A fotografia é - como a origem grega do nome diz - a arte de desenhar com a luz. Curioso então perceber que muitas vezes as imagens mais bonitas não são completamente iluminadas, claras e com céus brilhantes. Além das horas intermediárias – nascer e pôr do sol – é comum encontrar fotos ímpares feitas à noite. Talvez justamente pela escassez da luz disponível, a fotografia noturna encanta, com seus fundos salpicados de pontos e traços de faróis.
Cuidados especiais
Antes mesmo de começar a falar de fotografia, deve-se sempre lembrar que as ruas das grandes cidades – mesmo durante o dia, mas especialmente à noite – não são totalmente seguras. Andar em grupo e evitar regiões reconhecidamente perigosas – parques e outras áreas não habitadas, por exemplo – são atitudes que podem garantir as belas imagens que você fará no decorrer de uma incursão fotográfica noturna. Como dizem os escoteiros: sempre alerta!
Outra coisa importante a levar em consideração é: se você mora no Sul do país, ou em outras regiões onde faz frio, levar um agasalho e uma térmica com uma bebida quente pode aumentar consideravelmente o conforto e o prazer em se fotografar à noite. Norte e Nordeste já não oferecem o mesmo problema, então quem mora nessas regiões já tem uma vantagem.
O que levar?
Claro que o equipamento para fotografar na calada da noite é bastante próximo daquele usado em qualquer outra situação. Câmera, lentes (para as dSLR e as micro 4/3), flash, cartão de memória, baterias extra (tanto para a câmera quanto para o flash, se você tiver acesso a iluminação externa à câmera) são o mínimo necessário.
Sobre a câmera, se você tiver condições, uma dSLR ou uma compacta que tenha opções de ajuste manual – em especial a velocidade bulb, que permite exposições com duração de horas – são ideais. Caso não tenha acesso a esse tipo de equipamento, descubra qual a velocidade mais baixa da sua câmera e se prepare para fazer suas fotos em função disso. Outra consideração necessária é a sensibilidade à luz do seu sensor. Para fotografar à noite é comum imaginar que se deve usar ISO alto deixando a câmera mais sensível, porém isso não é sempre verdade. Para se obter exposições realmente longas – chegando a durar a noite inteira, inclusive – ou até mesmo como experiência, vale a pena arriscar um valor ISO mais baixo.
Porém existem outras peças que podem facilitar muito – e em alguns casos são mesmo obrigatórias para – a obtenção de bons resultados. Logo de cara, o acessório principal para quem pretende fotografar à noite é o tripé. Como a condição de luz é muito precária, exposições longas são praticamente regra depois que o Sol se pôs. Como todo o resto, se você não tiver um tripé, além de ser possível improvisar apoiando a câmera em objetos que estejam no local, às vezes arriscar fotografar na mão pode oferecer resultados surpreendentes e criativos.
Com o tripé, outra coisa que pode ajudar – mas não é essencial, até por ser complementar às câmeras dSLR – é um disparador remoto. Seja por cabo ou sem fio, uma extensão dessas ajuda a prevenir trepidações na câmera, e normalmente permitem o uso do autofoco e de diversos modos de disparo.
Uma lanterna pode ser um bom substituto para o flash. Como os tempos de exposição são longos, é possível iluminar partes de uma cena e manter outras completamente no escuro, principalmente se você estiver afastado das luzes dos grandes centros. Naturalmente, uma lanterna pequena exige mais tempo para iluminar um objeto na fotografia, devido à sua baixa intensidade. Caso você escolha usar a lanterna como iluminação auxiliar, é válido levar também alguns recortes de papel celofane de diversas cores, para tentar um visual diferente nas suas imagens. Lembre-se também de que, ao contrário do flash – que ilumina uma área grande e de maneira relativamente uniforme – a lanterna serve principalmente para ressaltar detalhes e para dar efeitos dramáticos .
Um cronômetro pode ser seu melhor amigo – se você já tiver alguma experiência com fotometria principalmente – ao fotografar no período noturno. Caso a sua câmera tenha o tempo bulb de exposição, o sensor fica exposto enquanto o botão da câmera estiver pressionado (uma das funções do disparador remoto é garantir que você não precisará ficar horas com o dedo apoiado no botão), e o tempo de exposição deve ser controlado de alguma forma. Um timer ou alarme de relógio resolve o problema facilmente.
Tentativa e erro
Olha, fotografar à noite não é fácil. Não basta apenas contar com as luzes da cidade e pensar “ok, todos esses pontinhos de luz formam uma foto bonita”, pois não formam. Composição – o que você vai mostrar na foto – é essencial, bem como o cuidado com o tempo de exposição. Em câmeras com controle manual isso é bem mais fácil de fazer, mas mesmo as compactas podem entregar bons resultados. O mais importante é, com certeza, pensar em como você quer que a foto saia antes de apertar o disparador.
Em cenas com contraste muito alto – luzes muito fortes, como postes de rua – é uma boa ideia tirar as lâmpadas do enquadramento. Com isso, o resto do cenário tem uma visualização muito melhor, já que o clarão da iluminação urbana não roubará a atenção. Letreiros de lojas e bares, luzes mais fracas ou distantes, em contrapartida, oferecem cores e formas interessantes e podem transformar uma foto comum em uma imagem memorável.
Mas o principal é descobrir como a sua câmera se comporta fotografando nessa situação crítica. Treinar bastante, fazer várias fotos ruins para só então chegar a um resultado realmente agradável não tem nada de errado. A grande maioria dos fotógrafos faz isso o tempo todo, inclusive. Aproveite as oportunidades que tiver para testar configurações, modos de captura de imagem e também sua desenvoltura com todos os acessórios mencionados acima.
Temas no escuro
A quantidade de coisas que podem ser fotografadas à noite é tão vasta quanto os motivos para fotos diurnas. Paisagens, retratos, detalhes das ruas, tudo isso oferece muitas possibilidades justamente porque, à noite, mostra-se bem diferente do que as pessoas estão acostumadas a ver durante o dia. Explorar essa familiaridade estranha é um dos segredos da fotografia noturna.
A luz noturna
Assim como durante o dia o fotógrafo se preocupa com a posição do Sol, à noite é necessário prestar atenção na Lua e onde ela se encontra no céu. Apesar de a intensidade da luz ser bem menor, o luar também causa sombras, da mesma forma que a estrela mais próxima do planeta. Quanto mais alta no firmamento, a Lua gera sombras relativamente duras, curtas, marcadas e bem definidas. À medida que o satélite se aproxima do horizonte, as sombras se alongam e ficam mais suaves.
Outro detalhe importante: quanto mais próxima de prédios e outros elementos humanos a Lua estiver, maior ela parecerá em relação a estes. A fase do astro também importa, já que a intensidade de reflexão será menor fora da Lua cheia, e – para todos os efeitos – inexistente na Lua nova. Além disso, como as exposições são mais longas, quando o tempo com o obturador aberto superar dois minutos, a probabilidade de a Lua aparecer deformada aumenta, já que esse é o tempo aproximado que ela leva para percorrer seu próprio diâmetro no ciclo celeste .
Já as estrelas e os outros planetas praticamente não influenciam em foto noturna, a não ser como pontos de luz no céu. Entretanto, assim como a Lua, as estrelas também transitam na abóbada celeste, e, quanto mais afastado da linha do equador você estiver, maior é a percepção desse movimento. Muitas vezes, os riscos gerados pelas estrelas aumentam a dramaticidade da foto dando uma sensação de tontura. Porém nem sempre é esse o objetivo da foto, então atenção e cuidado são recomendados.
A longa exposição
Mesmo as câmeras compactas têm modos de longa exposição, e para fotografar à noite, ele é praticamente obrigatório. Dificilmente uma foto é feita em menos de 15 ou 20 segundos - por coincidência o tempo máximo de disparo de algumas compactas mais antigas. Com isso, é importante perceber que algumas características das fotos serão diferentes: movimentos estarão “borrados”, carros e outros objetos iluminados que se movam deixarão traços de luz, e a composição da imagem deve levar todos esses efeitos em consideração.
Como nesse tipo de exposição, o sensor recebe pequenas quantidades de luz durante um longo período, as cores representadas são bem diferentes das obtidas durante o dia. Mesmo que não sejam tão contrastadas – diferença entre claros e escuros – as imagens apresentam uma saturação bastante forte, com cores muito vivas. Isso deve ser parte da preocupação do fotógrafo noturno também, pois pode determinar um melhor ângulo para certas fotos, em busca de cores ainda mais vibrantes.
Nos tempos da fotografia analógica, os filmes usados para fotos noturnas tinham uma característica chamada grão. A imagem obtida nesses filmes parecida uma pintura pontilista, feita apenas encostando o lápis no papel. O sensor digital, entretanto, não dispõe da química que era responsável por esse efeito, e, como depende da luz para formar imagem, em condições de baixa iluminação alguns defeitos podem surgir. O conjunto desses problemas é conhecido por ruído.
Em câmeras mais modernas, vários sistemas eletrônicos e computacionais ajudam a evitar o aparecimento dos famosos pontos verdes e vermelhos característicos das fotos com problemas de ruído. O surgimento deles ocorre devido ao cálculo aproximado que a câmera realiza para tentar identificar informação visual em áreas do sensor que não receberam luz suficiente.
Outro tipo de ruído bastante comum em imagens noturnas deve-se ao superaquecimento do sensor. Como todo chip, o funcionamento ideal desse equipamento ocorre em uma determinada faixa de temperaturas. Já que as exposições noturnas são muito longas, o sensor passa muito tempo em funcionamento, superaquecendo. Ao contrário dos pontos verdes e vermelhos ocasionados pelo processador, o ruído gerado no sensor cria distorções de intensidade e contraste nas cores.
Para resolver problemas de ruído o ideal é utilizar um valor ISO mais baixo, que evita justamente a formação de pontos coloridos graças à ação do processador, e fotografar em RAW para tentar minimizar o impacto do sensor em aberrações de cor na imagem final. Caso sua câmera não ofereça essas possibilidades, fotografe na maior qualidade possível, para ter condições de tratar a imagem depois de descarregá-la para o seu computador.
A abóboda celeste
Perceba que fotografar à noite não é a mesma coisa que fotografar os corpos celestes que se mostram durante a noite. Fotografar os planetas, as estrelas e a Lua é uma atividade bem mais complicada, e exige uma série de equipamentos (pelo menos uma teleobjetiva e uma dSLR). Por isso você não vai encontrar grandes explicações sobre fotografia dos astros – nesse artigo pelo menos, mas quem sabe num próximo, específico sobre astrofotografia?
Invente!
Agora que você já tem uma ideia de como aproveitar ao máximo as noites para fotografar, que tal arriscar de alguma forma diferente? De todas as recomendações feitas nesse artigo, as únicas que você não deve deixar de lado nunca são as relativas à segurança. Todo o resto é relato de experiências que várias pessoas fazem, e quem sabe um dia alguém não usa a experiência que você ainda vai fazer para tentar ajudar outros a aproveitarem melhor seu equipamento fotográfico?
Mãos à obra! Junte seu equipamento, convide seus amigos e que você tenha noites excelentes fotografando o mundo de um jeito que ninguém vê fora da fotografia.
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