Esquema de fake news sobre vacinas pode envolver youtuber brasileiro

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Imagem: Jorge hely veiga/Shutterstock

Uma agência de marketing ofereceu dinheiro para que youtubers disseminassem informações falsas sobre vacinas contra a covid-19. Produtores de conteúdo do mundo todo foram contactados, incluindo o brasileiro Everson Zoio, que chegou a realizar vídeos falando sobre detalhes que estavam no briefing da empresa de marketing.

O caso foi abordado em reportagens divulgadas neste fim de semana pelos veículos BBC, The New York Times e Netz Politik. De acordo com as publicações, a situação foi divulgada por youtubers que não aceitaram a proposta.

O alemão Mirko Drotschmann, que tem mais de 1,5 milhão de inscritos, contou que a história começou a partir de um e-mail enviado em maio deste ano. Segundo ele, a agência de marketing, chamada Fazze, queria que ele divulgasse supostas informações vazadas mostrando que pessoas que tomaram a vacina da Pfizer tinham uma mortalidade três vezes maior em relação a quem tomou os imunizantes da AstraZeneca. Porém, não existem pesquisas que apontem essa correlação.

Vacina

"Fiquei chocado", afirmou o youtuber, o qual complementou dizendo que depois ficou "curioso" para saber quem estava por trás da proposta para espalhar a desinformação.

Outro delator do esquema foi o francês Léo Grasset, que tem um canal de ciência no YouTube e mais de 1,2 milhão de inscritos. De acordo com ele, a Fazze ofereceu uma compensação de 2 mil euros (cerca de R$ 12 mil, levando em consideração a cotação atual) para que ele participasse da "ação".

Conteúdo com desinformação

Os dois youtubers contaram que decidiram investigar o esquema e fingiram interesse na proposta da Fazze. Eles relataram que o briefing da agência de marketing estava escrito em um "inglês rebuscado". "Aja como se você tivesse paixão e interesse nesse assunto", conforme escrito em um trecho da mensagem.

O relatório também pedia aos produtores de conteúdo para que não fosse revelado ao público que os vídeos eram patrocinados (o que é ilegal), já que as informações deveriam parecer ter sido dadas em forma de conselho.

Uma matéria do jornal francês Le Monde foi citada como uma das fontes. Contudo, a reportagem não indica nenhuma comparação entre mortes e vacinas da Pfizer ou AstraZeneca.

Vacina

Para sustentar a correlação falsa, o texto da Fazze misturava números de diversos relatórios e levantamentos. Contudo, nenhum dos dados indica que a causa das mortes eram as vacinas ou até mesmo a covid-19.

"Se você não tem nenhum treinamento científico, pode simplesmente dizer, 'ah, existem esses números, eles são realmente diferentes. Portanto, deve haver uma ligação.' Mas pode-se fazer qualquer correlação espúria do modo que bem entender", argumentou Grasset, que tem experiência em divulgação científica.

Origens das fake news

Segundo a BBC, a Fazze integra uma empresa chamada AdNow, que tem sede em Moscou (Rússia) e registros no Reino Unido. Depois de tentar, sem sucesso, contato com a companhia, a reportagem localizou Ewan Tolladay, diretor do braço britânico da AdNow.

Ele disse ter pouco contato com a Fazze, sustentou que não sabia nada sobre o caso e indicou um russo que é diretor da agência. Por causa do escândalo de divulgação de fake news sobre vacinas, Tolladay argumentou que tanto a AdNow do Reino Unido quanto a Fazze serão fechadas.

As autoridades da França e da Alemanha iniciaram investigações policiais para tentar descobrir quem foi o cliente secreto que contratou o serviço da empresa de marketing para contratar youtubers do mundo e fazê-los divulgar as fake news.

Vacina

Inclusive, autoridades da Alemanha insinuaram que a Rússia é suspeita de envolvimento com o esquema. No caso, é sugerido que o país esteja tentando tirar a credibilidade das vacinas europeias e norte-americanas para promover a Sputnik V.

Divulgação no Brasil

O jornalista alemão Daniel Laufer também investigou a história e percebeu que as referências aos estudos e aos dados que foram citados pela Fazze começaram a ser apagados da internet assim que o caso veio à tona.

Uma das descobertas de Laufer foi que pelo menos dois youtubers aparentemente aceitaram a proposta da agência. Além deles, o indiano Ashkar Techy e o brasileiro Everson Zoio parecem ter sido outros produtores de conteúdo que aceitaram a proposta.

Com mais de 12,8 milhões de inscritos em seu canal, Zoio costuma fazer vídeos de pegadinhas e desafios. Foi justamente a diferença de temas que chamou a atenção de Laufer, que viu trechos de produções em que Zoio falava sobre as mesmas informações que constavam no briefing da Fazze. Os vídeos do brasileiro foram apagados do ar e, por enquanto, não foram encontrados backups das produções.

YouTube

O TecMundo entrou em contato com o youtuber pelo e-mail indicado em suas redes sociais, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.

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