O 4K é algo que está em evidência há um bom tempo, com o mercado oferecendo uma boa seleção de TVs, monitores e outros equipamentos que suportam a resolução. Até mesmo o estonteante 8K começa a dar seus primeiros passos. Ao mesmo tempo, é interessante notar que a tecnologia está longe de se massificar e segue distante de apresentar uma solução completa aos consumidores. Para discutir o presente e o futuro do padrão, a Huawei trouxe ao Brasil, na última terça-feira (30), o seu Huawei Industry 4K Summit 2015.
Servindo como um grande fórum recheado de debates, palestras e mesas redondas envolvendo representantes do governo, figuras de destaque da indústria e imprensa, o evento foi realizado em um hotel em São Paulo e apresentou uma programação intensa que tomou conta de todo o dia. Segundo executivos locais e estrangeiros da empresa chinesa, a ideia foi realmente trazer sua experiência no setor, agrupar convidados de diversos segmentos e levantar respostas sobre o caminho a ser tomado para os vídeos em altíssima definição.
Quem deu início ao encontro foi John Xiong, presidente do segmento de operadoras da Huawei, que em seu discurso de abertura basicamente apresentou o fio condutor que iria se tornar a base de muitas das apresentações posteriores: é preciso haver um esforço conjunto para que a tecnologia seja levada da melhor forma aos consumidores. Para ele, em escala mundial, companhias de telecomunicações e TVs têm trabalhado para melhorar a qualidade, o alcance e a praticidade das transmissões 4K.
Xiong explicou ainda que é praticamente um consenso no mercado o fato de o vídeo ser visto como o futuro da comunicação. A procura e o acesso a esse tipo de conteúdo têm crescido cada vez mais, ocupando boa parte do tráfego das redes de internet fixa e mobile. Isso torna ainda mais importante o papel da tecnologia, uma vez que a imersão que ela proporciona ao público dá a chance para que ele se sinta mais próximo do material que está sendo reproduzido na tela, podendo revolucionar a experiência de conferir eventos como a Copa do Mundo.
Requisitos mínimos
Por mais bonito que tudo isso seja no papel, aparentemente é preciso um esforço descomunal para que os consumidores partam dos estáveis – e mais baratos – padrões HD e Full HD para o badalado 4K. Para que isso aconteça da forma mais suave possível e também para que os usuários sejam estimulados a se arriscar nesse novo território, o executivo chinês compartilhou algumas das diretrizes vistas como essenciais para atingir esse objetivo aos olhos da Huawei. A companhia acredita que, para quebrar qualquer barreira, é preciso entregar o melhor.
De acordo com Xiong, o conceito se divide em três: 1) Best Experience, isto é, oferecer a programação de forma instantânea, sem esperas ou interrupções na transmissão; 2) Best Network, que diz respeito ao investimento na infraestrutura para que o consumidor tenha uma rede de dados preparada para a exibição de material 4K; e, claro, 3) Best Operation, ou seja, integrar os melhores serviços relacionados à tecnologia, basicamente ditando que, baseadas no Big Data, as empresas ofereçam exatamente o conteúdo que o cliente quer ou precisa.
Entre esses fatores, um que mereceu destaque tanto na palestra do executivo como de outros convidados do Summit foi a necessidade de que a internet tenha a largura de banda necessária para realizar sem engasgos a transferência massiva de informações geradas por produções em vídeo de alta resolução. Lá fora, principalmente na China, a Huawei afirma estar trabalhando com um parceiro no projeto de uma “Ultra Broadband” que varia seu pico de velocidade dependendo do que está sendo acessado pelo cliente.
Assim, se for detectado que o consumidor deu início a um vídeo 4K, por exemplo, o provedor libera uma dose extra de potência para a conexão, permitindo que os valores necessários para que a reprodução aconteça sem problemas fique ativo rapidamente. Caso contrário, a internet pode ficar em uma média mais humilde para navegação comum ou mesmo para que seja possível conferir clipes em 1080p – ações que exigem menos do plano de dados. Aqui no Brasil, porém, a perspectiva ainda é outra e os planos para o futuro próximo são mais realistas.
Corrida intensa pela tecnologia
Para comentar exatamente sobre esse assunto quando falamos da internet em escala nacional, foi chamado ao palco em seguida José Gontijo, diretor do Departamento de Indústria, Ciência e Tecnologia da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações (MiniCom). Para começar, ele explicou algo que pode parecer óbvio, mas passa despercebido por muita gente: cada nova tecnologia implementada apresenta uma nova camada de desafios – em cima dos já existentes – para os setores de infraestrutura e produção de conteúdo.
Para exemplificar isso, Gontijo revelou que, enquanto o mercado brasileiro começava a ficar confortável com a ideia da preparação para o Full HD, o 4K já começava a despontar no horizonte, indicando que a corrida contra o tempo iria se intensificar ainda mais no futuro. A demanda por tráfego de dados tem crescido de uma forma nunca antes vista, com os segmentos de TV, internet e serviços exigindo cada vez mais banda a um passo que a implementação da base para tudo isso não consegue acompanhar.
Da parte do governo, as principais ações para contornar esse gargalo e, de quebra, ampliar o alcance da conexão banda larga pelo país têm sido o investimento em backbones adicionais e a construção de novos data centers em território brasileiro. Para o diretor, as oportunidades para o setor, em todos os níveis, são gigantescas, mas exigem uma ultra banda larga para que efetivamente funcione por aqui. O cabo submarino entre Brasil e Europa, a utilização de satélites de banda KA e outras medidas pontuais devem dar uma ajuda nesse sentido.
A expectativa é que a média de conexão nacional passe dos 5,5 Mbps de 2014 para pelo menos 25 Mbps até 2018 – basicamente expandindo a rede de alta velocidade para locais mais afastados dos centros urbanos, alguns com conexões discadas até hoje. Ao mesmo tempo, a perspectiva para o futuro breve é que novos conceitos de tecnologia contribuam com uma dose extra de desafio. É esperado, por exemplo, que cada cidadão tenha em média sete terminais de acesso à rede além do celular quando a Internet das Coisas se popularizar localmente.
Competição pode atrasar o calendário
Em relação ao desenvolvimento do segmento 4K no Brasil, Gontijo acredita que o básico para que isso seja levado à frente é o domínio da tecnologia de fibra ótica, já que ela é o tipo de conexão mais adequado para fornecer a largura de banda necessária para a transmissão de conteúdo nessa resolução. Durante sua apresentação, ele explicou que o governo está empenhado em viabilizar esse tipo de infraestrutura, mas que, como em outras situações, o investimento é moderado, para que a ação governamental não desequilibre o mercado.
Assim, é preciso que o setor privado seja o grande responsável por aplicar esse segmento e atualizar as redes do tipo. Em uma conversa posterior, feita com o diretor, executivos da Huawei e outras figuras do mercado, Gontijo se aprofundou um pouco mais no assunto. Sob a sua ótica, a concorrência ferrenha entre as grandes operadoras no país – reproduzindo o que acontece lá fora – acaba criando uma barreira adicional para a velocidade com que esse tipo de iniciativa se alastre de modo mais uniforme e, claro, rápido pelo Brasil.
Não há dinheiro para investir em tudo ao mesmo tempo, quadruplicado, só porque existem quatro operadoras no Brasil
Um exemplo disso é que as empresas de telefonia e provedores de acesso já investem de forma agressiva – com valores astronômicos – no setor, mas o modelo de competição utilizado é redundante e anda brecando avanços maiores. Não é difícil conferir nos grandes centros cabeamento e torres de distribuição de dados de diferentes operadoras em pontos muito próximos, oferecendo os serviços dessas empresas para os mesmos consumidores, ao mesmo tempo. Será que isso é mesmo necessário?
“Do ponto de vista comercial, talvez sim, mas do ponto de vista de eficiência de engenharia da rede tem que ser mais eficiente. Não há dinheiro para investir em tudo ao mesmo tempo, quadruplicado, só porque existem quatro operadoras no Brasil”, explicou Gontijo. No mundo ideal, cada uma entraria em uma região e compartilharia a infraestrutura com as outras, permitindo um alcance e lucros maiores para todas. Porém, do modo atual, “a gente vai chegar lá [no 4K], só que em vez de chegar em um horizonte de 5 anos, vai ser em um de 20 anos”.
O país do futuro?
Para discorrer um pouco mais sobre o tema da importância da internet no desenvolvimento do país e na popularização do 4K, José Augusto Neto, CTO da Huawei, subiu ao palco e revelou alguns dados coletados pela empresa. Para avaliar melhor a influência dessas tecnologias, a chinesa criou o Ranking GCI (Global Connectivity Index), que é basicamente um índice feito para medir o potencial das sociedades que estão conectadas digitalmente pelo mundo. Assim, é possível ter uma visão quantitativa do benefício da conectividade atualmente.
Entre as 50 nações analisadas no estudo, os Estados Unidos ficaram como número um dessa integração, enquanto o Brasil ficou lá para a metade da listagem. Ainda assim, a perspectiva para o mercado brasileiro é boa, já que somos o 4º lugar entre os países em desenvolvimento, provando que a região é propícia para crescimento futuro. Essa é uma boa notícia, já que a estimativa da indústria é que, a cada 20% de investimento em tecnologia de informação, o país tenha um ganho, em média, de 1% no Produto Interno Bruto (PIB).
A nova encarnação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), um projeto do MiniCom, deve fazer com que o Brasil se torne um terreno ainda mais interessante para investimento de companhias internacionais. Da parte da Huawei, José Augusto revela que a empresa está trazendo know-how e tecnologias levantadas em outros mercados para auxiliar na popularização da ultra banda larga e, por consequência, na preparação para a transmissão do conteúdo em 4K.
Uma das principais ações é aproveitar a estrutura já estabelecida de redes legadas – como as de fios de cobre que cobrem boa parte do país – para habilitar conexões de alta velocidade, reduzindo drasticamente a necessidade de se injetar dinheiro em uma substituição do material atual. Ainda que essa não seja a resposta definitiva para a conectividade, é um modo de ganhar tempo e qualidade até que a malha de fibra ótica possa se espalhar em mais locais ou, pelo menos, para as principais centrais de distribuição.
Mesmo em relação à fibra, o executivo revela que a Huawei está tentando expandir os limites atuais da tecnologia. Enquanto a transmissão de dados de até 400 Gbps já é algo real nesse tipo de rede há algum tempo, uma demonstração recente da empresa em parceria com uma operadora da Bélgica conseguiu estabelecer uma taxa de transferência de até 1 Tbps em cima da mesma infraestrutura. Efetivamente, a companhia vem oferecendo soluções para que o desenvolvimento brasileiro ocorra de forma mais gradual.
Desafios do novo formato
O Huawei Industry 4K Summit 2015 trouxe ainda palestras extremamente técnicas do ponto de vista de quem trabalha nos bastidores da indústria, seja a missão hercúlea de reduzir cada vez mais a demanda que a transmissão de vídeos em 4K têm sobre as conexões de internet ou mesmo os sacrifícios que precisam ser feitos pelos desenvolvedores da tecnologia atual para garantir que haja compatibilidade de formatos. Afinal, é preciso que modelos atuais e futuros sejam compatíveis para que haja uma migração tranquila da base de usuários pelo mundo.
Porém, para trazer informações mais palpáveis do mercado, o destaque foi um painel de discussão com representantes de diversos setores falando sobre as oportunidades e os desafios do 4K. Como não poderia deixar de ser, a bola da vez, novamente, foi o aspecto colaborativo para que o padrão se torne naturalmente mais aceito e que isso ocorra de forma mais rápida. Um dos profissionais mais experientes no palco, Benjamin Silva, vice-presidente global de soluções em vídeo da Huawei, deu seu parecer sobre o tema.
Silva veio do segmento de entretenimento para o de tecnologia para fazer a ponte entre esses dois mundos, e foi incisivo ao dizer que “o 4K é muito mais do que vídeo. Quem não abraçar a tecnologia vai morrer, não apenas ficar para trás”. Segundo ele, tanto Hollywood como a indústria de jogos estão aplicadas em catapultar o padrão, isso sem falar da aliança com recursos como realidade virtual e realidade aumentada, que oferecem experiências únicas ao público. A tendência é que os usuários exijam serviços que suportem esse conteúdo.
Kirssy Valles, da Harmonic, falou sobre o trabalho árduo de desenvolver algoritmos e codecs cada vez melhores para a compressão dos arquivos em 4K. Atualmente, dependendo do estilo de 4K utilizado – isto é, de acordo com a taxa de atualização de quadros – o formato pode chegar a exigir conexões de até 60 MB, com picos ainda maiores para o início da reprodução. O objetivo, atualmente, é fazer com que o bitrate necessário para transmissões comuns em altíssima resolução chegue a menos de 20 MB muito em breve.
O Brasil está se preparando
Do ponto de vista de produção de conteúdo, as empresas realmente estão investindo tempo e dinheiro para fazer com que a tecnologia caia no gosto do público e os telespectadores tenham ao que assistir em suas TVs ou monitores 4K. Mas será que isso só ocorre fora do país? Negativo! O Brasil também está de olho no segmento, com a Globo assumindo a dianteira ao já disponibilizar algumas séries e filmes do seu catálogo nacional no formato. Segundo Paulo Henrique, diretor de telecomunicações da emissora, o padrão é mais do que bem-vindo.
Respondendo a perguntas durante o bate-papo, ele revelou que praticamente toda captura de vídeo do canal já é feita na máxima qualidade possível – com o material sendo reduzido para antes da transmissão aos consumidores. Assim que houve a popularização do 4K, a ideia é que a empresa tenha a oportunidade de repassar essa qualidade para seu público. Paulo Henrique explicou que o volume de dados e o processamento necessário para o processo é muito maior, mas já é possível para a Globo produzir todo seu conteúdo no formato.
O “porém”, de acordo com ele, é que ainda falta uma boa infraestrutura para que os telespectadores possam receber o material. O comentário foi complementado por Erick Soares, da área de Professional Solutions da Sony Brasil. O profissional afirmou que há tanto a produção de peças 4K como a oferta de aparelhos com suporte ao modelo, assim, é preciso basicamente do trabalho das operadoras para fazer o meio de campo e ligar as duas pontas do mercado.
Considerações sobre o setor
Para finalizar, Alan Hu, diretor técnico da Huawei, exemplificou como a tecnologia de vídeo tem mexido no mercado mundial, principalmente no europeu. Por lá, diversas empresas de telecomunicação e operadoras de telefonia e internet estão fazendo aquisições estratégicas para se aproveitar do 4K. A estratégia não envolve nenhum grande segredo do mercado e, se deixarmos de lado as quantias envolvidas, é relativamente simples.
Essas companhias constroem toda a infraestrutura de conexão via fibra de alta performance, atraem os consumidores ávidos por uma internet veloz e constroem uma base de usuários sólida. A partir daí, são feitas ofertas por grandes produtoras de conteúdo, com programas e serviços servindo de chamariz e alavancando ainda mais os negócios dessas companhias, criando um ciclo de consumo bastante interessante.
Segundo Hu, as empresas europeias chegam a afirmar que o 4K é a prova das vantagens da fibra, dando a oportunidade para que essas empresas possam competir de igual para igual com gigantes da TV a cabo, por exemplo. Esse cenário parece ideal para sobreviver em um mercado altamente competitivo, descrevendo exatamente o que ocorreu com nomes como a British Telecom, que esteve sufocada por um tempo, mas após se tornar produtora de conteúdo com os canais da família BT Sports, abriu um leque de possibilidades à sua frente.
Resta conferir como essa história vai se desdobrar no ambiente nacional quando todas as ações sendo realizadas para alavancar o 4K finalmente se tonar mais encorpado – algo que certamente ainda tem um bom caminho a ser percorrido. Qual sua opinião sobre a tecnologia? Você já possuiu o equipamento necessário para reproduzir o formato? Acredita que o conteúdo ainda seja muito reduzido para despertar seu interesse? Deixe seu comentário abaixo.
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