Desde que a Amazon decidiu se aventurar pelo mercado de streaming e enfrentar a Netflix, ela logo notou que para ficar à altura da concorrência seria necessário investir em criadores consagrados no setor e nas produções originais. E uma grande aposta foi Woody Allen, que, embora sempre estivesse em meio a polêmicas sobre assédio sexual, conta com uma carreira de hits, como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Manhattan”, “Meia-Noite em Paris”, entre outros.
Em 2014, então, o Amazon Studios fechou um contrato com Allen na surdina, que resultou na série “Crisis in Six Scenes”, exibida pela Amazon Prime Video em 2016. Segundo documento flagrado pelo The Hollywood Reporter, em seguida vieram acordos com sua produtora, a Gravier Productions, para quatro filmes, com pagamentos mínimos garantidos com soma entre US$ 68 milhões e US$ 73 milhões.
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Carreira do ator ficou extremamente abalada depois que as acusações de sua própria filha voltaram ao noticiário
Justamente nessa época, as mulheres violentadas verbalmente ou fisicamente na indústria passaram a denunciar casos como o do Harvey Weinstein, cofundador da Miramax. A centenas de revelações resultaram no movimento #MeToo, que ganhou força no Oscar de 2017 e causou muitas demissões e encerramentos de projetos em Hollywood. Allen foi um dos citados, por sua própria filha com Mia Farrow, Dylan Farrow, que há décadas acusa o pai de tê-la abusado sexualmente quando ainda tinha apenas 7 anos.
Fonte: W Magazine
O Amazon Studios que já havia costurado alguns filmes com Allen, percebeu que a publicidade negativa poderia minar a ascensão do seu serviço do Amazon Prime Video — que aos poucos vinha se equivalendo à Netflix na disputa pelo mercado. O estúdio, que teve dificuldade em encontrar salas de exibição para “Wonder Wheel”, decidiu então deixar “A Rainy Day in New York” na geladeira. A comédia romântica, com Selena Gomez e Jude Law, já está pronta há 6 meses, mas a Amazon se recusa a distribuí-la.
Acusações de assédio na Amazon e ação de Allen
O que Allen reclama é o fato da Amazon se recusar a distribuir o filme após quebrar alguns acordos. Vale destacar que muitos dos pactos foram firmados quando o chefe do Amazon Studios era Roy Price, que também deixou a companhia devido à ressonância do movimento #MeToo.
Allen diz que o Amazon Studios estava ciente das acusações de sua filha quando fechou os contratos
A empresa havia até sinalizado a intenção de distribuir “A Rainy Day in New York”, mas agora parece ter arquivado definitivamente a produção e sequer pretende levar em frente os outros longas planejados inicialmente. Allen alega que o próprio Amazon Studios estava ciente das acusações de sua filha e, além de quebra de contrato, quer uma compensação por não contribuir com sua carreira a não exibir seus filmes. A ação judicial tem o valor de US$ 68 milhões, mais alguns milhões por danos morais.
A Amazon por enquanto não comenta o caso — mas, fica claro que ela está disposta a gastar muita grana ao invés de manter uma figura agora considerada tóxica em seu portfólio de produções originais.
Fontes