Pouquíssimas coisas refletem tão bem o significado de "liberdade" quanto uma longa viagem que atravessa diversos países. Filmes como "Diários de Motocicleta" e "Sem Destino" retratam histórias de pessoas que fizeram do meio de transporte um fiel escudeiro para botar o pé na estrada em busca de um propósito maior.
Na vida real, empreitadas como essas são encaradas por pessoas que fazem parte da cultura overlander. Este pessoal se enfia dentro de jipes ou sobre motocicletas – e até mesmo bicicletas! – para cruzar países e continentes do globo.
Em 2012, o norte-americano Alex Chacón tinha acabado de se formar na Universidade do Texas quando resolveu vender seu carro, TV e roupas para comprar uma moto e se lançar em uma grande viagem: saiu dos Estados Unidos, desceu até o Ushuaia e subiu novamente até o Alasca, voltando para seu país de origem no final.
Da América para 50 Mundos
Depois do "diários de motocicleta" moderno de Chacón, temos agora um brasileiro que resolveu embarcar em uma jornada ainda maior. Sergio Plumari é o nome por trás do projeto 50 Mundos, e ele e sua motocicleta irão além da América: eles vão dar uma volta ao mundo, com saída marcada para o final do mês de agosto.
Sergio Plumari: ex-executivo e aventureiro
Entrevistamos Sergio para saber mais sobre a aventura: sua história antes de decidir pegar a estrada e rodar o mundo, a preparação da viagem e também do próprio piloto – física e psicologicamente –, a reação da família e dos amigos e as expectativas acerca da viagem.
O paulistano passará 50 países – daí o nome do projeto –, totalizando algo em torno de 90 mil quilômetros rodados ao longo dos 500 dias previstos para a duração da jornada. Ele vai viajar por estradas emblemáticas do mundo, incluindo a temida "estrada da morte" na Bolívia e a rota 66 nos Estados Unidos.
Um histórico de aventuras
Enfrentar a estrada, no entanto, não é novidade para o ex-executivo: ele já rodou mais de 100 mil quilômetros em suas diversas expedições de jipe e moto pela América, em destinos como o deserto do Atacama e a Patagônia (tanto a parte chilena quanto a argentina).
Fora das duas ou quatro rodas, Sergio também já escalou o vulcão Villa Rica, no Chile – um currículo que sustenta o espírito aventureiro de um homem que resolveu mudar radicalmente sua vida profissional há dois anos.
Esse histórico também serviu, de certa forma, para amenizar o impacto do comunicado da nova aventura – um patamar completamente novo para Sergio. A inspiração para a viagem veio de um livro chamado "Mundo por Terra" que, segundo o viajante, o instigou no planejamento e na reviravolta em sua carreira profissional.
"Não quero ser herói"
Existem diversas histórias de pessoas que resolveram jogar tudo para o alto e cair de cabeça em uma viagem (às vezes sem rumo), e os motivos podem ser os mais diversos.
Alguns consideram a atitude uma loucura, mas ela pode ser vista também como uma ode à liberdade e à busca por um significado maior para a vida – a busca pela felicidade plena.
A família do aventureiro ficou dividida: enquanto os filhos (e filhas) apoiaram a ideia, a mãe de Sergio não aceitou muito bem no início – situação que já foi revertida, segundo o paulistano.
Ele não quer ser visto como herói ou qualquer coisa parecida, mas é inegável que a história acaba se tornando uma inspiração.
Dois anos de preparação e planejamento
Foram dois anos de preparação, planejamento e organização do projeto 50 Mundos. Sergio fez cursos de mecânica, técnicas de pilotagem offroad – para enfrentar a terra, areia e água –, preparação física para aguentar as longas horas sobre a moto e um curso de fotografia para garantir que tudo seja registrado da melhor forma possível.
Preparação física intensa e treinos de pilotagem offroad: tudo para encarar a volta ao mundo apenas na companhia da moto
Durante a viagem, ele fará seus descansos acampando, dormindo em hostels ou na casa de pessoas que se voluntariaram para recebê-lo. Nas travessias intercontinentais, a moto vai junto: seja de avião ou de navio.
Um ponto importante no planejamento da viagem foi a época em que a aventura começaria: apesar de estar planejada para o começo do ano, alguns problemas acabaram postergando a saída para o final do mês de agosto. Isso significa que Sergio pegará boa parte do inverno no hemisfério norte.
Os riscos, momentos especiais e os resultados
O frio e a neve não serão os únicos percalços enfrentados pelo motociclista durante a aventura: o trajeto previsto passa por alguns lugares tidos como violentos e perigosos. O extenso planejamento, no entanto, também foi feito pensando nisso: rotas alternativas foram elaboradas, e o motociclista tomará os devidos cuidados – evitando pilotar à noite, por exemplo.
Tudo deverá ser compensado por dois momentos que serão particularmente especiais na aventura de Sergio: a passagem pela cidade de Regalbuto, na Itália – de onde os pais do paulistano saíram para vir ao Brasil –, e a chegada à Austrália, onde uma das filhas do aventureiro está morando há 6 meses.
Toda a trajetória do 50 Mundos será contada em um livro, que Sergio pretende escrever assim que retornar ao Brasil. Durante a aventura, o público poderá conferir o diário de bordo do motociclista – e sua posição em tempo real – no site oficial ou na página do projeto no Facebook.
Confira a entrevista, na íntegra
MegaCurioso: Sergio, qual é a sua história antes do projeto 50 Mundos?
Sergio Plumari: Fui executivo de grandes companhias da área odontológica. Comecei nesse mercado quando tinha 18 anos e terminei meu ciclo em janeiro de 2015. Sempre planejei minhas férias para conseguir sair por 30 dias, e nesse período fiz minhas expedições pela América do Sul, de jipe e moto.
MC: E como surgiu a ideia de fazer uma volta ao mundo sobre uma motocicleta?
SP: Tudo começou quando eu comprei minha primeira Land Rover e saí sem destino certo, margeando o litoral. Acabei chegando a Natal e aí não parei mais: Atacama, Patagônia, Peru e muito mais. Rodei mais de 100 mil quilômetros pela América.
MC: Quanto tempo de você levou para organizar, planejar e financiar a aventura? Você contou com a ajuda de parceiros?
SP: Trabalho no projeto há dois anos, mas o sonho tomou forma mesmo quando senti que minha vida profissional precisava de mudanças.
O sonho se tornava realidade, então fui em busca de formar minha primeira equipe para dar os próximos passos. Contei e conto com apoio de empresas parceiras e amigos.
MC: Um americano chamado Alex Chacón fez, em 2012, uma expedição que viralizou na internet, saindo dos Estados Unidos sozinho em uma moto, indo até o Ushuaia e retornando para o extremo norte do Alasca. Essa história te inspirou de alguma forma?
SP: Sei quem é, mas não foi ele que me inspirou – mas a viagem dele é bem legal. Meu sobrinho me deu um livro chamando “Mundo por Terra” do Roy [Rudnick, brasileiro e aventureiro] e da Michelle [Weiss, companheira de Roy], e eles deram a volta ao mundo em um Jipe.
Li o livro em três dias e foi ele que me fez sonhar com uma volta ao mundo de motocicleta. Comecei a planejar no dia seguinte.
MC: Você tem ideia de qual será a duração da viagem e quantos quilômetros serão percorridos?
SP: Na planilha está dando 500 dias, podendo ser mais ou menos – não tenho compromisso com o tempo. Rodarei em torno de 90 mil quilômetros.
MC: Quais são equipamentos essenciais que você vai usar? Começando pela moto, é claro!
SP: Eu sempre fiz questão de usar equipamentos de ponta em minhas aventuras, e essa não poderia ser diferente. Escolhi a melhor moto para esse tipo de aventura com todos os equipamentos de segurança que posso levar.
Usarei um colete air bag e roupa com proteções, além de luvas e botas impermeáveis. Toda esta parte da moto e equipamentos foi assistida por um de meus parceiros, que me deu total consultoria: Doctor Myro!
MC: Existe algum lugar que você queira ver muito durante a viagem?
SP: O projeto tem alguns pontos fortes para mim: em um dos capítulos dessa história, eu passarei pela pequena Regalbuto, uma comuna Siciliana, de onde vieram meus pais e onde está a minha ancestralidade.
Regalbuto é uma pequena cidade no sul da Itália. Foi lá que meus pais, a Santa e o Vito, nasceram e se conheceram. Com vinte e poucos anos cada um, vieram para o Brasil. Ele primeiro, depois ela.
A pequena Regalbuto, com o Monte Etna ao fundo
Voltar a Regalbuto se torna ainda mais especial nessa viagem. É um recomeço da minha própria história, de uma nova etapa de vida que estou buscando, mas sem esquecer de onde tudo começou.
Outro momento forte para mim será encontrar minha filha Daniela, que há 6 meses está morando na Austrália. Estar com ela na última etapa da minha jornada, antes de enviar a moto para a América do Sul novamente, será mágico.
MC: Você vai passar por estradas conhecidíssimas durante toda a aventura, mas uma delas está logo no início da viagem e chama bastante a atenção: a "Estrada da Morte", na Bolívia. O que ela tem de tão especial? Existe alguma outra tão perigosa quanto ela?
SP: Outro ponto forte da viagem será percorrer as 10 estradas mais incríveis selecionadas por mim.
A primeira será a “Estrada da Morte“ na Bolívia. Ela é considerada uma das mais perigosas do mundo por serpentear a montanha a mais de 4.500 metros de altitude sem proteções e por ter 3 metros de largura, dificultando muito quando se encontra um caminhão para dividir a curva. A vista e a adrenalina compensam o medo.
"La carretera de la muerte" - a estrada da morte, na Bolívia, será um dos trechos pelos quais Sergio vai passar
MC: De forma geral, quais são os maiores perigos considerados por você durante a aventura?
SP: Não sei avaliar bem isso, mas acho que corremos riscos em qualquer lugar do mundo, principalmente quem anda de moto. Meu foco está em não correr riscos desnecessários, como evitar pilotar à noite e não dar bobeira em regiões violentas. O maior perigo é eu querer fazer isso tudo de novo! (risos)
MC: Depois da viagem, o que vai acontecer? Você pretende escrever um livro, fazer um documentário? Com certeza você terá algumas boas histórias para contar...
SP: Não sei como estarei pensando na volta. Acho que vou mudar muito a forma que vejo tudo hoje, alias, já mudei desde que comecei a planejar, mas eu quero escrever um livro sobre tudo o que vivi e também um livro de homens de 50 anos que encontrarei no caminho.
MC: Vai existir alguma forma de o público conferir o andamento dessa aventura toda? Alguma transmissão online, vlogs, posts no Facebook?
SP: Vai sim! Tenho uma página no Facebook para o 50 Mundos e estamos finalizando o site/blog para todos seguirem o diário de bordo que quero fazer. Estou levando um dispositivo chamado SPOT, que vai dar de tempos em tempos minha localização em tempo real.
Para conferir tudo sobre a aventura e acompanhar todas as etapas da viagem de Sergio, não deixe de conferir a página oficial do projeto 50 Mundos!
Via MegaCurioso.
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