Todo mundo já ouviu falar da Web 2.0 – a internet social. Sites mais fáceis de utilizar, redes sociais, plataformas de interação e o compartilhamento de informação e conteúdo são suas marcas mais conhecidas. Muitos também se lembram da WWW, com seus sites em tabelas de HTML preenchidos de GIFs animados. A transição destes dois momentos distintos da história da internet, entretanto, ocorreu de maneira relativamente tranquila para o usuário - que só precisou atualizar seu navegador e algumas tecnologias de plugins, como o Flash, e mais recentemente o Silverlight.
Agora, as principais diferenças entre a WWW original e a Web 2.0 – estrutura e conteúdo – serão novamente colocadas à margem de um novo passo na evolução da rede mundial de computadores. O que já se chama de Web2 está em vias de nascer.
Web 2.0 + World = Web2
Essa é, aproximadamente, a equação que Tim O´Reilly – que cunhou o termo Web 2.0 para essa etapa de interação social da internet e defensor da Creative Commons e do Software Livre– usou para descrever o próximo passo da história da rede. Porém, o quê exatamente é a tal da web “ao quadrado”?
Tanto O´Reilly quanto o grupo europeu BIONETS (BIOlogically inspired NETwork Services, ou serviços de rede biologicamente inspirados) defendem uma nova arquitetura do conteúdo disponível. Mais complexa, mais heterogênea e mais escalável, a Web2 deve ser uma rede que não apenas conecta computadores pessoais e dispositivos móveis como PDAs e celulares. A grande evolução é a conexão do forno de microondas, do computador de bordo do seu carro e até mesmo de peças de roupa inteligentes.
Pelo lado do conteúdo, a Web2 não deve se afastar da característica de interação social trazida pela Web 2.0, porém com a convergência de diversos serviços para dispositivos portáteis, e principalmente o advento do Cloud Computing, a maneira de se relacionar online mudará.
Pedras demais no caminho
O grande problema de uma rede tão abrangente é a dificuldade de encontrar um padrão básico que possa ser utilizado – e entendido - por todos os tipos de aparelhos que estejam conectados. O chip que analisa seus dados vitais e biométricos durante a prática de esportes não tem a mesma capacidade nem a mesma programação que o processador de um smartphone de última geração.
Na prática, isso significa que as aplicações desenvolvidas para a Web2, além de funcionarem normalmente no seu navegador, deverão também ser entendidas e processadas por equipamentos muito mais simples do que um computador. Essa preocupação já existe há algum tempo, com a popularização das redes WAP, EDGE e 3G que permitiu o acesso remoto à internet através de telefones celulares.
O desafio é fazer com que dados enviados, por exemplo, de um celular sejam compreendidos, interpretados e executados por sistemas de segurança, carros, além de diversos equipamentos domésticos ou profissionais. Com a enorme diferença de tecnologias existente entre cada fabricante, e a ausência de um modelo único de formatação desses dados, pode-se esperar complicações nesse processo. Lidar com este grau de discrepância será uma das principais conquistas da Web2.
Para todos, o tempo todo
Além das dificuldades tecnológicas e de processamento de dados, uma segunda barreira já foi reconhecida pelos pesquisadores da Web2. A quantidade de dispositivos que estarão conectados o tempo todo só tende a aumentar, o que exigirá da infraestrutura da rede desempenho e estabilidade muito maiores.
No mundo inteiro as redes de telefonia celular frequentemente apresentam problemas como quedas nas taxas de transferência e diminuição da qualidade do sinal.
Agora imagine que além dos telefones, utilidades domésticas, roupas inteligentes e uma série de outros equipamentos também estarão conectados o tempo inteiro à essa rede. Entretanto, sem investimentos significativos na ampliação e melhoria do sistema, a possibilidade de instalar a Web2 e vê-la funcionar é mínima.
Somando problemas de tecnologia e de estrutura, pode-se perceber que ainda existe um longo caminho a ser trilhado até a chegada da nova era da comunicação online.
Soluções simples
Porém, a falta de condições atual é mais um incentivo ao desenvolvimento de alternativas viáveis do que um grande fosso onde qualquer esforço se afoga.
A computação na nuvem (cloud computing) é uma das possibilidades mais promissoras em relação à Web2. Retirando as tarefas mais complexas de processamento de computadores individuais e mandando-as para grandes servidores, diminui-se o problema de “entendimento” entre as várias plataformas diferentes.
A natureza ajuda
Além de pensar no futuro do planeta e da humanidade, o conservacionismo ecológico também tem seu papel dentro da pesquisa de alta tecnologia. A BIONETS citada anteriormente, por exemplo, usa modelos baseados em dinâmica populacional, evolução e até mesmo processos químicos de macromoléculas para criar novas possibilidades de atuação computacional, como o computador de DNA ou mesmo as redes neurais, como as utilizadas em pesquisa de inteligência artificial.
Segundo a própria iniciativa BIONETS, eventos naturais podem servir não só de inspiração, mas principalmente de exemplo para a resolução de problemas que envolvem alto grau de complexidade. Isso é verdade, especialmente, em termos de relações ecológicas, em que um grande número de indivíduos diferentes entre si interagem com outras populações igualmente heterogêneas, em um cenário não muito diferente daquele imaginado para a Web2.
Significados, ao invés de termos
Outra característica que pode ser determinante para o advento da Web2 é a Web Semântica, conceito sobre o qual você encontra mais detalhes neste artigo do Baixaki. Para o pesquisador Pierre Lévy, por exemplo, deve–se criar uma “linguagem universal” para disponibilizar todos os conceitos da cultura humana em meio digital, de maneira independente de idiomas. Ou seja, para que a internet se torne ponte de conexão entre ideias – e não apenas entre documentos como é hoje – seria necessário poder acessar um determinado artigo chinês – em seu idioma original – e mesmo sem conhecer esta língua entender o texto. Mesmo que isso seja feito de forma conceitual. Além de Lévy, também o “pai da internet”, Tim Berners-Lee, atua nessa direção.
Quando chega o futuro?
Não se sabe, mas pode-se ter certeza que não deve demorar. Com os avanços científicos e tecnológicos acontecendo em intervalos cada vez menores, a qualquer momento a Web 2.0 pode ser elevada ao quadrado.