O dia 10 de abril será lembrado pelas futuras gerações como a data histórica em que a humanidade pôde contemplar a imagem real de um buraco negro pela primeira vez. Embora o resultado bem-sucedido tenha sido esforço de vários cientistas, há um nome que se destaca, justamente porque foi essa pesquisadora que liderou o desenvolvimento do algoritmo capaz de juntar as informações de vários telescópios.
O estudo de Katie foi primordial para que o desenvolvimento dos códigos que puderam alinhar as informações dos telescópios na imagem real do buraco negro
Katie Bouman, formada em Ciências da Computação pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês) e foi ela quem escreveu o documento “Imagem Computacional para Reconstrução de Imagem VLBI” — tudo foi feito a partir desse estudo e normalmente o autor do texto que é registrado junto à comunidade científica é quem recebe a maior parte do crédito. Além de Katie, contribuíram Michael D. Johnson, Daniel Zoran, Vincent L. Fish, Sheperd S. Doeleman e William T. Freeman.
Até aí tudo bem, mas, sabe como é, sempre tem aquele troll que tenta desmerecer o papel das mulheres na história da ciência — lembrando que isso não é novidade, mas infelizmente aconteceu ao longo dos últimos séculos e, por mais triste que seja, é muito frequente na seção de comentários na web nos dias atuais.
Fonte: Instituto de Tecnologia de Massachusetts
Em fóruns, em vários outros sites especializados, nas rede sociais e mesmo aqui no TecMundo você não precisa ir muito longe para ver comentários como “uma pessoa não é responsável por isso sozinha”, “o código é a parte menos importante do projeto” ou “ela não é a cientista da computação que fez isso”.
Colega diz que Katie foi a maior responsável pelo projeto
Usuários lembram que Andrew Chael, colega de Katie no projeto, foi quem escreveu 850 mil das 900 mil linhas de código do algoritmo. Mas o próprio cientista postou um tweet em defesa de Katie, dizendo que sem sua contribuição para o software, não seria possível obter a imagem do buraco negro.
Jessica Wade, doutora em física engajada na divulgação da diversidade nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, falou sobre o assunto: “os maiores avanços científicos do mundo — como a primeira imagem direta de um buraco negro — só podem acontecer quando grandes e diversificadas equipes de cientistas internacionais trabalham juntas. Durante séculos, as pessoas que escolhemos para dar crédito a essas descobertas foram homens”.
(1/7) So apparently some (I hope very few) people online are using the fact that I am the primary developer of the eht-imaging software library (https://t.co/n7djw1r9hY) to launch awful and sexist attacks on my colleague and friend Katie Bouman. Stop.
— Andrew Chael (@thisgreyspirit) 12 de abril de 2019
“É claro que Bouman não teria escrito todo o código, assim como Englert e Higgs não são os únicos responsáveis pela descoberta do Bóson de Higgs. Em vez de desmerecer as contribuições de Katie e das inúmeras outras mulheres que trabalham no Telescópio Event Horizon, devemos dar um passo para trás e lembrar que ela não pediu esse reconhecimento — as pessoas em todo o mundo se cansaram de os homens estarem entre os únicos a serem elogiados."
Acho que ficou claro que a popularidade de Katie não se dá pelo gênero ou por “ser fotogênica” como muita gente acredita — não seja essa pessoa. E sim por sua revolucionária descoberta científica e pela liderança no projeto tocado por várias outras pessoas.
Fontes
Categorias