Às vésperas de comemorar seus 100 anos de atividade no Brasil – com a data se completando oficialmente em dezembro de 2017 –, a IBM realizou neste final de ano dois encontros com a imprensa para falar de alguns dos atuais projetos da companhia e também como eles veem o futuro da Tecnologia da Informação – inclusive para os profissionais da área. O TecMundo teve a oportunidade de comparecer a ambos os eventos e contamos abaixo tudo o que rolou por lá.
O primeiro bate-papo, realizado no final de novembro, contou com a participação de Marcelo Porto, presidente da IBM Brasil desde 2015, e de Mauro Segura, diretor de marketing da empresa. Na ocasião, embora a ampliação da utilização da nuvem nos setores comerciais, públicos e corporativos – e como isso viabiliza o surgimento de uma infinidade de novos negócios – tenha sido a mola propulsora da conversa, foram a capacidade e o número de recursos do Watson que dominaram todo o almoço.
Sistema inteligente
Para Porto, ambos os temas são extremamente próximos e evoluíram muito nos últimos tempos, fazendo com que sua junção desse origem a produtos cada vez mais afinados com o propósito da IBM em democratizar o acesso à tecnologia. Isso porque, em seu formato atual, o Watson age como uma plataforma, e não como um único item no acervo da empresa. Afinal, o sistema cognitivo se divide em centenas de microserviços na cloud que podem ser acessados dependendo da sua necessidade – e, muitas vezes, de forma gratuita.
Com os recursos certos, o objetivo é que tudo possa ser transformado em serviço
“Três ou quatro dessas APIs ou microserviços já são suficientes para a criação de projetos e produtos”, acredita o executivo, afirmando que esse modelo de negócios tem a capacidade de humanizar cada vez mais a experiência digital – tanto para empresários quanto para consumidores. Para ele, isso pode ajudar a colocar por terra a ideia de que um indivíduo ou uma corporação precisam possuir grandes ativos para ingressar no mercado. Com os recursos certos, o objetivo é que tudo possa ser transformado em serviço.
Mauro Segura e Marcelo Porto, da IBM Brasil
“É uma plataforma voltada para resolver e potencializar os negócios, dando as ferramentas certas para o profissional”, diz Porto ao falar sobre o Watson. Além disso, ele explica que, até mesmo para as grandes companhias, ter acesso a um sistema cognitivo tão robusto é algo essencial. Isso porque, quanto menos estruturados e fora do seu controle os dados estiverem, mais uma plataforma de assimilação de conteúdo – e que aprende a cada nova interação – tem valor como instrumento para “iluminar” as informações pertinentes.
Segundo o presidente da IBM Brasil, como os dados já estão se tornando o próximo grande recurso da humanidade, é primordial para qualquer negócio saber como pescar as melhores partes dessas informações para que seja possível realmente entender o seu público. “Com isso, até o perfil dos profissionais de TI deve mudar”, comenta Porto, acreditando que o profissional do futuro vai assumir muito mais um papel de curadoria e de adaptação de APIs, livrando o sujeito de tarefas mentais/intelectuais repetitivas.
Nova era da tecnologia
No segundo encontro, realizado na sede da empresa, em São Paulo, e chamado de “Inovação em Debate”, a empresa reuniu jornalistas e representantes de companhias parceiras da IBM para falar sobre as mudanças no mercado de tecnologia e como elas refletem a própria sociedade atual. A conversa foi apresentada e mediada por Frank Koja, VP Systems Hardware da IBM Brasil, e teve a participação de Boris Kuska, Solutions Architect Manager da RedHat Brasil, e Pietro Delai, analista do IDC Brasil.
90% das informações existentes foram geradas nos últimos dois anos
“O mundo está mudando, assim como a forma de interagir, trabalhar e fazer negócios”, acredita Koja, que também deu continuidade à fala de Marcelo Porto e ecoou a ideia de que os dados são o novo e mais importante recurso natural da atualidade. Quando se leva em consideração que 90% das informações existentes foram geradas nos últimos dois anos e que ao menos 60% delas são perecíveis – ou seja, se tornam obsoletas antes de serem utilizadas –, cuidar desse acervo tão delicado é uma tarefa progressivamente mais desafiadora.
Koja abrindo o evento na sede da IBM, em São Paulo
Com isso, a cloud é uma maneira natural de quantificar e filtrar esses dados, servindo como “um motor de transformação dos negócios”. Para o executivo da IBM, esse novo cenário permite que as pessoas não fiquem reféns das empresas – já que seu comportamento social e escolhas de compras e gastos no mercado são os fatores que direcionam o setor –, ao mesmo tempo que aumentam a competitividade e a oferta de serviços entre as empresas. “A cloud representa uma mudança radical na tecnologia”, explica.
Koja, no entanto, não é tão adepto da ideia de uma nuvem totalmente externa ou completamente fechada. Para ele, a solução mais realista é de uma cloud híbrida – que junta os melhores pontos das opções públicas, privadas ou de infra interna – baseada em uma plataforma aberta e colaborativa. Essa estratégia parece tão acertada que, nos últimos anos, 80% dos 100 principais clientes da IBM migraram dos mainframes tradicionais para opções rodando Linux – um sistema capaz de oferecer soluções sob medida para as empresas.
Brasil correndo atrás
Foi exatamente sobre esse tema que Boris Kuska discursou na conferência, afirmando que o open source está por trás de boa parte das tecnologias da atualidade e que essa inovação é essencial, diariamente, para qualquer empresa que queira se manter viva durante algum tempo. O executivo da RedHat contou que, hoje em dia, cerca de 1 milhão de projetos baseados em código aberto impulsionam soluções de Cloud, Big Data e Internet das Coisas – entre tantas outras.
“A cloud é a essência desse novo cenário tecnológico, mediando a lacuna entre demanda por inovação e capacidade de infraestrutura legada. Essa é a plataforma da Era Digital”, acredita Kuska, explicando que entre as vantagens do sistema está o fato de ele ser automatizado, escalável e ágil – aspectos decisivos para a migração das companhias para o Open Source Empresarial. Além disso, esse ambiente casa perfeitamente com a proposta da IBM de viabilizar o desenvolvimento de diversos microsserviços, módulos e APIs.
O trio de executivos em encontro com a imprensa
A tecnologia é o principal recurso do mercado
Para Pietro Delai, da IDC, tudo isso se junta para formar a atual Indústria 4.0, em que a tecnologia é o principal recurso do mercado. O problema é que, nessa nova realidade, o Brasil ainda está consideravelmente defasado e tendo que recorrer à terceirização de algumas etapas do negócio para se manter competitivo. Segundo Delai, “já é muito fácil passar o cartão para contratar um serviço”, mas, aparentemente, há uma falta de qualificação para que o fornecimento dessas soluções seja ainda melhor.
Isso fica claro tanto pelo momento que as empresas estão vivendo por aqui quanto pela própria defasagem do sistema de ensino em relação aos novos formatos, linguagens e oportunidades da tecnologia. De acordo com o IDC, por exemplo,73% dos CIOs – os diretores ou gerentes de TI – da América Latina acreditam que suas companhias ainda estejam no início de sua transformação digital. Exatamente por conta dessa etapa em que o mercado local se encontra, as ferramentas de cloud híbrida são as mais indicadas – e viáveis – no momento.
Pietro Delai, do IDC, trouxe estudos para mostrar a situação da TI no país
Investindo no conhecimento
No caso da educação voltada para TI, a situação é mais complicada, e isso na opinião dos três executivos que falaram no “Inovação em Debate”. Como há uma certa burocracia em renovar a grade de matérias ou atualizar o conteúdo passado em aula – muitas vezes para evitar que o governo acabe “apoiando” uma ou outra marca –, muitos dos profissionais recém-formados acabam entrando no mercado já desatualizados.
Assim, ao mesmo tempo que essas empresas vêm apresentando projetos para o governo federal para que esse cenário possa ser alterado no futuro, elas também trabalham por conta própria para oferecer recursos a entusiastas, iniciantes, estudantes e até veteranos buscando ficar a par dar últimas novidades do setor de tecnologia – ou pelo menos aptos a usarem os seus produtos sem muita dificuldade.
Investimento em ensino é essencial para o avanço da indústria
Congressos, sistemas de aprendizado por assinatura, cursos, aulas online e, claro, eventos de debate são algumas das “armas” utilizadas por nomes como IBM e RedHat, por exemplo, para aquecer a indústria e melhorar a formação dos futuros profissionais. Adicionalmente, o acesso a versões gratuitas dos principais serviços colaborativos ou baseados na nuvem – como é o caso do Watson e de algumas das distros corporativas do RedHat Linux – dessas marcas permitem que os mais interessados brinquem com as plataformas e aprendam naturalmente.
E você, tem sentido essas mudanças no mercado de TI? Sente dificuldades em se atualizar depois de sair da universidade? Acredita que o futuro da tecnologia está na nuvem? Deixe a sua opinião sobre o tema mais abaixo, na seção de comentários.
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