Alguns pesquisadores devem ter tido professoras no primário que pediam “Crianças, hoje vocês devem pesquisar a importância do solo na agricultura”, ou “descubram que acontece se uma pessoa para de respirar por muito tempo”. Este pontapé inicial na carreira de pesquisa dos jovens cientistas teve repercussões fortíssimas em toda a carreira destas pessoas.
Bater um papinho com engolidores de espadas para ver como eles estão, quebrar macarrão, explodir montanhas e medir suas consequências no meio ambiente. Até mesmo ficar em baixo de coqueiros esperando alguém ser atingido é válido para ver como, onde e por que isso acontece.
Tudo com método científico, vale lembrar. Nenhuma das pesquisas aqui apresentadas é falsa, e todas tiveram o objetivo de mudar o mundo para melhor. Nem que seja por umas boas risadas!
A sopa que nunca acaba
Imagine-se na frente de um prato de sopa de tomate, e você pode comer até ficar satisfeito. Normalmente um prato de sopa de tomate é o suficiente para satisfazer uma pessoa, mas e se a sopa não acabasse? Foi o que pensou o psicólogo nova-iorquino chamado Dr. Brian Wansink. Ele colocou um prato de sopa na frente das pessoas que estava estudando e manteve o nível de sopa constante por meio de tubos escondidos.
Resultado: as pessoas comeram 73% mais sopa do que normalmente, e o grau de satisfação após a refeição foi exatamente o mesmo. A lição aprendida foi nunca coma de uma fonte ilimitada de alimentos. Você vai acabar gordo!
Partindo macarrão
Faça a experiência em casa: pegue um fio de espaguete cru e tente aproximar as duas pontas. Ele vai se quebrar (obviamente). Mas espere! Ele se parte em dois lugares, deixando três pedaços separados. Por que ele não se quebra em um lugar só, como a maioria dos objetos?
Foi o que se perguntaram alguns cientistas franceses. Munidos de câmeras de vídeo de altíssima velocidade, eles filmaram centenas de fios de espaguete partindo-se e analisaram as imagens. Concluíram que a ruptura inicial causa uma onda de choque que percorre o espaguete e causa a quebra em mais um ou dois lugares. Não foram efetuados testes com molho bolonhesa ou quatro queijos.
Engolir espadas é uma prática segura
O radiologista Dr. Brian Whitcombe ficou abismado com a ausência de pesquisas sobre os efeitos de uma espada sendo inserida pela garganta (através da boca, de forma dita segura) e resolveu entrevistar cerca de 50 praticantes da arte de engolir espadas.
Além de concluir que nenhum dos entrevistados havia morrido engolindo espadas (uma descoberta fantástica, já que todos estavam vivos e dando entrevista), o Dr. Whitecombe percebeu que acidentes eram relativamente raros.
Mesmo uma dor de garganta era comum apenas em fase de treinamento, ou quando o artista realizava diversas performances em um curto espaço de tempo. Além disso, o uso de várias espadas ao mesmo tempo, ou espadas com formatos estranhos poderiam também causar desconforto e um pouco de coceira na goela.
Vale lembrar que os profissionais entrevistados são treinados na prática de engolir espadas. E não é só por que o Dr. Whitecombe disse que é seguro que você deveria experimentar. O Baixaki não incentiva a prática de engolir espadas!
Machucados causados por coqueiros
Pense na situação: você está calmamente tomando um suco sob a sombra de um coqueiro, aproveitando a vista do mar, quando subitamente, BAM! Acordando em um hospital com a cabeça enfaixada, você é informado que foi vítima do coqueiro que estava lhe fornecendo sombra.
Ele tentou assassinar você derrubando um coco em sua cabeça. Por sorte o doutor que estava de plantão havia lido um livro com uma tese sobre fraturas cranianas causadas por cocos. É uma situação meio estranha, mas já deve ter acontecido com bastante gente.
Aliás, gente o suficiente para que os cientistas J. S. Mulford, H. Oberli e S. Tovosia publicassem um artigo sobre acidentes causados por coqueiros nas Ilhas Salomão. Os estudos se utilizaram de acidentes acontecidos entre janeiro de 2004 e dezembro de 2009 (cinco anos de cocada na cuca) para descobrir que 3,4% de todos os procedimentos cirúrgicos efetuados nas ilhas decorriam de acidentes causados por coqueiros.
Durante as pesquisas, 85 pessoas caíram de coqueiros, 16 foram atingidos por cocos, além de coqueiros inteiros terem caído sobre três pessoas. Houve inclusive um caso relatado de cirurgia realizada por que a pessoa chutou um coco. Acidentes de trânsito nos quais as pessoas bateram em coqueiros com seus carros não foram computados.
A pesquisa ainda descreve a localização dos acidentes (queda de cocos é mais perigoso para a cabeça, coluna vertebral e membros superiores) e idade dos acidentados (crianças menores de dez anos não devem subir em coqueiros, sabiam?).
As pessoas são mais felizes no fim de semana
Aqui entramos na categoria “mas isso não era óbvio?”. Esta pesquisa, publicada em janeiro de 2010 no Journal of Social and Clinical Psychology (uma publicação que aborda psicologia clínica e social) pediu que 74 pessoas preenchessem formulários três vezes ao dia, dando informações sobre seu bem-estar físico e mental, bem como seu humor no momento.
Depois de 21 dias de informações coletadas, o veredito final: as pessoas tendem a se sentir melhor entre a sexta-feira à noite e o domingo de tardinha. Domingo à noite já estava todo mundo deprimido por que tinha que trabalhar segunda-feira! Incrível, não é mesmo? Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência, afinal, é só uma pesquisa!
Jovens que bebem demais podem se machucar
Aqui passamos da categoria “mas isso não era óbvio” e entramos na categoria “Ah, jure!”. Jovens e adolescentes americanos que costumam encher os canecos até cair em eventos sociais tendem a se machucar antes de perder a consciência.
Segundo Marlon Mundt, da Universidade de Wisconsin, “a chance de um jovem garoto se machucar devido ao consumo de bebida alcoólica aumenta em 19% em cada dia em que ele consome mais de oito drinks”. Ou seja, por essas contas, se um rapaz desavisado consome 40 drinks em cinco dias, ele tem quase 100% de chance de se machucar! Vou deixar a conclusão desta pesquisa falar por si mesma com a imagem a seguir:
Caso você não tenha reparado, o sujeito da foto está tomando cerveja diretamente apoiado em um barril. De ponta cabeça! Com esta brilhante demonstração de como a bebida pode tornar um evento social uma visita ao hospital, não são necessárias mais informações sobre a pesquisa.
Explodir montanhas faz mal para o meio ambiente
Em matéria de categorias de pesquisa, esta aqui está bem acima da categoria “Ah, jure!”, sendo enquadrada na categoria “Ahn? Acho que não entendi!”. Sim, porque deve haver uma pegadinha aqui. Isso não era obviamente... Óbvio?
De qualquer forma, a pesquisa foi feita, e chegou à conclusão de que as consequências do chamado Mountain Top Mining (MTM) são piores do que se imaginava. Além de arrancar todas as árvores da região da explosão e destruir cumes de montanhas em busca de carvão mineral, as grandes detonações poluíram os riachos com níveis tóxicos de selênio, e o ar com poeira que levava semanas para se dissipar e causava problemas respiratórios na população local.
A pesquisa, apesar de óbvia, não foi inútil. Baseado nela, o governo americano proibiu o MTM. Garanto que a fauna e flora locais agradecem. E as pessoas também! Viu como tinha uma pegadinha?
A internet brasileira não é o que deveria ser
Imagine a seguinte conversa em um atendimento de operadora de internet:
Cliente: Olá, minha internet está meio lenta. Vocês sabem me informar o que pode estar acontecendo?
SAC: Rá! Pegadinha do malandro! Você contratou uma internet de 5 Mbps, mas a gente só vai entregar uma de 3 Mbps, ok? E se dê por satisfeito, pois nós temos um contrato que diz que se você usar demais, nós podemos reduzir sua velocidade para um terço de 1 Mbps. O que, não leu o contrato? Azar o seu!
É um pouco exagerado (não muito), mas a situação real da internet brasileira deve ter estressado alguns estudiosos o suficiente para que eles fizessem uma pesquisa sobre o assunto.
Os pesquisadores do IDEC analisaram cinco operadoras de telefonia em seis capitais brasileiras, comparou preços, perguntou sobre variação de velocidade, mediu as velocidades efetivas, e deu o seu veredito: a internet brasileira é lenta e cara!
Os valores e velocidades possuem discrepâncias enormes, como uma operadora oferecer velocidades de 16 Mbps ao preço de R$ 199,90, ao passo que outra oferece apenas 1 Mbps por R$ 204,50. Sim, as cidades são diferentes, mas é justificável uma velocidade dezesseis vezes menor custar mais caro?
Apesar de óbvia, esta pesquisa está rendendo frutos. Uma fiscalização mais firme da Anatel e processos coletivos contra operadoras estão aumentando a competitividade e melhorando a qualidade dos serviços no Brasil. Quem sabe até 2030 nós tenhamos serviços de qualidade para aproveitar todas as tecnologias que estão por vir!
Muitas e muitas outras pesquisas
Pesquisas óbvias, bacanas, estúpidas e levianas são escritas e publicadas todos os dias. Você conhece alguma que não entrou na lista? Tem alguma indicação de onde podemos conseguir mais estudos como estes? Já tinha ouvido falar de algum destes? Deixe sua resposta nos comentários, e vamos criar um belo banco de dados de pesquisas malucas. Quem sabe um dia sirva para alguém pesquisar alguma coisa!