Em 2010, quando o Instagram foi criado, todo mundo queria tirar fotos de tudo e qualquer coisa para, depois de adicionar alguns filtros, postar no feed e esperar as reações dos seguidores. Valia de tudo: fotos de uma saída com os amigos, o prato de comida ou, óbvio, as famosas selfies.
Se no início da década passada foi assim, quase 15 anos depois, parece que o cenário está mudando. Pelo menos para os jovens da Geração Z. Isso porque uma nova tendência vem crescendo nas redes sociais daqueles que nasceram entre 1997 e 2012.
As modas da vez incluem movimentos contrários ao da exposição excessiva nas redes sociais. O chamado "feed zero" ou "grid zero", por exemplo, é uma prática que vem sendo bastante adotada pela geração Z e consiste em um perfil com poucas postagens ou até mesmo nenhuma.
A nova moda entre os jovens é postar cada vez menos nas redes sociais
Sobre o assunto, a pesquisadora da Meta sobre tendências culturais do Instagram, Kim Garcia, ressaltou a busca dos jovens por mais privacidade.
"Eles têm, com certeza, quase que uma aversão à permanência e pegadas digitais. A geração Z está crescendo nesta era que é tão pública. Eles não têm os mesmos espaços privados para explorar, para serem esquisitos, para se descobrirem, que gerações mais velhas como eu, como millennials, tive ao crescer", comentou em entrevista à rádio americana NPR.
Perfis apenas para melhores amigos
Enquanto o feed zero é, entre outros motivos, um pedido por mais privacidade, outro tipo de perfil também passou a fazer sucesso entre os jovens recentemente. Chamado de daily, estes perfis funcionam como uma espécie de diário digital, em que é possível voltar para os 'primórdios' do Instagram.
@duda.lamounier mandem os dailys de vocês besties ???? #itgirl #daily ? som original - duda lamounier??
Ou seja, vale foto de comida, do pet, um vídeo espontâneo, paisagens, selfies e por aí vai. O grande diferencial, porém, é que este perfil é privado e aceita apenas os amigos mais próximos.
Diferente do que encontramos no mundo das redes sociais atualmente, nos dailys o número de seguidores não conta e a regra número um é ser você mesma.
Em época de influencers, o ‘normal’ é chato?
Tá, mas o que eles dizem sobre isso? Afinal, os perfis low profile e feed zero vieram para ficar? Bruna Bonin, de 24 anos, tem sua conta no Instagram desde 2016 e, no perfil, apenas quatro posts. Ela explica que faz uma seleção mais 'rigorosa' do que entra no feed e nos stories, seja por priorização de importância ou por questões de privacidade.
"Não tenho o costume de postar [no feed], pois acho que o que deve entrar lá é coisa mais importante. O problema é que as coisas que considero importantes deixo para depois e acaba perdendo o timing", comenta.
"Nos stories não tenho o costume de postar porque presto mais atenção no que está acontecendo no momento e esqueço de registrar". Além disso, ela ressalta que prefere não compartilhar momentos da rotina para preservar sua privacidade.
- Leia também: Como as séries retratam a geração Z?
Mas é claro que o movimento "low profile" da geração Z é multifatorial e, segundo Bruna, pode passar por vários motivos: desde ser algo vergonhoso, pouco 'aesthetic' e até inseguranças com a aparência.
Reforçando este último ponto, uma pesquisa realizada pelo Panorama de Saúde Mental em 2023 mostrou que jovens brasileiros de 10 a 24 anos apresentam baixos índices de autoestima. Dos entrevistados, 78% disseram que se sentiram feios e pouco atraentes na semana anterior à pesquisa.
A estudante de 18 anos Gabriela Amorim diz que se sente pressionada para parecer perfeita em fotos no feed. "O feed é muito diferente dos Stories nesse sentido. Por ser uma foto que vai ficar fixa no meu perfil, sinto uma certa pressão estética na hora de postar, tanto em relação à minha aparência quanto à 'aesthetic' da imagem", comenta.
A jovem ressalta que o perfeccionismo exacerbado com a própria imagem fez com que ela postasse cada vez menos nas redes sociais.
Geração Z está cada vez menos presente nas redes sociais (pelo menos no feed)
Alguns especialistas também apontam que a pandemia pode ter sido um dos grandes motivadores do movimento low profile das redes sociais, considerando que o uso excessivo da internet durante o isolamento social pode ter gerado uma "ressaca digital". Além disso, a cultura do cancelamento também é citada como um dos possíveis combustíveis, já que o medo de ser julgado por terceiros fica ainda mais em evidência no mundo online.
Por outro lado, tem quem acredite que, em uma época em que os influenciadores tomaram conta das redes sociais, já não tem mais graça postar uma rotina comum.
Wender Perez, também com 24 anos, é um desses. Com zero publicações no feed atualmente, ele explica que não vê motivo de expor uma rotina 'sem graça'. "Quando vemos o quão incrível é a vida de um influenciador, passamos a achar nossa rotina pouco interessante", comentou.
Novas tendências
Com a nova moda dos usuários de postar cada vez menos e proteger cada vez mais a privacidade, as redes sociais devem começar a seguir o ritmo para se adaptar às novas demandas – como o compartilhamento de conteúdo temporário e o maior controle sobre o que permanece visível no perfil.
Um exemplo foi a atualização do Instagram que passou a permitir publicar fotos no feed apenas para Melhores Amigos no ano passado. Inicialmente, o recurso estava disponível apenas nos Stories. Segundo a rede social, a expansão visa oferecer mais meios para os usuários se conectarem de maneira autêntica.
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