As últimas notícias envolvendo a utilização combinada de dados pessoais e algoritmos para fins políticos não são boas. Desde as suspeitas de influência russa nas eleições de Donald Trump nos Estados Unidos até a revelação do uso indevido de dados pessoais do Facebook obtidos ilegalmente pela Cambridge Analytica (CA), a desconfiança só aumenta.
O Brasil vive um período conturbado que deve se tornar ainda mais preocupante com a proximidade das eleições de 2018 nas quais os brasileiros elegerão deputados, governadores e um novo presidente da República. Assim, nada mais justo do que a proliferação de dúvidas sobre a possível influência da tecnologia no pleito deste ano.
As notícias, porém, não são muito animadoras. Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV – DAPP) tenta jogar luz sobre este tema e indica que até 20% dos debates em apoio a políticos no Twitter é realizado por contas automatizadas (bots).
O grande risco é a manipulação do próprio processo eleitoral, aponta o especialista da FGV
De forma semelhante ao que foi feito pela CA nos EUA e no Reino Unido em 2016, esses robôs também são capazes de direcionar a intenção de voto. Para Andre Miceli, coordenador de digital business da FGV e especialista em sociedade digital, os perfis automatizados podem analisar informações pessoais dos usuários a fim de criar publicidade mais convincente, o que seria risco para o processo democrático.
“O grande risco disso é a manipulação do próprio processo eleitoral”, aponta. “Sabendo quem é a pessoa e como ela pensa, identifica-se quais são os argumentos mais eficientes no convencimento desse indivíduo. Cria-se assim um filtro bolha, que leva a uma opinião empobrecida e limitada, sem acesso a outros pontos de vista a partir das diferenças, em um ambiente de indução e controle totalmente sem transparência, verdadeiras ameaças à democracia.”
Proteção legal ainda não existe no Brasil
Se a Europa já aprovou a nova Regulação Europeia de Proteção de Dados (GDPR), que entra em vigor em maio e dá direito aos usuários de internet de solicitarem informações sobre um algoritmo, o Brasil ainda não tem nada parecido com isso.
“Nesse momento o governo brasileiro não pode fazer muita coisa, além de chamar alguns executivos dessas redes sociais para tentar entender como estão esses processos de publicação de conteúdo, coleta, uso, acesso e venda de dados”, indica Miceli. “É importante deixa claro que é muito mais uma questão ética do que legal, a menos que alguma lei seja efetivamente regulamentada no Brasil”, conclui.
Diante desse cenário, fica o questionamento sobre o quanto a tecnologia poderá, de fato, influenciar no direcionamento dos votos nas próximas eleições. Aparentemente, apenas o tempo será capaz de respostar a essa pergunta.
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