Desde agosto deste ano, fontes da própria Google passaram a vazar informações sobre o “Dragonfly”, um suposto buscador customizado para o mercado chinês que funciona de acordo com a censura do governo. Enquanto isso, vários outros funcionários e organizações de direitos humanos começaram a se manifestar contra essa iniciativa, que, segundo os próprios desenvolvedores envolvidos, feria a privacidade dos usuários em prol do monitoramento das contas.
Em outubro, o CEO Sundar Pichai confirmou a existência do Dragonfly e posteriormente explicou que o software era um “experimento”, supostamente para avaliar diferentes tipos de filtros para o já conhecido e amplo mecanismo da companhia. Bem, a coisa não colou muito bem e o próprio conglomerado-mãe Alphabet criticou o programa.
No final de novembro, houve um manifesto dos profissionais da empresa de Mountain View e as críticas internas aumentaram, assim como a pressão sobre os executivos. Mais recentemente, o próprio Pichai foi questionado a respeito perante o Congresso estadunidense — e ali já mostrava que o projeto vinha enfraquecendo, dizendo que não havia planos para o seu lançamento “neste momento”. Com isso tudo, o Dragonfly implodiu, segundo o The Intercept.
Entidades comemoram, mas com ressalvas
Organizações não-governamentais celebraram a decisão da Google, mas o Secretário Geral da Anistia Internacional, Kumi Naidoo, foi enfático ao dizer que a companhia não encerrou o projeto devido às razões mais adequadas. “É preocupante que os relatórios indiquem que o Project Dragonfly tenha sido arquivado devido a discrepâncias em relação a processos internos, e não a preocupações com direitos humanos.”
“Ouvimos que a Google finalmente está descartando o Dragonfly. Se for verdade, damos as boas-vindas às notícias, mas este projeto nunca deveria ter visto a luz do dia. O Google deveria usar sua plataforma para defender a liberdade de expressão — e não ajudar os governos a restringi-la.”
We're hearing Google is finally dropping Dragonfly. If true, we welcome the news, but this project should never have seen the light of day. Google should be using its considerable platform to champion freedom of expression, not help governments curtail it. https://t.co/orZbHTUmIG
— Kumi Naidoo (@kuminaidoo) 17 de dezembro de 2018
Só para refrescar a memória, tudo começou quando a Google comprou em 2008 o site 265.com, baseado em Pequim. A companhia usou-o para fazer uma pesquisa de mercado e compreender o que as pessoas buscavam no Baidu, o grande buscador da China. A partir daí, os norte-americanos usaram os dados coletados para construir a base do Dragonfly.
Ninguém sabe ao certo se um dia o Dragonfly voltará a viver. Por enquanto, o projeto fica dormente por tempo indeterminado, assim como outras frentes que possam trazer políticas de privacidade mais invasivas.