The Facebook Papers é o assunto do momento, mas você sabe exatamente o que isso significa? O nome foi dado ao conjunto de reportagens baseadas em documentos vazados por Frances Haugen, ex-funcionária da rede social, e que resultaram em uma grande denúncia que promete ser a maior crise enfrentada pela empresa de Mark Zuckerberg.
Os documentos chegaram até o Senado dos Estados Unidos, que está investigando as denúncias, mas um consórcio formado por 17 veículos de imprensa dos Estados Unidos está ajudando o mundo a entender melhor a profundidade dos papéis.
Os sites que tiveram acesso ao conteúdo na íntegra já disseram que ainda têm histórias inéditas para serem publicadas nos próximos dias, mas para te ajudar a entender melhor o que foi divulgado até o momento, reunimos quatro revelações importantes do Facebook Papers – pelo menos até agora.
1. Os próprios pesquisadores do Facebook ficaram chocados com as recomendações do algoritmo da rede social
"Vi mais imagens de pessoas mortas nas últimas três semanas do que em toda a minha vida"
Em 2019, um pesquisador do Facebook criou uma conta na rede social como se fosse um usuário que mora na Índia. A ideia era entender como o algoritmo lidava com regionalismos e, para isso, pediu para que a conta seguisse todas as recomendações geradas pelos algoritmos do Facebook para entrar em grupos, assistir a conteúdos em vídeos e explorar novas páginas da rede social.
O experimento durou três semanas e mostrou um grande problema de distorção das recomendações do Facebook. "Seguindo o Feed de notícias desse usuário de teste, vi mais imagens de pessoas mortas nas últimas três semanas do que em toda a minha vida", escreveu o pesquisador do Facebook em um dos documentos vazados e repercutidos pelo The New York Times.
2. Mark Zuckerberg decidiu censurar postagens antigovernamentais em nome do Partido Comunista
De acordo com reportagem do The Washington Post, em 2020, Zuckerberg decidiu pessoalmente que o Facebook atenderia às exigências do governo vietnamita para censurar postagens que iam contra o Partido Comunista. Dados da Anistia Internacional apontam que o Facebook ganhou cerca de US$ 1 bilhão em receita anual no país em 2018.
Ainda não está claro se a SEC, agência federal independente de regulamentação e controle dos mercados financeiros dos Estados Unidos, vai mover uma ação pessoal contra o CEO da rede social. De qualquer forma, as acusações abalam a confiança na liderança de Zuckerberg.
3. Apple ameaçou banir Facebook e Instagram da App Store após denúncias de tráfico humano
Imagem: Neirfy/Shutterstock.com
Em 2019, a Apple ameaçou retirar os dois serviços do Facebook da sua loja de aplicativos após a plataforma ser usada como ferramenta para negociar e vender empregadas domésticas no Oriente Médio. Na ocasião, uma reportagem denunciou ter encontrado esse tipo de comércio ilegal na plataforma e, mesmo ciente do problema, o Facebook só tomou providências depois da ameaça da Maçã.
A CNN divulgou o documento que detalhava as ações que a empresa tomou ao longo de uma semana para mitigar a ameaça. "Remover nossos aplicativos das plataformas Apple teria consequências potencialmente graves para os negócios, incluindo privar milhões de usuários de acesso ao IG & FB", afirma o documento. "Para mitigar esse risco, formamos parte de um grande grupo de trabalho que opera 24 horas por dia para desenvolver e implementar nossa estratégia de resposta".
4. Brasil é prioridade total na proteção contra ameaça à democracia, mas muitos países em risco ficaram sem monitoramento profundo
Para tentar proteger a democracia da desinformação durante as eleições ao redor do mundo, o Facebook criou a chamada Cúpula Cívica, que listava os países que receberam investimento e supervisão de acordo com o tamanho da ameaça. Um dos documentos divulgados por Frances aponta que Brasil, Índia e Estados Unidos foram colocados na chamada “camada zero”, que é considerada a maior prioridade do Facebook.
De acordo com o The Verge, esses países receberam os principais recursos da rede social, incluindo as famosas "salas de guerra" onde uma equipe ficava reunida ao redor de painéis personalizados para acompanhar e analisar as atividades eleitorais na plataforma. Dessa forma, qualquer movimentação suspeita ou problemas poderiam ser informados ao time local para que as medidas cabíveis fossem tomadas.
Outros 10 países – incluindo Alemanha, Irã e Israel – foram alocados na primeira camada, recebendo parte dos recursos e um acompanhamento menos ferrenho do que os de nível zero. Já os 22 países que faziam parte da segunda camada recebiam supervisão mais leve, fora das salas de guerra. Os demais países do mundo ficaram na terceira camada sem receber um monitoramento ativo de conteúdo. Esses dependiam do envio de conteúdos suspeitos por parte dos moderadores da plataforma para receber intervenção.
"Devemos priorizar a construção de classificadores para países com violência contínua em vez de violência temporária. Para o último caso, devemos confiar em ferramentas de resposta rápida"
Apesar de o Facebook alegar que sua alocação de recursos reflete as melhores práticas sugeridas nos Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, os documentos apontam algumas discrepâncias, incluindo:
países alocados na camada 2 sequer receberam moderadores especializados no seu idioma para tentar conter desinformação;
Mianmar, Paquistão e Etiópia, que foram os países designados como de maior risco durante as eleições, não receberam a atenção da Cúpula;
a Etiópia, que está no meio de um conflito civil, não recebeu classificadores de discurso de ódio.
Parte do documento vazado dizia que a empresa deveria priorizar a construção de classificadores para países com violência contínua em vez de violência temporária. "Para o último caso, devemos confiar em ferramentas de resposta rápida".
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