Era uma terça-feira quando recebi a tarefa de testar meu primeiro programa desenvolvido especificamente para o Linux. Isso aconteceu porque na semana anterior a chefia decidiu que não haveria mais uma pessoa específica para testar os programas que rodam em Linux, ou seja, todos os redatores teriam que fazer essa tarefa. Até aí tudo bem. Fui até o computador e comecei o meu teste.
Minha experiência com o Linux, até então, era quase inexistente. Eu não tinha noção de como instalar um programa nesse sistema. Porém, um pequeno tutorial, criado pela equipe que entende de Linux na empresa, me ajudou a utilizar a Central de Programas do Ubuntu que faz quase tudo sozinho. Assim, instalei o programa e comecei a utilizá-lo.
Os testes foram muito frustrantes. O programa apresentou diversos bugs que tornaram seu uso quase impossível. A associação desse programa com o Ubuntu foi inevitável e saí do computador decepcionado com ambos. Não só pelo fato de o programa apresentar defeitos, mas pelas dificuldades que tive ao navegar pelo sistema naquele momento.
Voltei para meu computador, coloquei meus fones de ouvido e comecei a redigir sobre o que acabara de testar. Quando eu estava na metade do texto, o gerente de conteúdo, Gustavo Bonato Abrão, entrou na sala e começou a falar com todos os redatores presentes no local. Quando retirei meus fones, consegui ouvir apenas a palavra “Linux” ecoar pela sala. Nesse momento, todos começaram a trocar olhares de dúvida. Não consegui conter minha curiosidade e perguntei: - “O que tem o Linux?”.
Inexplicavelmente, pelo menos pra mim que não tinha ouvido nada no começo, o Gustavo começou a fazer perguntas sobre minha relação com o Linux. Aparentemente, achei que tinha algo a ver com o programa que havia testado há pouco, pois ele enfatizou a pergunta: - “Você odeia Linux?”.
Bom, eu não odiava, mas também não amava, ainda mais por causa da minha experiência recente. Respondi que era indiferente, pois nunca tive oportunidade de usá-lo por muito tempo.
As perguntas continuaram até que ele resolveu me “castigar”: - “Você usará o Linux por uma semana!”. A sensação de alívio que eu percebi dos outros colegas me fez acreditar que aquilo era realmente um castigo. Em seguida ele me explicou o que deveria ser feito.
A ideia principal da tarefa é mostrar as dificuldades e surpresas que um usuário familiarizado com o Windows (tanto Vista quanto XP) pode encontrar ao conhecer o Ubuntu. Com isso, eu teria uma semana em frente ao Ubuntu para me adaptar a um novo sistema. E assim começou minha jornada.
1º Dia - Instalação do Ubuntu
Como se não bastasse ter que testar funcionalidades, programas, interface e outros itens de sistema, também tive que instalar o Ubuntu Karmic Koala 9.10. Porém, isso não foi tão simples quanto parece, pois recebi a tarefa de ensinar os usuários a instalar o Windows 7 e o Ubuntu no mesmo computador utilizando o sistema de dual boot.
Acredito que muitos usuários que estão lendo este artigo possuem algum interesse em instalar o Ubuntu, mas não querem largar o Windows de imediato. Afinal, não é bom apostar todas as fichas em campo desconhecido, portanto, o artigo de dual boot com esses dois SOs é uma ótima opção. Caso você ainda não atualizou ou comprou o Windows 7, leia este artigo, que ensina a fazer o dual boot com os SOs anteriores, XP e Vista.
A instalação não foi um problema, confesso que a parte mais crítica da configuração do dual boot foi em relação ao particionamento do HD, mas isso não vem ao caso nesse momento.
Quanto à instalação, o Ubuntu precisou de algumas configurações a mais que os usuários do Windows não estão acostumados a configurar. Contudo, basta seguir as orientações de instalação mostradas no artigo de instalação que tudo fica em ordem.
O resto do dia reservei para configurar os dois sistemas operacionais de modo que compartilhassem as pastas de usuário de forma integrada e os testes ficaram para o dia seguinte.
2º Dia - Conhecendo o Ubuntu
O primeiro passo depois da instalação do Ubuntu é a adaptação em relação ao design do sistema. Logo de cara, notamos uma grande diferença em relação à Barra de Tarefas que estamos acostumados no Windows. No Ubuntu existem dois painéis, um na parte de cima da tela e outro na parte de baixo.
Painéis
Apesar de estarem configurados para funções específicas, os painéis podem ser personalizados de acordo com a vontade do usuário. A princípio, procurei não alterar o lugar padrão das janelas e botões, afinal, não faz sentido modificar o design sem ao menos testar a navegabilidade dessa disposição.
O painel superior contém três menus na lateral esquerda: Aplicativos, Locais e Sistema. Essa separação de menus é bastante intuitiva, pois estes são os principais itens que os usuários procuram ao utilizar o computador. Assim, não é necessário passar por diversos submenus para encontrar o que necessita.
Ao lado dos menus estão localizados os links de programas. Essa característica é semelhante aos sistemas Windows XP e Vista com que já estamos acostumados, portanto, nenhuma novidade aparente. Do outro lado da tela, na ponta direita do painel superior, encontramos a Área de Notificação com as mesmas funções que a do Windows, exceto por um botão que possui as opções de sessão (desligar, reiniciar, efetuar logoff, etc.).
O painel inferior é, em grande parte, responsável por organizar as janelas de programas abertos e possui algumas funções adicionais. Na extrema esquerda existe um botão que mostra o desktop e minimiza todas as janelas. Do lado oposto está localizada a Lixeira e um botão que permite alternar entre duas Áreas de Trabalho distintas.
Diferenças percebidas
As configurações iniciais do Ubuntu são bastante fáceis de trabalhar. O usuário pode ter um pouco de dificuldade em se acostumar com a separação de painéis, pois no Windows elas são agrupadas. Além disso, o painel principal fica na parte superior da tela, diferentemente da configuração inicial dos sistemas operacionais da Microsoft.
Como já foi dito anteriormente, o Ubuntu permite que os usuários personalizem os painéis do sistema, assim, é possível unir os dois e deixar o desktop semelhante à do Windows. Contudo, acredito que isso não é necessário, pois o Ubuntu possui uma disposição que se adapta às necessidades da maioria dos usuários.
O segundo dia foi dedicado às possibilidades de configurações de menus. Confesso que me diverti muito com isso, pois tive a oportunidade de testar inúmeras possibilidades de painéis. Se os usuários de Windows mais fervorosos enchem a boca para se gabar de personalizações, o Ubuntu mostra que isso não é uma exclusividade.
3º Dia - Personalização
Antes de começar a navegar pelo sistema e utilizar os programas, resolvi tirar boa parte do expediente para personalizar o Ubuntu como eu costumo fazer no Windows. A princípio, deixei as janelas e botões no lugar padrão do próprio sistema e procurei alterar apenas opções gráficas.
Através do menu “Sistema”, consegui achar as configurações de aparência com bastante facilidade. A janela de temas apresenta diversos modelos com cores diferentes, mas nenhum deles faz mudanças significativas no visual. Assim, resolvi procurar por novos temas online.
4º Dia - Aplicativos
A primeira coisa que notamos ao acessar os menus do Ubuntu é a organização dos aplicativos. Eles são divididos em categorias que facilitam o acesso a determinado programa. Essa separação permite que o usuário encontre os programas baseado na sua necessidade, e não pelo nome do aplicativo.
A instalação do Ubuntu, além do próprio sistema operacional, também inclui diversos programas que suprem as necessidades básicas dos usuários, como os de edição, visualização, navegação, etc. Nesse dia, resolvi testar alguns desses aplicativos que já estavam instalados.
A classificação que o Ubuntu apresenta no menu de aplicativos me ajudou muito a identificar os programas de que eu necessitava no momento. Alguns eu já conhecia pelo Windows, pois sempre fizeram parte do meu cotidiano, como o Firefox e o Skype. Os outros programas foram mais difíceis de identificar, pois eles não são tão conhecidos quanto os desenvolvidos para Windows.
O Firefox é praticamente o mesmo que usamos no Windows e não reparei nenhuma novidade, o que me deixou bastante à vontade para navegar. Já com o Skype não foi a mesma coisa, o design é mais simples e as funcionalidades do programa são diferentes, porém, nada disso me proibiu de trocar mensagens normalmente.
Nem todos os softwares desenvolvidos para Windows possuem uma versão para Linux. Apesar disso, existem muitos programas que oferecem os mesmo serviços. O Empathy, por exemplo, é o mensageiro padrão do Ubuntu. Ele permite se conectar a diversos serviços de mensagens, entre eles estão o MSN, ICQ, IRC e Gtalk. Contudo, ele é muito simples e não me agradou muito em relação a funcionalidades. Mas ei! Não vamos culpar o Ubuntu por isso, afinal, quem é que gosta daquela versão do Messenger que vem com o Windows XP?
Como eu costumo usar o MSN com frequência, resolvi instalar um mensageiro mais completo: o aMSN. Apesar de não ter uma interface muito atrativa, ele apresentou diversas funcionalidades que me agradaram bastante. Confira nesse artigo uma relação com os melhores mensageiros Linux para o MSN.
5º /6º Dias – A prova real
Reservei dois dias da análise para me dedicar ao trabalho do dia a dia: instalar, testar e escrever sobre os programas. Este seria um teste duplo, pois eu deveria me acostumar com a navegação do Ubuntu e, ainda, ver como os próprios programas para Linux se comportavam.
Agora que eu já conhecia um pouco mais sobre algumas características do Ubuntu, meu trabalho iria fluir mais facilmente. Afinal, desde o primeiro desastre que me trouxe a este artigo, muita coisa mudou.
Central de Programas do Ubuntu
Uma das coisas que mais merecem destaque entre as últimas novidades anunciadas para o Ubuntu Karmic Koala 9.10 é a Central de Programas do Ubuntu. Arrisco dizer que este sistema de instalação é ainda mais simples e explicativo do que o do Windows. Através dele o usuário não precisa fazer configurações avançadas para instalar um programa, pois o processo é feito automaticamente. Desde a pesquisa por novos aplicativos até sua desinstalação.
Resultados
Os testes ocorreram de forma satisfatória, pois não senti qualquer desconforto com a navegação do Ubuntu, muito pelo contrário. As possibilidades que o Ubuntu oferece ao usuário em relação à personalização do Desktop agrada a gregos e troianos.
A decepção, na verdade, ficou por conta de alguns programas testados que não funcionaram como deveriam, alguns eram “simplesmente” horríveis. Porém, não podemos deixar que isso influencie sobre o Ubuntu, pois até mesmo programas desenvolvidos para Windows possuem falhas.
7º Dia – A despedida
Comecei este artigo com a mente aberta, ou seja, não queria iniciar os testes com um pensamento negativo, como a maioria dos usuários Windows possui sobre o Linux. Afinal, o Windows também possui defeitos.
Quando me foi passada a tarefa de usar o Ubuntu por uma semana, achei que demoraria para me acostumar com o novo sistema, mas isso não aconteceu. O período de adaptação ocorreu muito rápido, pois as diferenças em relação aos SOs Windows não são tão grandes assim.
A maior razão para eu voltar para um computador com o Windows instalado ainda é a enorme variedade de programas e jogos desenvolvidos para ele. Isso pode parecer pouco, mas a maioria das atividades que desenvolvemos no nosso cotidiano são feitas para Windows e já estamos acostumados com elas.
Existem muitos detalhes sobre o Ubuntu que me surpreenderam, mas não foi possível juntar tudo em um artigo só. Se você já pensou, pelo menos por um breve momento, em experimentar um sistema operacional de código aberto, garanto que o Ubuntu irá te surpreender. Para mais informações sobre suas características, curiosidades, detalhes técnicos e mais personalizações, visite o artigo “Como Usar o Ubuntu“.
Se você, assim como eu, nunca teve muito contato com o Linux, faça um teste. Com as dicas que passamos neste e em outros artigos, você não precisará abandonar o Windows para experimentar o Ubuntu. Baixe o novo Ubuntu Karmic Koala e diga o que achou. O desafio está lançado.