O TecMundo comunicou no fim da semana passada que a Google — em parceria com algumas operadoras de telefonia brasileiras — estava implementando um novo padrão de comunicação por aqui, o RCS (Rich Communications Service). Essa novidade pode ser encarada como uma evolução do SMS e vai trazer para os “torpedos” basicamente os mesmos recursos que apps como o WhatsApp possuem. Será possível enviar imagens, áudios, mapas e uma série de outros elementos. Os usuários também poderão participar de grupos de conversa e serem devidamente informados quando uma pessoa receber e visualizar o que foi enviado.
Mas como isso vai funcionar tecnicamente aqui no Brasil? Quando a implementação deve começar e quais são as vantagens dessa novidade na comparação com plataformas de conversa consolidadas como o WhatsApp, Telegram e outros?
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Uma tecnologia aberta e que pode ser usada por qualquer empresa
O TecMundo conversou com o Cassio Bobsin, CEO da Zenvia, uma empresa que está trabalhando em parceria com a Google para fazer a implementação do RCS no Brasil para o mundo corporativo. De acordo com ele, a principal vantagem desse novo padrão frente ao WhatsApp, por exemplo, é o fato de estarmos falando de uma tecnologia aberta e que pode ser usada por qualquer empresa.
Qualquer fabricante de smartphone ou desenvolvedora de apps pode criar seu próprio app mensageiro compatível com o RCS e oferecer uma experiência diferenciada para os usuários de uma rede de comunicação aberta. As fabricantes poderão implementar isso diretamente nos seus apps de mensagem, e a própria Google já tem uma solução bastante completa para isso, o Android Mensagens.
Ele é um padrão global. Nenhuma empresa é detentora dele. Você não fica sujeito a uma política de uso de uma empresa específica
“Ele é um padrão global. Nenhuma empresa é detentora dele. Você não fica sujeito a uma política de uso uma de empresa específica. Ninguém pode fazer uso dos seus dados de forma alguma”, explicou Bobsin ao TecMundo. Isso é importante pelo fato de mensageiros populares da atualidade serem de propriedade de grandes empresas cujos negócios giram em torno do uso de dados dos clientes para direcionar propaganda. Esse é o caso do WhatsApp, que é propriedade do Facebook. As informações dos usuários desse mensageiro podem ser repassadas para o Facebook para diversas aplicações, inclusive para o direcionamento de propaganda.
O fato de ser um padrão aberto pode facilitar a vida de empresas que querem se comunicar com os clientes de uma forma mais interessante do que simplesmente através de SMS comum. Uma empresa aérea poderia enviar um cartão de embarque interativo para seus passageiros, por exemplo, sem ter que adicionar essas pessoas no WhatsApp ou em outra plataforma. “As empresas podem usar o RCS para atendimento, marketing, processos mais operacionais como confirmações de entrega, agendamento de consultas…”, explicou Bobsin.
Cobrança
Inicialmente, Vivo, Claro e Oi estão participando da implementação do RCS no Brasil. Isso está sendo feito através de uma iniciativa da Google, que tem interesse em disseminar a tecnologia e universalizar a comunicação entre os usuários do Android e de outras plataformas. A empresa está inclusive oferecendo sua infraestrutura de nuvem para facilitar a implementação por parte das operadoras, e as três brasileiras que estão começando a usar o RCS estão em uma parceria com a empresa. A expectativa é de que, durante o primeiro trimestre de 2018, o usuário final já tenha acesso à novidade.
Não revelaram como pretendem cobrar de seus clientes pelo tráfego de mensagens RCS, mas existem duas possibilidades
Contudo, as operadoras ainda não revelaram como pretendem cobrar de seus clientes pelo tráfego de mensagens RCS, mas existem duas possibilidades. A primeira seria tratar o RCS como um serviço que funciona através da internet e, dessa forma descontar o tráfego do plano de dados do usuário, bem ao estilo do que se faz hoje com WhatsApp, Telegram e outros.
A segunda opção seria oferecer um tráfego diferenciado para a comunicação RCS, mais ou menos como acontece hoje com o SMS. Dessa segunda maneira, as operadoras poderiam cobrar separadamente a comunicação por RCS ou integrar isso no valor dos planos que os clientes assinam.
Quando não houver internet, as mensagens de texto e emojis enviadas por RCS devem continuar chegando aos destinatários
Nós esperamos que as operadoras descontem o tráfego de dados diretamente das franquias de seus clientes para não impactar no preço de planos que elas cobram hoje. Mas, caso elas cobrem separadamente, é provável que ofereçam isso “de graça” (pelo menos em alguns planos) a fim de incentivar a migração a partir de ferramentas como o WhatsApp. Além disso, quando não houver internet, as mensagens de texto e emojis enviadas por RCS devem continuar chegando aos destinatários. Imagens e outros itens multimídia ficam aguardando conexão.
A Vivo nos informou que ainda “está avaliando o lançamento de mensagens RCS para seus clientes” e ainda não tem detalhes sobre preços. A Oi, por sua vez, afirmou que a tecnologia ainda "está em análise e não há como passar expectativas sobre valores" no momento. O TecMundo também entrou em contato com a Claro, e vamos atualizar esta postagem assim que a empresa retornar o contato.
O que é RCS?
O RCS ou Rich Communications Service é uma tecnologia de comunicação aberta e padronizada pela GSMA — instituição responsável pela padronização das telecomunicações móveis no mundo — em 2008, como uma evolução para o antiquado SMS. Contudo, somente em 2016 a tecnologia ganhou um plano de implementação global, obtendo suporte de empresas como Google, Microsoft, Samsung, Motorola e muitas outras.
Os smartphones Android mais recentes já chegam ao mercado compatíveis com o novo padrão, mas aparelhos mais antigos podem precisar de atualização para unificar devidamente as formas de comunicação. O objetivo é que seja possível conversar com pessoas em qualquer parte do mundo com esse recurso.
Possível uso comercial para o RCS: envio de cartões de embarque para passageiros
O primeiro lançamento do RCS, feito em novembro de 2016, trouxe as funções básicas da plataforma, como a possibilidade de descobrir novos usuários, mandar mensagens de texto, participar de grupos, transferir arquivos, enviar áudios, compartilhar vídeos e usar o recurso em vários aparelhos ao mesmo tempo. Também foi implementado o compartilhamento de localização e de “desenho em tempo real”.
Em julho de 2017, chegaram as primeiras APIs dessa plataforma, para que ela fosse integrada em apps de terceiros, além de melhorias na autenticação dos usuários e na segurança geral da plataforma. Apesar disso, não temos informações mais concretas sobre como a criptografia da comunicação RCS acontece.
Existe a possibilidade de o RCS se tornar a plataforma de comunicação mais moderna e segura do mundo mobile
A GSMA, em parceria com as fabricantes de smartphones, de sistemas operacionais e com operadoras mobile, está trabalhando continuamente para manter o padrão atualizado com novos recursos e, por isso, existe a possibilidade de o RCS se tornar a plataforma de comunicação mais moderna e segura do mundo mobile em alguns anos.
O fato de os usuários receberem smartphones com apps compatíveis instalados de fábrica também deve ajudar na questão do número de usuários, mas Bobsin acredita que essa novidade fará sucesso primeiro entre empresas, as quais estão carentes de uma forma de comunicação mais eficiente com seus clientes.
E o iPhone?
De acordo com a Google, o RCS na Vivo, na Claro e na Oi deve começar a funcionar a partir do primeiro trimestre de 2018. Por enquanto, aparelhos da Apple — que usam o iOS — não são compatíveis com o RCS, e a empresa ainda não se pronunciou sobre a novidade. Caso ela eventualmente integre o padrão em seu software mobile, é possível que os usuários do iMessage finalmente consigam conversar com seus amigos e familiares que usam o Android sem ter que usar o WhatsApp ou outras ferramentas para isso.