O modo como controlamos os nossos dispositivos e os aparelhos dentro e fora de casa está mudando bastante e cada vez mais o “futuro” que a ficção imaginou — com ambientes completamente interativos e controláveis usando apenas gestos — está se tornando real.
O Google Glass, quem sabe, seja uma das maiores mudanças na forma como nós nos relacionamos com os aparelhos e usamos isso para interagir com o ambiente ao redor.
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Mesmo sem de fato ter sido lançado para o grande público, ele já revolucionou bastante o rumo que as novas interfaces estão tomando.
Mudanças de interface
Um dos caminhos para a mudança é que o telefone está deixando aos poucos de ser o centro de todo o controle tecnológico — há alguns anos, poder desligar o abajur usando um app para o smartphone era novidade. Hoje, é possível fazer isso usando um anel.
(Fonte da imagem: Reprodução/Kickstarter)
Esse tipo de alteração é um fenômeno que acompanha não apenas o hardware, mas também a aparência dos softwares para computador e dispositivos móveis. As interfaces se tornaram mais simples, com muita interação personalizada por gestos, e isso tende a ser ainda mais aprimorado nos próximos anos.
Descentralização do controle
No lugar dos botões para cada ação nos softwares e do centro do controle em uma tela de telefone, o que o futuro aparentemente nos promete é uma personalização que deixe esse tipo de interação mais natural, automático e, principalmente, muito mais humano.
Vestir os aplicativos, comandar os aparelhos usando a voz, personalizar o uso até dos seus eletrodomésticos e brinquedos: o seu corpo agora é o controle principal. Veja algumas novidades que estão transformando a aparência do que está dentro e fora da tela e a forma como nós interagimos fisicamente com isso.
Ring, o controle que cabe no seu dedo
Faltando menos de um mês para a conclusão do projeto do Ring no Kickstarter, ele já alcançou quase o triplo do que foi pedido — ou seja, será lançado ao mercado em breve. Este pequeno dispositivo é um passo importante na humanização das interfaces, já que tudo indica que finalmente um aparelho desses vai ser barato e útil no dia a dia.
Este anel permite que você faça um gesto simples para indicar qual aplicativo, dispositivo ou aparelho eletrônico você quer comandar e então permite que você controle tudo ao seu redor. Com configurações simples, você pode aumentar o volume da TV, enviar mensagens de texto, desligar a luz, pausar a reprodução da música, fazer pagamentos e muito mais.
O vídeo acima mostra várias maneiras com as quais você consegue interagir com este pequeno dispositivo. A melhor parte é que ele é comprovadamente compatível com diversos aparelhos e pode também ser ligado via Bluetooth a controladores que usem Arduino, por exemplo.
Mesa com “interface palpável”
Essa tecnologia ainda está engatinhando, mas é impossível não ficar maravilhado com a novidade e pensar no que isso pode representar para o futuro. A mesa mostrada no vídeo abaixo, construída por Hiroshi Ishii e os seus alunos do MIT, é incrível: ela responde em tempo real aos gestos feitos em um sensor, controlando mecanicamente os “pixels” da interface.
O protótipo ainda tem pouca resolução, mas já é capaz de reproduzir fielmente qualquer objeto ou gesto abaixo do sensor ou modelos 3D inseridos pelo software. Essa tecnologia, se aplicada a outras superfícies, permite inúmeras possibilidades, como controlar remotamente aparelhos, criar mesas tridimensionais para exibições e até, quem sabe, abraçar alguém que está longe.
Moff: deixe mais reais as brincadeiras infantis
Esse é outro protótipo que já garantiu toda a renda para o desenvolvimento e produção no Kickstarter e será lançado em breve. O Moff é uma resistente pulseira sonora que promete acompanhar as crianças em suas brincadeiras, tornando um pouco mais real o mundo imaginário dos pequenos.
Você pode usar um smartphone para configurar este pequeno aparelho e adicionar movimentos para que ele os reconheça e os transforme em som. Guitarras imaginárias, varinhas mágicas, espadas, tambores, raquetes de tênis e muito mais! Sempre que a criança faz um gesto, ele emite um som e torna a brincadeira mais real e divertida.
Tinta condutora e os novos circuitos eletrônicos
Quem já tentou montar uma placa com um circuito eletrônico no modo tradicional, usando ácido sobre uma placa especial, sabe que isso pode ser bem trabalhoso. Para deixar mais “humana” a interação de pessoas com objetos, é preciso que esse processo também seja simplificado — o que permite que qualquer pessoa monte um receptor Bluetooth, por exemplo.
HIBOU - Gilded ceramic radio from Raphaël Pluvinage on Vimeo.
A tinta condutora permite inúmeras possibilidades e é incrivelmente simples: é como usar uma caneta para criar as linhas dos circuitos, o que pode ser feito em várias superfícies. O rádio do vídeo acima mostra um aparelho que não parece ter muitas novidades — mas, se você olhar mais de perto, vai ver que toda a decoração dele é usada de maneira ativa para controlá-lo.
Facilitar a criação de circuitos eletrônicos permite que você adapte e crie dispositivos baseados nas suas necessidades, e é exatamente nesse sentido que a tecnologia parece estar caminhando. A tinta condutora pode transformar uma folha de papel em uma caixa de som (imagem abaixo), por exemplo, e tem inúmeras aplicações no dia a dia.
Alto-falante feito de papel faz parte das criações de Coralie Gourguechon (Fonte da imagem: Reprodução/Coralie Gourguechon)
Este projeto fundado no Kickstarter mostra uma caneta com essa tinta que permite, entre vários outros usos, que estudantes testem nos seus próprios cadernos se um circuito em um exercício está funcionando ou não: o resultado é um aprendizado com mais prática e menos teoria.
Mudanças de interfaces em apps e redes sociais
A interação das pessoas com as máquinas não vai mudar de um dia para o outro, portanto qualquer evolução é significativa. Pequenos detalhes alterados levam a padrões cada vez mais diferentes e isso se reflete também nos aplicativos e redes sociais. Por exemplo, o iOS 7 trouxe mudanças visuais que pouco alteraram a usabilidade do telefone, mas trouxeram diversas questões para a discussão.
Evolução da interface do iOS acompanha a tendência de simplificar os aparelhos (Fonte da imagem: Reprodução/Apple)
Até que ponto a interface de um app ou sistema guia os usuários e quando é que ela passa a ser guiada por eles? Essa diferença está ficando cada vez menor ultimamente, com interfaces como o Google Now, que aprende a rotina da pessoa para tornar-se mais inteligente e realmente útil, e não apenas bonita e fácil de usar.
Mesmo em dispositivos que não possuem tela de toque, a navegação por gestos já se consolidou praticamente como uma regra em apps modernos e redes sociais. A timeline do Facebook tornou-se dinâmica, o Twitter está cada vez mais diferente do que era no início (e isso reflete na maneira como as pessoas o usam) e até o Windows adotou uma interface híbrida que tenta juntar desktop e touchscreen.
Car Mode: carros inteligentes de verdade
(Fonte da imagem: Reprodução/Joey Copone)
Um dos caminhos para alterar o modo como uma pessoa interage com um sistema é tornar isso automático. Ou seja, você configura uma vez e depois basta comportar-se naturalmente para que a interação ocorra. É o que propõe esse aplicativo, ligado diretamente à central eletrônica do seu carro: quando você estiver acelerando, ele não permite o uso do celular e garante uma viagem muito mais segura.
Ligações e mensagens recebidas são automaticamente respondidas com um aviso de que você está dirigindo e, quando o carro estiver parado, elas chegam até você. Alguns detalhes precisam ser definidos, no entanto, para que as pessoas realmente usem esse sistema: os mapas e o controle da música, por exemplo, são importantes e poderiam estar na interface simplificada que o app traz.
(Fonte da imagem: Reprodução/Joey Copone)
Uma das ideias propostas para que o sistema realmente seja usado é que seguradoras, por exemplo, façam parcerias para incentivar o uso diminuindo um pouco o valor do seguro se você estiver sempre com o app ativado. O “Car Mode” é uma criação de Joey Cofone e ganhou prêmios de design, mas ainda é um protótipo e não tem previsão de quando — ou mesmo se — será produzido.
Leap Motion: aplicações práticas na Medicina
O sensor de movimentos Leap Motion é um pequeno hardware que permite que você controle computadores sem tocar em nada. Com um sistema que lembra um pouco o Kinect, por exemplo, este aparelho tem aplicações muito mais diversificadas do que apenas servir de controle para gamers. Uma delas é a utilização em salas cirúrgicas.
Se um médico tocar com as luvas esterilizadas em locais “sujos” (mesmo dentro do próprio centro cirúrgico), isso contamina toda a segurança da operação — todo cuidado é pouco nesses casos. Por esse motivo, o Leap Motion traz uma mudança muito interessante na maneira como um cirurgião pode interagir com o computador para ver modelos anatômicos e dados sobre o paciente: basta usar gestos no ar, como mostra o vídeo acima.
Aparelhos inteligentes: o futuro das smart houses
Controlar as nossas casas de maneira inteligente usando smartphones, dispositivos portáteis e o próprio corpo não é um conceito novo, afinal a automação residencial existe há muito tempo. Porém, o que tem mudado é a ideia de que você precisa construir uma residência inteira conectada, do zero, para que isso funcione.
(Fonte da imagem: Divulgação/Electrolux Design Lab)
É claro que existem projetos futuristas que mostram, por exemplo, uma cozinha como um único computador: tudo está conectado — até as paredes! —, com superfícies de toque e aparelhos personalizados. Porém, isso é caro e inacessível para a maior parte das pessoas. O que o futuro reserva, talvez, é a simplificação disso juntando todos os itens acima.
Se você puder criar os seus próprios circuitos aos aparelhos e então controlá-los usando um pequeno anel e um smartphone, isso sairia bem mais barato do que a alternativa atual. Alguns fabricantes (conforme mostramos neste artigo) já estão se preocupando em criar aparelhos que possam ser personalizados pelos seus usuários e que se conectem a sistemas externos e smartphones.
(Fonte da imagem: Divulgação/Dragan Trenchevski)
As Smart TVs, atualmente, não são mais exageradamente caras e a tendência é a de que, no futuro, os aparelhos comuns da sua casa sofram esse mesmo processo: deixem de ser eletrônicos individuais e passem a interagir uns com os outros e com controladores externos. Ao que tudo indica, é para esse sentido que as interfaces gráficas e físicas estão caminhando.
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