vícios, como cigarro, álcool, drogas ou outros comportamentos também viciantes, como o trabalho, o jogo e o sexo.
Os mais novos que se cuidem!
No caso mais específico de adolescentes, Pablo de Assis diz que nós mesmos precisamos entender que a adolescência é uma época de descoberta da própria identidade. “Pode ser que esse adolescente esteja procurando quem ele é em fóruns online, comunidades no Orkut ou em sites espalhados pelo mundo. Mas ele precisa ser orientado que o mundo, e ele mesmo, são muito mais do que isso. Algumas horas de atividades físicas, contato com amigos, cinema ou qualquer atividade ao ar livre ou fora de casa são excelentes”.
Na China , por exemplo, a obsessão por internet fez com que o governo permitisse o uso de choques como tratamento da doença em cerca de 3 mil jovens. Em 2009 esse tipo de medida foi proibida, visto que o governo admitiu não ser uma opção realmente efetiva.
O psicólogo explica que, como muitas escolas e famílias impõem tantas atividades aos jovens, muitas vezes eles mesmos não têm escolha em fazer outras coisas. Assim, gastam horas na frente do computador fazendo pesquisas e trabalhos que não têm mais tempo para outras atividades. Cabe a eles então procurar lazer e diversão no único canal que conhecem: a internet e o computador.
Você é viciado em internet? Gostaria de dar sua opinião sobre o assunto? Deixe um comentário!
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